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Casa do Povo de Figueiró dos Vinhos

"A Casa do Povo de Figueiró dos Vinhos, concelho do distrito de Leiria, foi fundada por alvará de 12 de Maio de 1934, data da aprovação do primeiro Estatuto. Com base no Decreto-lei nº. 30 710 foram elaborados novos estatutos que vieram a ser aprovados por alvará de 30 de Agosto de 1943. Por estes estatutos passaram a ser abrangidas pela área deste organismo as restantes freguesias do citado concelho: Aguda, Arega e Campelo. Entretanto, houve um período até final do ano de 1951, em que esteve suspensa a atividade desta Casa do Povo. Em Janeiro de 1952 iniciou a atual e portanto 2ª fase de sua atividade. Todavia a área da Casa do Povo está agora circunscrita apenas à freguesia de Figueiró dos Vinhos, em evidente oposição ao disposto nos estatutos em vigor" (Fernando Salvador Coelho, Subinspector da Inspeção dos Organismos Corporativos em Inspeção à Casa do Povo de Figueiró dos Vinhos, 20 de Outubro de 1965, fl. 2)

"A Casa do Povo em referência iniciou em Janeiro de 1952 a sua 2ª fase de existência. Antes dessa época esteve suspensa por vários anos e a sua 1ª fase de atividade não foi feliz por lhe ter faltado o indispensável apoio da sua massa associativa. De facto não foi só a indiferença daqueles que a levou a tal paragem. Houve também enorme hostilidade contra a atuação da Casa do Povo como se esta instituição não tivesse sido criada para minorar as necessidades dos pobres mas sim para sobrecarregar os orçamentos de toda a população sem benefício para ninguém. (...) A Casa do Povo tem a sua sede em Figueiró dos Vinhos e os serviços estão instalados em edifício próprio, não muito longe do centro da vila. O prédio está bem conservado e decentemente mobilado. O posto médico está esplendidamente montado. O asseio na Casa do Povo é irrepreensível. Arrastados pelo próprio sucesso, os componentes da Comissão Administrativa  pretendem aumentar o edifício a fim de arranjarem instalações para a montagem duma biblioteca. A sua aspiração é perfeitamente justa mas é possível que se possa improvisar uma sala para esse efeito nas dependências destinadas ao contínuo e ao cobrador, pelo menos por algum tempo." ( José Augusto dos Santos Silva, Subinspector da Inspeção dos Organismos Corporativos em Inspeção à Casa do Povo de Figueiró dos Vinhos, 28 de Outubro de 1954, fl.1 e 2 )

"O organismo possui sede própria, construída há bastante tempo, e hoje bem localizada. O edifício-sede está mal conservado por efeito da infiltração de águas e talvez também pela má inclinação do telhado. As salas do mesmo, por demasiado pequenas, já não satisfazem as necessidades do organismo. Assim, é pensamento da Direção efetuar as competentes obras, em relação aos aspectos focados. Para tanto já foi elaborado e apresentado o projeto respectivo à Junta Central, quanto ao alargamento das instalações. As dependências, como já dissemos são exíguas, com exceção do amplo salão de festas, a que lhe falta o indispensável palco. (...) As necessárias obras que a Direção da Casa do Povo pretende efetuar - sobretudo o alargamento das atuais instalações destinadas aos serviços médicos e de secretaria - são vultuosas. Elas impõem-se, não há dúvida. Todavia, existe desocupado, há mais de 2 anos, em frente da Casa do Povo, um esplêndido e belo edifício que serviu de Casa da Criança, obra social a cargo da extinta Junta de Província da Beira Litoral e hoje pertença da Junta Distrital de Leiria. Pode dizer-se que a obra social acabou com a extinção daquela Junta de Província e até porque, segundo parece, a Junta Distrital de Leiria não tem meios e não pode, por isso, suportar qualquer obra social.  Nestas circunstâncias e uma vez que a Casa do Povo pensa gastar avultada verba (cerca de 100 contos) em obras no seu edifício-sede, lembramos que seria muito mais prático instalar naquele outro edifício os serviços médicos e possivelmente um infantário ou creche a manter pela Casa do Povo, já porque este organismo tem certas possibilidades financeiras e já porque se dava um fim útil a um esplêndido edifício que a continuar desocupado corre o risco de vir a cair em ruína dentro de um prazo relativamente curto." (Fernando Salvador Coelho, Subinspector da Inspeção dos Organismos Corporativos em Inspeção à Casa do Povo de Figueiró dos Vinhos, 20 de Outubro de 1965, fl. 3 e 4)

"O edifício da sede - foi este um dos primeiros organismos desta espécie a ter sede própria com edifício construído para o efeito - a par de uma localização magnífica, apresenta instalações magníficas após ter sofrido recentes obras de beneficiação. O único senão é a exiguidade do mobiliário. (...) A sede do organismo serve quase exclusivamente para efeitos de assistência médica e é pena que assim seja por dispor de instalações magníficas. O salão, decerto em muito melhores condições do que as do tempo da anterior inspeção, tem servido, embora com raridade, para reuniões particulares." (Hermínio Jorge Folhento, Subinspector da Inspeção dos Organismos Corporativos em Inspeção à Casa do Povo de Figueiró dos Vinhos, 10 de Dezembro de 1970, fl. 3).

