Pesquisar por

Objeto

Agentes

Atividades

Documentação

Casa do Povo de Lavre, Montemor-o-Novo

A Casa do Povo de Lavre (CPL) foi promovida por esta instituição a partir do final da década de 1950, largamente por ação do seu Presidente da Assembleia Geral, Artur Campos Figueira de Gouveia. Nessa época, a CPL tinha acolhido a banda de música e o espólio da Sociedade Fraternidade Simão da Veiga (SFSV), então recentemente extinta, e realizava espetáculos na antiga sede dessa associação, localizada na Rua Bernardino Machado n.º 69. Tratava-se, assumidamente, de uma situação provisória até à construção no novo edifício da CPL.

Por intermédio da Junta Central das Casas do Povo (JCCP) e para fins de comparticipação pública da obra, o anteprojeto do edifício foi submetido para apreciação pela Delegação de Évora do Ministério das Corporações e Previdência Social (MCPS-DEV), tendo sido aprovado em abril de 1961. O projeto foi realizado pelos arquitetos Luís Bevilacqua e Francisco Botelho de Sousa.

A obra teve início em novembro ou dezembro de 1962 e foi terminada em agosto de 1964. Já com algumas alterações decorridas em obra, o orçamento final fixou-se em c. 1000 contos, beneficiando a CPL da comparticipação pela JCCP (com verbas do Fundo de Desemprego) de c. 50%. A instituição recebeu ainda um subsídio de 50 contos para aquisição de mobília, concedido pelo Instituto Nacional do Trabalho e Previdência (INTP), tendo obtido mobiliário de grande qualidade, como o desenhado por Daciano da Costa para a Metalúrgica da Longra.

O projeto foi também aprovado pelo Conselho Técnico da Inspeção dos Espetáculos, em julho de 1964, e o equipamento foi vistoriado pela mesma entidade em novembro desse ano. As instalações foram classificadas como de 3.ª classe, com as seguintes modalidades a poderem ser realizadas: espetáculos de variedades, bailes, representações teatrais e cinema.

Ao longo dos anos o edifício foi conhecendo algumas alterações, sem perder, no entanto, a sua essência. Os serviços relacionados com o ensino e prática de música foram tomando grande preponderância, em detrimento dos serviços clínicos e outros. Com efeito, a importante Banda Filarmónica Simão da Veiga – em atividade desde 1 de dezembro de 1889 – continua a ter a sua sede na Casa do Povo de Lavre.

Se tem alguma memória ou informação relacionada com este registo, por favor envie-nos o seu contributo.

Identificação

Data de Conclusão
1964.08
Comunidade

Localização

Morada
Rua da Casa do Povo, n.º1 7050-467 Lavre
Distrito Histórico (PT)
ÉvoraDistrito Histórico (PT)
Contexto
UrbanoContexto
InteriorContexto

Estado e Utilização

Estado
ConstruídoEstado da Obra
Utilização Inicial
Proprietário
Utilizador

Cronologia de Atividades

Atividades

Descrição Breve

Análise Conjugada de Forma, Função e Relação com o Contexto

A Casa do Povo de Lavre localiza-se no limite Nordeste da povoação, no início da estrada para Ciborro e junto da antiga escola primária e cantina escolar. O projeto, da autoria dos arquitetos Luís Bevilacqua e Francisco Botelho de Sousa, foi finalizado em fevereiro de 1961 (anteprojeto) e abril de 1962 (projeto). A ideia inicial consistia na construção do edifício-sede da Casa do Povo de Lavre e de um infantário. Este último nunca chegou a ser construído, existindo em seu lugar um campo de jogos. O local escolhido para a obra era caracterizado por um declive significativo, o que levou ao planeamento de um grande aterro, substituído em obra por uma cave em estrutura de betão armado. O edifício, em forma de ‘L’, desenvolve-se em dois pisos. O superior acede-se de nível a partir da cota da rua, e o inferior através de uma rampa com inclinação ligeira (serventia que permite acesso a ambulâncias) que dá acesso a um terraço – pavimentado com cimento vermelho – onde se pode encontrar um monumento de homenagem a Artur Campos Figueira de Gouveia.

Os serviços da Casa do Povo dividiam-se, inicialmente, em serviços administrativos, serviços recreativos e culturais e serviços clínicos. Os primeiros situavam-se no piso inferior e foram dimensionados para responder não só às necessidades da CPL, mas também do infantário projetado, incluindo secretaria, direção e arquivo, para além de instalações sanitárias e arrecadações. No limite nascente do edifício, em semicave, existia um largo vestíbulo de entrada e acesso público ao piso superior (com um alpendre, entretanto fechado) que foi convertido em bar. A outra entrada no piso inferior faz-se através de um portal retangular ladeado por paredes de tijolo de vidro e, perpendicularmente, por troços de parede revestidos com tijolo avermelhado, formando um pequeno recesso de entrada. Esta dá acesso aos serviços clínicos, que originalmente ocupavam grande parte deste piso, mas que foram sendo reduzidos até ocuparem apenas 4 salas, ora renomeados de posto médico ou Extensão de Lavre do Centro de Saúde de Montemor-o-Novo (USF Alcaides).

O piso superior é constituído essencialmente pelo grande salão de atividades recreativas e culturais, equipado com o respetivo palco e uma ampla lareira, entretanto desativada. A zona de público tem entrada direta pelo exterior através de um amplo vestíbulo (com bengaleiro). Na frente de rua, um alpendre com arco ogival caracteriza o alçado nascente, em conjunto com a parede de tijolo à vista exibindo o emblema da Casa do Povo de Lavre. Este piso contém ainda um camarim (com vestiário e instalações sanitárias em anexo) e uma grande sala de reuniões (originalmente pensada como sala de artesanato) e de exibição de troféus. Um terraço de dimensões variáveis, também em ‘L’, acompanha praticamente todo o piso superior.

Os materiais de acabamento utilizados no edifício espelham o desejo dos autores de integração na envolvente, pretendendo-se, segundo as Memórias Descritivas do projeto, “aliar o sabor local e o fator economia como resultante de um equilíbrio arquitetónico condigno e sóbrio”. Já no anteprojeto se afirmava que “quanto ao aspeto estético é nossa intenção integrá-lo no ambiente da região, com sabor modernizado e usar os materiais que nela sejam mais correntes e como tal será aplicado o tijolo à vista contrastando com o branco dos paramentos sempre bem caiados”. O edifício faz uso de um sistema estrutural misto, de alvenaria, alvenaria de tijolo e estrutura de betão armado. A cobertura é em telha tradicional com beirado saliente, sendo que a sua estrutura, inicialmente pensada para ser em madeira de pinho, foi alterada durante a obra para elementos de betão pré-esforçado.

A Casa do Povo de Lavre trata-se de um edifício com uma escala significativa no contexto urbano-rural em que se insere. No entanto, o seu desenho, aspetos formais e materiais utilizados permitem, como foi intenção dos arquitetos autores do projeto, um apreciável grau de integração no meio local, reforçando o lugar de referência que este equipamento assume em Lavre.

Documentação

Documentos

A informação constante desta página, redigida por João Cardim, em abril de 2024, foi reunida através de diferentes fontes documentais e bibliográficas e dos diversos contributos e testemunhos que pudemos recolher em Lavre.

Para citar este trabalho:

Arquitectura Aqui (2024) Casa do Povo de Lavre, Montemor-o-Novo. Acedido em 16/09/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/obras/8957/casa-do-povo-de-lavre-montemor-o-novo

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).