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Documentação

Casa do Povo de Santa Marta de Portuzelo, Distrito de Viana do Castelo

Conjunto de documentação textual referente a inspeções realizadas à Casa do Povo de Santa Marta de Portuzelo, em Viana do Castelo.

Se tem alguma memória ou informação relacionada com este registo, por favor envie-nos o seu contributo.

Identificação

Arquivo / Biblioteca
Tipo de Processo
Designação do Processo
Casa do Povo de Santa Marta de Portuzelo, Distrito de Viana do Castelo
Anos Início-Fim
1943-1944

Análise

Primeira Data Registada no Processo
1943.08.17
Última Data Registada no Processo
1944.03.31
Síntese de Leitura

1943.08.17 - Relatório de inspeção ordinária à Casa do Povo de Santa Marta de Portuzelo, pelo escriturário de 1.ª Classe da Inspeção dos Organismos Corporativos (IOC), Amanias Faria dos Santos.

A Casa do Povo de Santa Marta de Portuzelo foi constituída por alvará de 1937.08.30, abrangendo a freguesia do mesmo nome, que tem cerca de 3.000 habitantes e está a 6km da sede do distrito. É servida “por uma excelente rede de estradas, com frequência de carreiras de camionetas”. O meio é essencialmente agrícola e pecuário, salientando-se a produção de vinho, milho, frutas e hortaliças.

A freguesia destaca-se por ter tido “um péssimo ambiente político nos inícios do regime republicano, tendo as perseguições políticas e religiosas atingido proporções gravíssimas”. Embora o “28 de maio” tenha acalmado as hostilidades, “existem ainda indivíduos impenitentes que não perdoam a mudança havida e se aproveitam de tudo para habilidosamente hostilizar o actual regime”. A Casa do Povo destaca-se como alvo. Indica-se que a ação social da Casa do Povo tem sido escassa. Em vez disso, “apenas fizeram uma linda sede… onde não vai ninguém!”

A sede da Casa do Povo foi construída do centro da freguesia, tendo o terreno custado a quantia de 11.500$00 à instituição. A construção do edifício, “por motivo da guerra, custou muito mais que a importância orçada” e “afastou a quási totalidade dos sócios”, tendo feito “incidir sobre o presidente da Direcção o ódio dos sócios”. Considera-se que a obra foi “um descalabro” em termos financeiros, tendo absorvido quase toda a receita ordinária, e vários subsídios do Fundo Comum.

A parte sul to terreno encontra-se “por arranjar e vedar”, porque ainda se encontram em curso as obras da cave e porque a Casa do povo “não tem ainda verba para acorrer às respectivas despesas, que constarão, além da necessária terraplanagem do terreno, de um muro de vedação”. Refere-se que isto “empobrece um tanto o aspecto do edifício”.

Refere-se o aparecimento de um Rancho Regional que, em vez de acarinhado e integrado na Casa do Povo, contribuiu para a criação de divergências.

1944.03.31 - Relatório do inquérito realizado à Casa do Povo de Santa Marta de Portuzelo, pelo Subinspetor dos Organismos Corporativos (IOC) Armando Jorge Santos.

O inquérito incide sobre três partes: 1. A atuação dos dirigentes na construção da sede; 2. O desinteresse e hostilidade da população face à Casa do Povo e influência do Rancho da freguesia; 3. Medidas julgadas convenientes.

1. Descrevem-se algumas acusações feitas ao presidente da Casa do Povo, nomeadamente o desvio de pedra não utilizada na construção da sede, a compra de pregos não utilizados a valores baixos, a contratação de si mesmo para fornecimento de materiais de construção, entre outros. Apresentam-se os resultados de entrevistas feitas a este propósito e conclui-se ser impossível de provar que o presidente tenha feito alguma coisa mal. Refere-se que, à data do inquérito, “a Casa do Povo ainda tinha uma dívida das contraídas para a construção da sede”: um empréstimo do Banco de Portugal na quantia de 6.200$00.

2. Apresentam-se excertos de entrevistas, dos quais se percebe que, após a mudança da Casa do Povo para a sua nova sede - abandonando um edifício no qual estava instalada com o Rancho das Lavradeiras de Santa Marta- os sócios continuaram a frequentar as instalações do Rancho em prejuízo das novas instalações da Casa do Povo. Refere-se existir uma certa animosidade da população da freguesia para com a Casa do Povo, em parte resultado da “maneira um pouco violenta como se obrigaram os lavradores de Santa Marta a inscreverem-se” e da parca ação no campo de assistência realizada pela Casa do Povo. O inspetor conclui que, para além destes fatores, terá contribuído para esta situação também a proximidade a Viana do Castelo, que provocou “uma alteração de hábitos e um certo número de modificações à vida corrente das populações rurais”. Refere também que “o ambiente político de Santa marta foi sempre péssimo, e todos os pretextos se aproveitam para o combate à actual situação política”. A Casa do Povo encontrou resistência desde o início, salientando-se “a guerra movida” pela Associação de Socorros Mútuos e pela Sociedade Recreativa, que já existiam aquando da fundação da Casa da Povo. Lamenta-se que um período de calma não tenha sido aproveitado para atrair a população, “pois todos os recursos foram absorvidos pela construção da sede”.

Para citar este trabalho:

Arquitectura Aqui (2024) Casa do Povo de Santa Marta de Portuzelo, Distrito de Viana do Castelo. Acedido em 24/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/processos/46638/casa-do-povo-de-santa-marta-de-portuzelo-distrito-de-viana-do-castelo

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).