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Construção de Casas de Habitação para as Classes Pobres, em Viana do Castelo

Processo em pasta original da Direção-Geral dos Serviços de Urbanização, onde se registou o número do processo 313/MU/45 e a designação da obra “Construção de Casas de Habitação para as Classes Pobres, em Viana do Castelo”.

Contém peças escritas e desenhadas do estudo de 1947, do estudo de 1952 e do anteprojeto de ampliação de 1958.

Se tem alguma memória ou informação relacionada com este registo, por favor envie-nos o seu contributo.

Identificação

Tipo de Processo
Designação do Processo
Construção de Casas de Habitação para as Classes Pobres, em Viana do Castelo
Anos Início-Fim
1947-1958
Referência Inicial
Processo n.º 313/MU/1945

Análise

Primeira Data Registada no Processo
1947.12.18
Última Data Registada no Processo
1958.04.02
Síntese de Leitura

1947.12.18 - Memória Descritiva e Justificativa, assinada pelo arquiteto Mário Ferreira Bonito, relativa ao estudo para a construção de um “Bairro de 100 Moradias para Pobres”, que a Câmara Municipal de Viana do Castelo (CMVC) e a Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo (SCMVC) pretendem realizar, pertencendo o bairro em partes iguais a cada uma das entidades.

O projeto inclui habitações com 2, 3 e 4 quartos, uma sala comum e instalações sanitárias, assim como um quintal com a área aproximada de 100m2.

Em termos construtivos, prevê-se a construção em fundações de alvenaria com argamassa de cal hidráulica e paredes em perpeanho ou alvenaria. As divisórias internas serão em tijolo vazado ou blocos de cimento. Todas serão rebocadas. A instalação sanitária será de betonilha, prevendo-se um lambril de 1.5m de altura “de argamassa de cimento queimado à colher”. Na entrada, contempla-se calçada portuguesa. O pavimento dos quartos e sala comum serão em madeira de pinho. Os caixilhos das janelas serão em sistema de guilhotina, com portadas de pinho. O telhado será de telha tipo Marselha.

O custo de cada casa prevê-se aproximadamente em 20.500$00 para as casas do tipo A (36 casas), em 27.000$00 para as casas do tipo B (56 casas) e 29.500$00 para as do tipo C (10 casas), correspondendo a um orçamento total de 2.580.000$00 (excluindo trabalhos de terraplanagem, arruamentos e arranjo do terreno.

Considera-se o terreno não ideal pela sua distância de 2.500m do centro cívico da cidade e ausência de meios de transporte coletivo.

Relativamente à implantação, descreve-se que o bairro será composto por 102 moradias do tipo A, B e C, “sendo o primeiro Tipo agrupado em blocos de 4 moradias e os dois últimos agrupados em blocos de duas”. O traçado de arruamentos foi traçado no sentido Norte-Sul, “o que permitiu aos blocos a orientação Nascente - Poente”.

Refere-se a introdução de um jardim interior no centro do conjunto, “adaptável a recreio infantil”, e de um arruamento arborizado, que “servem para dar escala, graça, frescura ao conjunto”.

[Este projeto não chegou a ser construído]

1952.05 - Memória Descritiva e Justificativa, assinada pelo agente técnico de engenharia José Teiga Mano, relativa às habitações a construir no bairro de casas para classes pobres.

Refere-se que o projeto compreende dois tipos de casas, com 2 ou 3 quartos, sala de comer, cozinha, sanitários e terreno para quintal.

Em termos construtivos, preveem-se fundações de alvenaria hidráulica, paredes em perpeanho e paredes divisórias em tijolo vazado ou blocos de cimento. Todas as paredes serão rebocadas e caiadas. O pavimento dos quartos e sala comum serão em madeira de pinho, o dos sanitários, cozinha e alpendre em betoninha assente sobre massame ou betão armado.

O orçamento da obra estima-se em 279.692$35.

