Projeto do Edifício do Grémio da Lavoura de Alandroal
Este processo faria parte da candidatura, pelo Grémio da Lavoura de Alandroal (GLA), a empréstimo por via da figura dos Melhoramentos Agrícolas, para construção do seu edifício-sede. Da capa apenas consta a designação do processo e a cota de arquivo (na lombada).
O processo (essencialmente um projeto de execução) está dividido entre peças escritas – memória descritiva e justificativa, medições, preços simples, preços compostos, orçamento, programa de concurso, caderno de encargos e cálculos do betão armado – e peças desenhadas – planta de localização, plantas dos andares, alçados e cortes. Contém também um orçamento discriminado da parte do edifício referente a armazéns, “para efeitos do empréstimo a conceder pela Junta de Colonização Interna”.
Todas as peças escritas estão assinadas por Manuel Virgínio Ferreira Camarinhas. Embora as peças desenhadas não contenham nenhuma assinatura, podermos aferir que o autor do projeto de arquitetura é também Manuel Camarinhas.
Identificação
Análise
1955.03 – Data do projeto inicial.
1957.03 – Data do projeto de alterações.
1958.01.15 – Data do Orçamento do presente projeto, assinado pelo Agente Técnico de Engenharia Manuel Virgínio Ferreira Camarinhas, de Vila Viçosa, no valor de 510.000$00.
1958.01.18 – Data da Memória Descritiva e Justificativa do presente projeto, assinada também por Manuel Camarinhas, que nos dá um panorama geral do (relativamente longo) processo que culminou na elaboração do projeto final e na construção do edifício. Este documento refere a existência de um projeto anterior, do mesmo autor e datado de março de 1955, delineado segundo o programa definido pelo Grémio da Lavoura de Alandroal (GLA), programa esse que previa “o maior aproveitamento possível da área de construção para armazéns” no piso térreo, reservando o 1º andar para a Sede do Grémio. Escreve o autor, ainda em relação a esse projeto anterior, que esses estudos “foram sempre orientados de acordo com o ambiente local, de modo a obter-se uma solução que resultasse o mais económica possível, sem todavia esquecer aquele mínimo de comodidades, indispensável ao bom funcionamento dos vários serviços e funções que cabem aos Grémios da Lavoura”.
Continua o autor, referindo que esse projeto de 1955 foi aprovado pela Direção do Grémio e pela Direção-Geral dos Serviços Agrícolas, tendo sido posteriormente enviado à Direção-Geral dos Serviços de Urbanização (DGSU). Parece poder aferir-se que a localização escolhida pelo GLA para construção da sua sede não foi aceite pela DGSU, uma vez que se afirma que “inicialmente, a área onde se projetava construir o edifício (…) não estava incluída no perímetro urbano da vila (…). Posteriormente, por proposta da REU [Repartição de Estudos Urbanos da DGSU], foi alterada a localização do edifício e incluído o respetivo terreno no perímetro urbano”.
O autor do projeto continua a descrição do processo no documento de 1958, referindo a existência de um projeto de alterações, em cuja memória descritiva se diz que “depois da sugestão apresentada pela REU, o Sr. Diretor de Urbanização do distrito de Évora, deslocou-se ao Alandroal e acompanhado pelos interessados e pelo presidente da Câmara, teve oportunidade de estudar e resolver o problema [da localização do edifício], resolução com que a Direção do Grémio concordou”. Terá sido este o projeto de alterações recusado pela DGSU em março de 1957, “por razões de ordem funcional e estética”. Continua Manuel Camarinhas que “como as alterações propostas [na informação da DGSU] modificavam profundamente o projeto inicial, entendeu a Direção do Grémio, acompanhada do autor do projeto, avistar-se com os Exmos. Senhores Diretor de Urbanização do Distrito de Évora e com o Autor da Informação [cujo nome não é referido], a fim de (…) tentar solucionar o problema sem ser necessário proceder à elaboração de um novo projeto”. Em nova informação da DGSU, transcrita ainda na mesma memória descritiva de 1958, refere-se que o aditamento ao projeto também não foi aprovado, pelas mesmas razões anteriormente invocadas, concluindo-se que “a fim de habilitar a entidade a solucionar convenientemente as observações constantes das informações, junta-se um esboceto elaborado nestes Serviços que poderá servir de base à elaboração do projeto definitivo”. No entanto, segundo Camarinhas, a solução final não foi uma simples transposição do referido esboceto: “a solução agora apresentada apresenta, em planta, poucas alterações, a principal das quais é a localização do corpo da escada e instalações sanitárias no extremo esquerdo do edifício. Já o mesmo não se dá com os alçados, em especial os alçados de frente e lateral esquerdo que foram profundamente alterados”. Esta proposta final foi aprovada pela Direção do Grémio e terá posteriormente seguido os trâmites habituais até culminar na construção do edifício, inaugurado em 1960.
A memória descritiva de 1958 descreve ainda o projeto, a respetiva estrutura (em betão armado), materiais interiores e exteriores, entre outros. De assinalar as seguintes passagens: “o alçado lateral esquerdo, terá parte da sua estrutura em mármore da região aparelhada a pico grosso. É natural que num futuro próximo se projete um baixo-relevo em mármore com o motivo alusivo à vida da lavoura [atualmente não há qualquer vestígio que indique que tal baixo-relevo alguma vez tenha sido realizado]”; “o alçado principal será pintado a tinta de água, nas cores a indicar pela Fiscalização, enquanto as restantes partes do edifício serão caiadas ao uso da região”.
1958.03.01 – Data do Orçamento Discriminado, no valor de 287.000$00, da parte do edifício referente a armazéns, “para efeitos do empréstimo a conceder pela Junta de Colonização Interna [JCI]”. Deste orçamento podemos talvez aferir que, neste caso, a JCI (através da figura dos Melhoramentos Agrícolas) apenas concedeu um empréstimo relativo a pouco mais de metade do empreendimento – “todo o r/c (…), incluindo a laje do pavimento do 1º andar, teto do r/c e a cobertura” –, enquanto que o restante edifício (correspondente à sede do grémio no 1º andar) terá sido objeto de comparticipação pela figura dos Melhoramentos Urbanos (Processo 172/MU/55), como demonstrado pelas entidades intervenientes no processo e pela Portaria 3231, de 23 dezembro 1957.
Para citar este trabalho:
Arquitectura Aqui (2024) Projeto do Edifício do Grémio da Lavoura de Alandroal. Acedido em 22/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/processos/17876/projeto-do-edificio-do-gremio-da-lavoura-de-alandroal