Edifício de Habitação Coletiva na Rua Abade de Baçal, Miranda do DouroEdifício "Os Patrícios", Miranda do Douro
O edifício de habitação coletiva existente entre a Rua Abade de Baçal e a Rua da Trindade terá começado a ser construído, segundo uma residente que permanece anónima, pouco tempo antes do 25 de Abril de 1974. A obra terá avançado lentamente até ser concluída num processo acelerado, de modo a poder acolher as famílias provenientes das antigas colónias que chegavam a Portugal e, especificamente, Miranda do Douro. Esta memória é corroborada pelos testemunhos dos participantes no evento Cumbersas ne l Arquibo, realizado em 16 de junho em 2023 com a colaboração do Arquivo Municipal de Miranda do Douro. Desconhece-se se existiu alguma participação de entidades estatais ou autárquicas na finalização de uma obra que era, de origem, privada.
Notas
O edifício é composto por duas partes: uma, construída de raiz, volta-se para a Rua Abade de Baçal, pela qual se acede a uma garagem, hoje devoluta; outra, voltada para a Rua da Trindade, aproveita um edifício pré-existente. As duas partes ligam-se por um sistema de escadarias e galerias exteriores por onde se faz o acesso aos apartamentos.
Construído em meados da década de 1970, com uma escala incomum no centro histórico da cidade, o edifício foi alvo de duras críticas. Dá-se, como exemplo, a avaliação feita no Plano de Pormenor de Salvaguarda do Centro Histórico de Miranda do Douro, da Câmara Municipal de Miranda do Douro (2007):
“Não obstante a classificação da Sé como Monumento Nacional, por Decreto de 16 de Junho de 1910, da declaração da respectiva zona de protecção especial, em 1957, e da classificação, como imóvel de interesse público, do Castelo, pelo Decreto Lei 40 361, de 20 de Outubro de 1955, a blindagem legal da protecção de todo o conjunto do Centro Histórico de Miranda do Douro só foi feita por Portaria […] de 9 de Julho de 1957. O espaço intra muros era assim transformado numa zona non aedificandi […].
Apesar da proteção da Lei […] no início da década de setenta, um abcesso de betão, de volumetria hedionda, exibindo vãos de iluminação e de entrada, sem conta peso e medida, levantou-se, sem vergonha, no lanço sul da Rua Abade de Baçal, com o empenho militante do então Presidente da Câmara e da Comissão Municipal de Arte e Arqueologia, cujos pareceres, em prol do "desenvolvimento" da cidade, acabaram por dobrar as últimas resistências da tutela em Lisboa.”
No evento Cumbersas ne l Arquibo, de 16 de junho de 2023, a opinião de que o edifício se destaca no tecido construído da cidade intra-muros é generalizada. Refere-se, no entanto, relativamente à avaliação feita no Plano de Pormenor, que o edifício permitiu alojar famílias que precisavam de habitação e, “e se calhar, esta vontade do presidente da Câmara dessa altura era exatamente essa, era haver habitação para essas pessoas que vinham de fora”.
Momentos-chave (clique abaixo para mais detalhe)
Localização
Estado e Utilização
Documentação
Este edifício foi detetado e fotografado durante uma visita de trabalho de campo a Miranda do Douro, por indicação dos participantes no evento Cumbersas ne l Arquibo, realizado em 16 de junho em 2023 com a colaboração do Arquivo Municipal de Miranda do Douro, sobre o tema Arquitetura Aqui em Miranda do Douro: O Arquivo Vivo da Nossa Memória. Não foram ainda consultadas fontes documentais e bibliográficas. A informação constante desta página foi redigida por Catarina Ruivo, em janeiro de 2024.
Para citar este trabalho:
Arquitectura Aqui (2024) Edifício de Habitação Coletiva na Rua Abade de Baçal, Miranda do Douro. Acedido em 23/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/obras/9972/edificio-de-habitacao-coletiva-na-rua-abade-de-bacal-miranda-do-douro