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Quartel dos Bombeiros Voluntários de Alijó

A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alijó foi fundada na década de 1920. Instalou-se, desde o início, numa casa casa alugada, à qual o presidente da sua direção se referiria, em 1976, como um barracão. A falta de condições do espaço em que se encontravam alojados levou a que os Bombeiros Voluntários de Alijó iniciassem, em 1943, um processo com vista à construção de um novo Quartel que só foi concluído quarto décadas mais tarde, em 1983.

Tanto quanto permite perceber a documentação encontrada, este processo começou no início de 1943, com o pedido, a título gratuito, de um projeto para um cine-teatro, ao arquiteto Cassiano Barbosa. O anteprojeto foi enviado aos Bombeiros Voluntários no final do mesmo ano, juntamente com a informação, pelo arquiteto, de que o seu trabalho gratuito tinha terminado. Embora o envio do anteprojeto tenha merecido uma carta de agradecimento por parte dos Bombeiros, agradecendo “pela gentileza da oferta gratuita da referida planta, que, a todos que a examinaram, são unânimes em tecer os elogios mais eloquentes, não só pela beleza das linhas, como também pela comodidade e modernismo do cinema a construir”, a proposta não avançou.

Aproximadamente vinte anos mais tarde, em 1965, o vice-presidente da Câmara Municipal de Alijó, Delfim de Magalhães, solicitou a assistência técnica da Direção-Geral dos Serviços de Urbanização para elaboração do projeto e construção de um Quartel para os Bombeiros Voluntários da vila. Em 1967, foi finalizado um anteprojeto pelos serviços regionais dessa Direção-Geral, que também não se chegou a materializar.

Apenas em novembro de 1975 seria apresentado o projeto definitivo do Quartel, prevendo a ocupação da maior parte da área do edifício com um amplo salão polivalente. Este projeto vinha assinado pelo arquiteto António Cândido Barbosa, que se julga ser o irmão mais novo do autor do projeto de 1943. De forma semelhante, também este projeto terá sido cobrado abaixo do preço de custo. Humberto Santos, presidente dos Bombeiros Voluntários de Alijó em 2023, recorda-se de “quando apareceu um arquiteto natural de Alijó”:

Ele embora vivesse no Porto, tinha lá a sua vida mas era natural de Alijó, qualquer arquiteto levava mil ele levou dez, para as despesas correntes, fez praticamente o projeto de borla. (…) Este projeto foi de graça, praticamente foi oferecido pelo senhor arquiteto António Cândido.

O projeto de António Cândido foi aprovado em março de 1976, com comparticipação pelo Gabinete de Gestão do Fundo de Desemprego, que foi sendo regularmente reforçada até 1980. Em abril, a obra foi adjudicada pelo valor de 4.452.753$00 e, em junho, deu-se finalmente início aos trabalhos de construção.

Em dezembro de 1979, encontrando-se a construção do Quartel em vias de conclusão, os Bombeiros Voluntários solicitaram a aprovação da aquisição de uma parcela de terreno adjacente ao novo edifício, com o fim de “acautelar um possível aumento”. Em 1980, os Bombeiros propuseram uma 3ª fase de construção do Quartel, com vista a cobrir certas lacunas, “como um parque automóvel em crescimento que exigia um parque de viaturas maior do que o construído; a existência de vário material, fora de uso mas em bom estado” para colocar num espaço de museu; a necessidade de espaços para arquivo, biblioteca e sala de leitura, “secção desportiva e organização de uma Fanfarra, etc”. Em defesa da sua proposta, os Bombeiros referiam que o custo total das obras do quartel “não é dos mais dispendiosos, comparando-o com outros da Região Norte e de outras parcelas do Território Nacional”. Com um orçamento aprovado de 6.000.000$00, uma comparticipação de 4.800.000$00 e um terreno cedido, a título gratuito, pela Câmara Municipal, esta 3ª fase considerou-se concluída em 10 de março de 1983.

