Testemunhos do Evento na Aula de Academia Sénior de Penamacor
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Testemunhos recolhidos no evento de participação realizado na aula de "História Regional e de Penamacor" e "Antropologia e Cultura Geral" da Academia Sénior de Penamacor, orientada pelo Professor Francisco Abreu, em fevereiro de 2024.
Casa do Povo
1. Uma senhora
Era garota quando a Casa do Povo foi construída. Onde fizeram a Casa do Povo era um barrocal e o mercado de gado (não só porcos, realizado ao ar livre; também chegou a funcionar ao pé do Bairro 1.º Maio), ia à escola e passava por ali. A Casa do Povo foi feita na mesma altura da esquadra. Perto era o celeiro (agora requalificado), as sementes eram trazidas pelos carros de bois. Terrenos da Casa do Povo eram da CMP.
2. Outras pessoas (vários testemunhos)
Mercado animais passou para ao pé do cemitério, junto das escolas (depois, quando acabou)
Antigamente o soalho da Casa do Povo era de madeira; uma senhora recorda-se de lavá-lo com escovas.
A Casa do Povo era usada para festas, casamentos, batizados. O acesso era fácil para qualquer pessoa, sem afinidade política, mas era necessário ser sócio e pagar quotas.
Antigamente, ia-se à Casa do Povo ver TV e fazer jogos, porque não havia nas casas; reuniam-se e passavam o serão.
A Casa do Povo tinha serviços médico-sociais da Caixa de Previdência, no final dos anos de 1950 e até à criação do Centro de Saúde, nos anos 70 (mais tarde, estes serviços médicos foram integrados nos Centro de Saúde).
O atual Centro de Saúde foi escola primária (partilharam uma fotografia da construção).
Portanto, o edifício tinha usos lúdicos e de assistência (apenas para os associados que pagavam as quotas).
Disposição: entrava-se na porta, tinha um corredor e havia 3 ou 4 salas (gabinete da enfermeira e de consulta; o médico só estava de manhã; havia 4 médicos), arrecadações, e salão. Hoje o espaço é amplo, apenas um salão, e tem cozinha e casas-de-banho. Transformação do espaço, retirando os gabinetes: ninguém se recorda de quando ocorreu.
Em termos de conforto e espaço, os gabinetes médicos eram bons, “do melhor”.
Valência de convívio: realizavam-se muitos banquetes de casamentos (eram as noivas que tratavam disso, com ajuda da vizinhança e familiares, que arrumavam e organizavam), as refeições eram trazidas de fora, confecionadas noutro edifício. Hoje organizam bailes (ocorre ao 1.º domingo do mês) e festas de aniversário no salão, é muito raro celebrar casamentos. É o maior salão de Penamacor. Antes havia clubes – o clube para cinemas e bailes está atualmente em obras [Teatro Clube], estava equipado para projeção de filmes.
A Casa do Povo teve a primeira grande ampliação na década de 1960. Posteriormente serviu para as festividades indicadas até c. década 1980. Nessa altura tomou posse da presidência o Major José Esteves Robalo, que procedeu a obras de ampliação na parte posterior, onde fizeram uma grande arrecadação e a cozinha. Continua a servir para eventos diversos; uma das alunas, D. Ana, instituiu as matinés dançantes abertas a toda a comunidade há doze anos; todos os meses têm decoração alusiva a temas e épocas do ano em que se vive; todos contribuem monetariamente quanto entendem para pagar ao artista convidado e fazem bolos para o lanche. Já fizeram ofertas para os bombeiros, creche, lar de idosos (juntam donativos); consideram-se uma família e valorizam o convívio para o bem-estar e qualidade de vida. São, sobretudo, pessoas dos 30 aos 80 anos.
Espaços de diversão: havia o Grupo Desportivo de Penamacor e o Teatro Clube, criado com o Estado Novo (?) (“o clube dos ricos”; a Casa do Povo era “clube dos pobres”). Formou-se a ADEP (Associação Desportiva Penamacorense) após o 25 de abril, juntando os clubes.
Antigamente havia serviços de proteção social na Casa do Povo. Pessoas que descontavam para a Casa do Povo ainda hoje têm reversão desses descontos na pensão; consideram um fator muito importante como complemento na reforma dado que não havia segurança social na altura.
Mercado
Construído por iniciativa da Câmara Municipal de Penamacor (CMP).
O edifício foi inaugurado no dia em que uma das senhoras entrou para a Câmara, dia 8 de dezembro de 1980, há 44 anos. Já era presidente CMP José Pinto.
