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Testemunho anônimo-01, Alijó

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Testemunho anônimo-01, Alijó

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Registo da Observação ou Conversação

Testemunho anônimo de uma bombeira do quartel dos Bombeiros Voluntários de Alijó. Conversa mantida em julho de 2023 com as investigadoras Ivonne Herrera Pineda e Catarina Ruivo. Seguem-se algumas das informações partilhadas durante a conversa.

Quartel dos Bombeiros Voluntários de Alijó

Ela começa relação com os bombeiros porque fazia parte da Fanfarra, que ensaiava numa salinha no cineteatro.

À frente existia um cineteatro [onde onde viu o Titanic] “Tinha um barzinho em cima que estava aberto na altura para os intervalos. E ao lado tinha tipo uma sala de arrumos onde o pessoal se juntava, formava e depois vinha para a rua tocar” [Fanfarra] - esse edifício era só cineteatro.

Sobre o edifício do cineteatro: “Aos bombeiros aquilo não faz falta, querem vender, mas não querem vender a alguém que meta naquilo um mamarracho, que faça apartamentos, por exemplo. Queriam vender, mas com a intenção de fazer ali qualquer coisa [pública]” Não há possibilidade de reativar aquilo como sala de espetáculos: “Não, porque quando isto andou em obras, nós passamos literalmente para a frente, e estragámos tudo. O cineteatro ficou como estacionamento das ambulâncias, mas também já está bastante degradado. Ficou um palcozinho e agora é onde temos os carros velhos - lixo.”

- Investigadora: Porque fechou o cinema?

- Entrevistada: “Porque entretanto construiram ali em baixo o auditório, e o auditório também tinha uma sala com melhores condições e na altura foi para lá. Nem me lembro quando é que fecharam aqui.”

- Investigadora: Tinha muita atividade?

- Entrevistada: “Se calhar uma vez por mês havia, ou todos os domingos havia. Não sei precisar porque era uma garota. Mas sim, o Titanic teve de passar 3 ou 4 vezes e havia pessoas lá nos corredores a ver. Mas depois tinha aqueles filmes que só enchia meia sala, outros que enchia a sala toda.” (“Pois, porque depois o senhor dos anéis já o vi além.” - Titanic c.1998; Sr dos Anéis c.2001).

No lugar dos atuais bombeiros: “Havia aqui uma grande garagem, velha, que já tinha parado de chover há uma semana e aqui dentro ainda continuava a chover. E tinha uma torre muita grande, para aí de três ou quarto pisos, onde a gente treinava e onde eram as camaratas e assim. Depois foi tudo demolido e construiram este, inaugurado em 2015.” […] Teve de ser demolido. “Já era muito velho, tinha infiltrações por tudo quanto era lado, não tinha condições. Por exemplo, os homens de umas salas de arrumos que lá havia fizeram lá a camarata deles […] Não havia espaço para todos. As mulheres tinham um quarto que era para aí metade disto [sala de reuniões do novo edifício] e uma vez éramos seis de serviço e só tínhamos três camas. […] Precisávamos mesmo de mais espaço. Os nossos carros já não cabiam todos na garagem.”

Futuro do cineteatro e relação com a população: “Está muito degradado, mas eu acho que no tempo em que foi construído era um dos melhores. Eu acho que sim.” (as pessoas odeiam este edifício?) “Odeiam no sentido de ele estar abandonado, abandalhado, e não ficar bonito na fotografia, mas eu acho que as pessoas também sentem que ele tem alguma história aqui. E se repararem a parte de cima do cineteatro é tudo em fibrocimento. Ah, e ali havia uma casa que era onde vivia o nosso quarteleiro, durante muitos anos. Tem ali uma partezinha, porque há muito muito tempo os bombeiros não ficavam cá a dormir.” Fala do caso do Castedo (2008) “Ficava cá o quarteleiro durante a noite, atendia o telefone se fosse preciso. […] Tinha a esposa e tinha o filho, a esposa tratava de (…) (lavava lençóis). […] A senhora ganhava uns trocos por lavar a roupa, ele e mais dois ganhavam às viagens”.

“Dentro do Quartel Velho tínhamos um bar aberto ao público, que era controlado por pessoas que por acaso eram bombeiras, mas não era dinheiro para os bombeiros e que estava sempre aberto ao público e toda a gente podia lá entrar. Enquanto que aqui não, nós aqui não temos nada”. Bombeiros eram mais abertos ao público geral, hoje atividade mais privada. “O que por um lado era bom, termos um café aberto, porque para já tínhamos sempre qualquer coisa para comer e para beber à disposição, e as pessoas entravam e viam mais ou menos a vida dos bombeiros. O que por outro lado era mau porque depois apercebiam-se do que se passava e não se passava e depois vinham contar para a rua.”

Os bombeiros vêm colmatar falhas do sistema de saúde, com o encerramento de hospitais e serviços de urgência no interior. Os bombeiros fazem de tudo: Consultas, INEM, incêndios florestais, urbanos e industriais, pré-hospitalar, acidentes (desencarcerar), inundações, abrir portas e salvar animais.

A recolha e a sistematização deste testemunho oral foram elaboradas por Catarina Ruivo e Ivonne Herrera Pineda, com base numa entrevista realizada em julho de 2023.

Para citar este trabalho:

Arquitectura Aqui (2024) Testemunho anônimo-01, Alijó. Acedido em 21/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/notas-de-observacao-ou-conversacao/21496/testemunho-anonimo-01-alijo

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).