Entretanto, desde março de 1982, os Bombeiros Voluntários de Alijó procuravam outras fontes de financiamento, que permitissem finalizar e equipar o amplo salão polivalente, de forma a que, conforme previsto desde a década de 1940, pudesse funcionar como Cineteatro. Nesta data, solicitaram apoio à Secretaria de Estado da Cultura e à Fundação Calouste Gulbenkian para a montagem da máquina de projetar, das cadeiras da plateia (249 lugares) e do balcão (126 lugares) e do mobiliário do quartel de bombeiros, para o que estimavam um orçamento de 5.860.000$00. A primeira concedeu um subsídio de 1.600.000$00, enquanto que a segunda indeferiu o pedido, argumentado não financiar iniciativas “da natureza referida, sobretudo quando promovidas por entidades que, nos termos dos respectivos estatutos, não se encontram minimamente vocacionadas para o exercício de actividades culturais”.

O novo edifício, que conjugava as dependência indispensáveis para o funcionamento do Quartel com um Cineteatro, é lembrado pela importância do segundo. Humberto Santos relata:

Aquilo foi construído como uma casa de espetáculos. E era de espetáculos. Levava ali umas 400 pessoas a ver cinema. (…) Tinha condições, tinha sons, tinha tudo, estava preparada para isso. (…) Tinha aqui um auditório onde se fazia teatro, tudo, era uma casa cultural. Cinema era o principal, mas já fizeram programas de teatro, peças. Para os anos 80, quando foi feita, era uma casa de primeiro plano.

Outro residente de Alijó, que permanece anónimo, relata que havia muita atividade. Em particular, “o Titanic teve de passar 3 ou 4 vezes e havia pessoas lá nos corredores a ver. Mas depois tinha aqueles filmes que só enchia meia sala, outros que enchia a sala toda.”

Ambos os entrevistados salientam uma secundarização espacial das dependências para os bombeiros, que se acomodavam nas partes laterais do edifício, ficando as viaturas numa garagem localizada nas suas traseiras.

De acordo com estes testemunhos, o Cineteatro terá sido encerrado entre finais da década de 1990 e início da de 2000 - ou entre a estreia do filme Titanic e a do primeiro filme da trilogia do Senhor dos Anéis - devido à construção do novo auditório da cidade, com melhores condições como sala de cinema. A sala do Cineteatro permanece vazia desde então. Após o seu encerramento, os bombeiros procuraram adaptar o espaço às suas necessidades, aproveitando-o para arrumação de algumas viaturas antigas. Mais recentemente, Humberto Santos conta da reutilização destas cadeiras:

Na epidemia a nossa igreja fechou, que era pequenina. Aqui, como é um espaço largo, a igreja, o padre, o senhor pároco pediu-nos, a ver se podiam fazer as homilias ao domingo (…) Aqui as pessoas vinham sem medo porque tinham espaço.

Quando questionado sobre o futuro do antigo edifício do Quartel e Cineteatro, o presidente dos Bombeiros explica que, tendo condições, não o pretende vender a uma pessoa particular “para fazer hotel ou grande exploração”. Pelo contrário, “gostava de ver este edifício para serviço público. (…) Gostava de o ver entregue ao poder político para benefício das pessoas de Alijó”.

Sobre a degradação atual do edifício, outro entrevistado comenta:

Está muito degradado, mas eu acho que no tempo em que foi construído era um dos melhores. Eu acho que sim. [As pessoas] odeiam no sentido de ele estar abandonado, abandalhado, e não ficar bonito na fotografia, mas eu acho que as pessoas também sentem que ele tem alguma história aqui.

Se tem alguma memória ou informação relacionada com este registo, por favor envie-nos o seu contributo.

Identificação

Data de Conclusão
1983
Comunidade

Localização

Localização
Morada
Avenida 25 de Abril, Alijó
Distrito Histórico (PT)
Vila RealDistrito Histórico (PT)
Contexto
UrbanoContexto
InteriorContexto

Estado e Utilização

Estado
ConstruídoEstado da Obra

Cronologia de Atividades

Atividades 2

Documentação

Documentos 3

A informação constante desta página é fruto do trabalho de Catarina Ruivo e Ivonne Herrera. Foi reunida através de diferentes fontes documentais e dos diversos contributos e testemunhos que pudemos recolher em Alijó, entre os quais o de Humberto Santos, e outros que permanecem anónimos.

Para citar este trabalho:

Arquitectura Aqui (2024) Quartel dos Bombeiros Voluntários de Alijó. Acedido em 18/09/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/obras/2000/quartel-dos-bombeiros-voluntarios-de-alijo

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).