O edifício foi construído durante o mandato de António Moutinho. “Quem fez aquilo foi o Lourenço.” Havia zonas antigas, como o poço (cisterna muito antiga), não interessava estragar o que existia.
Enquanto aluno da Escola primária, ali perto, recorda-se de trabalhadores a escavar a vala paralela ao muro de sustentação do mercado, e a bola caía para a vala – tinha c. 9 anos durante as obras. Para pedir a bola tinha de prometer que “se dessem a bola, pagava um copo de vinho na taberna dos meus pais”. Tem memória de fazerem o desaterro. Há muita humidade na parte de baixo, devido à cisterna. Obra durou muitos anos (tal como sucedeu com os CTT); havia cabine elétrica na esquina.
O mercado já funcionava antes da inauguração. Alguns agricultores da terra levavam os seus produtos, antes do 25 de abril. Fez reportagens da praça. Paralelamente funcionava a feira de gado. Vendia-se sobretudo hortícolas, e talvez alguns frangos e ovos. Havia até vendedores de peixe.
Havia muito mais vendedores antigamente, agora quase não há. Havia muita procura. Muito sucesso nos anos 80/90. Decadência há c. 15 anos. Desertificação, supermercados grandes, ASAE/normativas de higiene e de obrigação de vendedores estarem coletados (Comunidade Europeia), abandono da agricultura, são razões para o declínio atual. Agora há mercados em todas as aldeias, dispersam-se e perdeu-se a centralidade e concentração em Penamacor (para além das feiras) – mas esses são diferentes, com roupas, sapatos, gado, etc., realizados de 15 em 15 dias, e não de hortícolas como no Mercado (chamado popularmente como “a praça”). O edifício foi terminado no tempo do dr. António Moutinho. Nessa altura houve litígio com o projetista: a CMP colocou como condição que cota do telhado não fosse superior à do jardim público “para não cortar com as vistas”, no entanto foi construído sem ter isso em consideração (não foi contemplado, só se notou depois da obra já feita e naturalmente não se demoliu pelos gastos que envolveria). Que motivação da CMP para construção da praça: não sabe responder, só acompanhou o final da obra.
Foi importante construir edifício, também pela questão da cobertura, contra intempéries, e para ordenar as vendas e questão de salubridade. Algumas pessoas insistiam em vender produtos fora da praça para não pagar lugar no interior (alugava-se). Tinham produtos de sobra para vender, da agricultura de subsistência (galinhas, ovos, coelhos, etc.) – embora houvesse quem vendesse o que tinha para o sobreviver, havia muita pobreza.
Houve quem criticasse o mercado, considerando-o de dimensões excessivas para as necessidades de Penamacor, não iria ter utilidade tamanho gasto. Em termos estéticos, não sabem de quem estivesse contra.
Externato Nossa Senhora do Incenso
Muito frequentado. Era um colégio privado, pagava-se mensalidade.
Foi começado a construir 1958/59; começou a frequentar em 1960, fez do 3.º ao 5.º ano do liceu (atual 3.º ciclo?). Foi mandado construir pelo Padre Batista, capelão do quartel – facilitou que muita gente em Penamacor pudesse estudar; iniciativa em conjunto com a CMP, que auxiliou. Ajustado à firma António Lourenço por 800 contos. Padre Batista esteve sempre endividado, teve de vendê-lo. Houve quem estivesse contra a construção, alegando que havia colégios noutros concelhos, mas na realidade fazia falta. Não sabem quem foi o autor do projeto.
A sala de cima tinha varanda, era do 4.º ano. Subia-se hall enorme onde se aguardava início das aulas. No 1.º piso: do lado direito havia a secretaria, corredor com gabinete do diretor e sala dos professores, à esquerda havia casas-de-banho que davam para a mata (“nem se podia podíamos abrir as portas lá para trás”), e ao fundo havia uma sala de estudo (“das 5 menos um quarto às 8 da noite).”, ficavam lá). Ao fundo do hall havia escadas de cada lado, com subida separada para rapazes e raparigas, (acompanhados de professor respetivo), embora o ensino fosse misto. Todas as salas eram no 1.º andar. Havia laboratório no hall de entrada, não se recordam de fazer experiências; mesa enorme com cobertura de xisto e aí almoçavam o que traziam de casa, das aldeias. Não havia cantina. Era pouco o conforto nas salas.
Para citar este trabalho:
Arquitectura Aqui (2024) Testemunhos do Evento na Aula de Academia Sénior de Penamacor. Acedido em 21/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/notas-de-observacao-ou-conversacao/39111/testemunhos-do-evento-na-aula-de-academia-senior-de-penamacor