Pesquisar por

Objeto

Agentes

Atividades

Documentação

Testemunho anónimo-01, Arganil

Se tem alguma memória ou informação relacionada com este registo, por favor envie-nos o seu contributo.

Identificação

Título
Testemunho anónimo-01, Arganil
Relacionado com
ArganilComunidade

Conteúdo

Registo da Observação ou Conversação

Conversa anónima com mulher numa loja de Arganil. Conversa mantida com a investigadora Ivonne Herrera Pineda em maio de 2023. Esta senhora fala sobre várias questões relevantes para a sua vida quotidiana na localidade de Arganil.

Centro de saúde de Arganil

A sua experiência no centro de saúde é negativa devido à a alguns requerimentos que foram recentemente implementados e que dificultam o acesso das pessoas idosas ao serviço. Por exemplo, a privacidade dos dados e às novas tecnologias constituem barreiras para estas pessoas. Ela conta que queria marcar uma consulta e disseram-lhe que tinha de a fazer online. Ela tem um smartphone, mas não o sabe usar. "este telemóvel é como um burro a ver um palácio". Pediu um número de telefone para ligar -porque antes podia-se fazer assim-, mas não lhe deram o número de contacto, argumentando que não podem preferir umas clínicas a outras.

Conhece vários centros porque teve uma doença grave. Ela fala com alguma frustração sobre a sua experiência: "em todos eles me trataram bem: Coimbra, Castelo Branco, e só aqui esta porcaria”...

Outras questões – Construção coletiva de conhecimento

Ela salienta a importância de conhecer e valorizar o passado e conversar com as pessoas mais idosas: “Eu quero saber dos meus antepassados e não há nenhuma informação, ninguém sabe. As pessoas estão a morrer ou a sair daqui e ninguém sabe do que eles sabiam”.

Também fala da impotência dos esforços coletivos quando não tem resposta por parte das instituições publicas, depois de muito esforço. Por exemplo, o seu filho, atualmente profissional, fez um estudo sobre os poços de água da região nos anos 2000. Depois vieram os incêndios em Pedrógão, que tornaram visível a importância de saber onde estão esses poços. O filho lamenta que este e outros estudos que custaram muito trabalho ("andou quilómetros e quilómetros para o fazer, e nada mudou") não tenham repercussão pública e nem sequer sejam lidos. Numa entrevista diz que ele respondeu "ok, temos eucalipto, mas não chega para todo o papel que está nas gavetas [os estudos que não tem efeitos práticos e são esquecidos]".

Outras questões – Relações sociais em Arganil

O dia da conversa ela estava numa loja porque tinha uma consulta no dentista. Enganou-se no horário e para não ter de ir até casa (ela mora em Arganil, mas é longe e é difícil para ela andar) ficou nesta loja à espera enquanto falava com a comerciante, a dona da loja, até à hora da consulta.

Também diz que não frequenta muito os espaços fora de casa.

- Investigadora: “Onde é que as mulheres se encontram em Arganil?"

- Entrevistada: "Não sei, não vou lá fora”.

A recolha e incorporação do testemunho oral foi elaborada por Ivonne Herrera Pineda, com base numa conversa informal mantida em maio de 2023.

Para citar este trabalho:

Arquitectura Aqui (2024) Testemunho anónimo-01, Arganil. Acedido em 31/10/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/notas-de-observacao-ou-conversacao/35827/testemunho-anonimo-01-arganil

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).