De acordo com participantes do encontro “Histórias dos edifícios públicos de Figueiró dos Vinhos (1939-1985)”, realizado com a Universidade Sénior em outubro de 2023, a Casa do Povo tinha várias funções: cultural e festiva, desportiva, atenção médica, Segurança Social.

Durante este encontro, um aluno Sénior diz: “a Casa do Povo é uma coisa que foi fundada por causa da agricultura. A caixa, agora é a Segurança Social. Na altura a gente associava-se à Casa do Povo. Tinha direito a médico. Tinha um cartãozinho da Casa do Povo. O que é agora a Segurança Social, para os agricultores era a Casa do Povo. Éramos associados à Casa do Povo”.

Uma aluna Sénior responde: “Mas tinha essa ideia de que havia um médico. Mas depois disso, essa parte acabou. Portanto, ficou só o Serviço Administrativo. Os funcionários que antes, antigamente eram da Casa do Povo, passaram a ser funcionários também, como eu, mas de outros serviços, da Segurança Social, do Centro Regional de Segurança Social de Leiria...”.

Algumas pessoas falam da Casa do Povo e da sua relação com os sectores pobres da população:

Aluna Sénior: “O meu marido, portanto, quando era miúdo, ia com a mãe à Casa do Povo buscar leite. Leite para ele, porque era um bebezinho”.

Aluna Sénior:A Casa do Povo era também para os trabalhadores rurais”.

Aluna Sénior: “Antes da criação do Serviço Nacional de Saúde, a Casa do Povo, por exemplo, a nível da história que eu conheço da minha família, por exemplo, o pai da minha mãe não tinha direito a vir ali ao médico. Porque, entre aspas, era rico e podia pagar o médico privado. E desde que ali, na Casa do Povo, era para as famílias que tinham menos… posses”.

Se tem alguma memória ou informação relacionada com este registo, por favor envie-nos o seu contributo.

Notas

Importância, Particularidades, Similaridades, Posição Relativa (Geografia e Cronologia)

O edifício foi desenhado a partir do Projeto Tipo de Casa do Povo elaborado pelo arquiteto Jorge Segurado. De acordo com uma das inspeções realizadas pela Inspeção dos Organismos Corporativos, realizada em 1970, a Casa do Povo de Figueiró dos Vinhos foi das primeiras do país a ter sede própria, o que leva a crer que esta tenha sido uma das primeiras destas obras realizada de acordo com o projeto tipo.

De acordo com participantes do encontro (2023) a parte lúdica da Casa do Povo foi importante.

Aluna Sénior: "E a minha mãe conta muitos, muitos bailes, quando eles eram novos. Portanto, a minha mãe tem 80 anos. A criação da Casa do Povo, eles contam muitos bailes, porque na altura não havia as distrações. E ali era um grande centro de lazer, vamos dizer".

Uma participante lembra-se de ter tido ginástica na Casa do Povo, numa sala ampla, em torno dos anos 1982-1984.

Análise Conjugada de Forma, Função e Relação com o Contexto

A sede da Casa do Povo de Figueiró dos Vinhos foi construída na atual Avenida José Malhôa, artéria resultante do Plano de Urbanização da vila, que previa a realização de vários equipamentos públicos ao longo desta via. Apesar deste plano não ter sido plenamente concretizado, durante o século XX, foram implantados nesta Avenida vários edifícios públicos e de uso coletivo como uma escola primária, um jardim de infância, a Casa da Criança, o Tribunal de Justiça, a sede do Gabinete de Apoio Técnico sediado na vila e a sede da Filarmónica Figueiroese.

Momentos-chave (clique abaixo para mais detalhe)

Data de Conclusão
c. 1952

Localização

Comunidade
Lugar
Figueiró dos Vinhos
Morada
Avenida José Malhoa
Distrito Histórico (PT)
LeiriaDistrito Histórico (PT)
Contexto
InteriorContexto
UrbanoContexto

Estado e Utilização

Utilização Inicial
Estado
ConstruídoEstado da Obra
Reutilização Potencial

Documentação

Registos e Leituras 4

Recursos

Documento (PDF)

A informação constante desta página é fruto do trabalho de Diego Inglez de Souza e de Ivonne Herrera Pineda, e foi reunida através de fontes documentais e bibliográficas e dos diversos contributos e testemunhos que pudemos recolher em Figueiró dos Vinhos. Conta ainda com a preciosa informação partilhada pelos vários participantes do evento “Histórias dos edifícios públicos de Figueiró dos Vinhos (1939-1985)”, realizado em outubro de 2023 na sede da Universidade Sénior de Figueiró dos Vinhos, sobre o tema dos edifícios públicos do século XX de Figueiró dos Vinhos.

Para citar este trabalho:

Arquitectura Aqui (2024) Casa do Povo de Figueiró dos Vinhos. Acedido em 21/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/obras/2140/casa-do-povo-de-figueiro-dos-vinhos

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).