[Este projeto corresponde ao bloco hoje existente, tendo utilizado um modelo já existente para o Bairro da GNR na ajuda, conforme planta anexa]

1958.04.02 - Memória Descritiva e Justificativa, assinada pelo arquiteto Alfredo Rodrigues, relativa “às obras de ampliação que a Santa Casa da Misericórdia pretende levar a efeito no Bairro de S. Tiago, recentemente construído com a comparticipação do Estado e a que se refere o processo n.º 313/MU/45” da DGSU.

Descreve-se o bairro existente, na Rua General Luiz do Rego, destinado “a famílias de fracos recursos”, e constituído por 20 fogos num bloco de dois pisos. A ampliação far-se-á em terreno da SCMVC, com frente voltada para o Jardim D. Fernando.

Refere-se, relativamente às escolhas de cariz estético, que a proximidade “do edifício ocupado pela Escola Comercial e Industrial, que constitui um belo exemplar de arquitectura clássica, não aconselha que as novas construções sejam fundidas em moldes semelhantes ao do bloco existente, impondo tratamento cuidado das novas fachadas, com enriquecimento equilibrado de todo o conjunto, de modo a enquadrá-lo condignamente naquele ambiente”. A nova solução “não deve apoiar-se, portanto, na simplicidade de linhas adoptada na construção anterior”.

Em termos de implantação, considera-se também preferível não manter “o alinhamento escolhido para implantação do bloco já construído”, o que resultaria em desperdício de terreno e “traria certamente remate imperfeito no gaveto oposto à Escola Comercial”. Pretendeu-se, com a solução projetada, estabelecer “perfeito enquadramento com o edifício da Escola” e corresponder “ao que havia sido idealizado pela [CMVC), ao pensar reservar o terreno (…) à construção de um bloco particular, a que deviam ser dadas características tais que não destoassem dos edifícios vizinhos”.

Quanto à organização dos fogos, explica-se que “nada de supérfluo foi previsto na [sua] concepção”. As dependências têm áreas mínimas, são “arejadas e iluminadas em boas condições, ocupação racional e perfeito aproveitamento do terreno utilizável”.

A ampliação consiste em mais 10 fogos que, “estabelecidas em regime de sobreposição, (…) serão distribuídas pelos dois pisos do bloco - 5 em cada piso, 4 voltadas à Rua General Luiz do Rego e 6 ao Jardim D. Fernando”. Os fogos terão 2, 3 e 4 quartos, sala de jantar, cozinha, sanitários e, em alguns casos, despensa e sala de costura.

Quanto ao tipo construtivo, refere-se que “os materiais e processos de construção a adoptar serão os correntes nesta região, tendo em vista a economia da obra que se pretende ver realizada”.

As fundações serão em alvenaria de granito duro com argamassa hidráulica e sobreleito hidrofugado; as paredes exteriores em perpeanho de granitos; as cantarias em granito da região aparelhado à picola; as paredes interiores em tijolo maciço ou furado; os pavimentos em massame de betão sobre fundação de brita ou placa de betão armado e revestidos por tacos de madeira de pinho, ou mosaico hidráulico nas cozinahas e sanitários; as paredes receberão emboço, reboco e pintura final a tinta de água, e as cozinhas e sanitários terão lambris de azulejo branco até 1.5m; as caixilharias serão em madeira de macacauba envernizada, ou madeira de pinho pintada; a cobertura será em telha tipo Campos.

Para finalizar, a Memória refere que se pode deduzir que a SCMVC “pretende construir habitações que, sendo de características económicas, apresentem, no entanto, os requisitos indispensáveis à conveniente elevação do nível de vida da população menos abastado, dando fiel interpretação ao programa que o governo tem em vista com a comparticipação em obras desta natureza”.

O orçamento da obra estima-se em 720.000$00.

[Este projeto ou não foi construído ou foi, entretanto, demolido]

Para citar este trabalho:

Arquitectura Aqui (2024) Construção de Casas de Habitação para as Classes Pobres, em Viana do Castelo. Acedido em 21/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/processos/31266/construcao-de-casas-de-habitacao-para-as-classes-pobres-em-viana-do-castelo

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).