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Testemunhos no passeio grupal pelo Bairro do Património dos Pobres, Covilhã

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Testemunhos no passeio grupal pelo Bairro do Património dos Pobres, Covilhã

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Registo da Observação ou Conversação

Passeio realizado como parte das Jornadas Europeias do Património, atividade organizada em parceria com o Arquivo Municipal de Covilhã, a Biblioteca Municipal de Covilhã e a iniciativa Arquitectura Aqui em setembro de 2023. Participaram neste passeio aproximadamente umas 12 pessoas. Estiveram presentes os investigadores da iniciativa Arquitectura Aqui: Ricardo Agarez, Diego Inglez de Souza e Ivonne Herrera Pineda.

A maioria dos testemunhos a seguir não são atribuídos pelo nome da pessoa que fala, pois não foi possível identificá-los.

Bairro do Património dos Pobres de Covilhã

António Rodrigues de Assunção (participante do passeio): a história do bairro se inicia com um terreno que foi oferecido pelo Conde da Covilhã, que era um industrial que tinha dinheiro e terrenos. Ele ofereceu uma área vasta de terreno para nele serem construídas casas para os pobres. Para financiar a construção das casas os outros industriais, alguns da Covilhã, contribuíram. Cada um construiu a casa, e colocou o nome do construtor no muro da casa. Depois envolveu-se nisso a obra do Padre Américo, que entrou também a ajudar. Isto foi seguramente, na década dos 40 ou 50 do século passado [não sabe ao certo].

As famílias, geração para geração foram ficando. No entanto, em 2014 ou 2015 houve um conflito, que depois se resolveu, entre os moradores e a Câmara. A Câmara mandou uma correspondência para o morador a dizer que tinham de sair ou seriam retirados das suas casas. O António Assunção consultou os estatutos do bairro e a doação era vitalícia, então eles não deviam pagar renda nem havia senhoria. Eles não podiam vender, mas tinham direito de usufruir.

A Câmara disse tem de sair daí e deu um prazo. E isso gerou um desentendimento grande.

Posteriormente saiu na comunicação que houve um acordo entre a autarquia e os atuais moradores, segundo o qual, eles podem ficar nas casas até ao fim da geração dos que estão atualmente, mas depois os sucessores já não podem ficar. Não pagam renda, mas à medida que vão falecendo, não há continuidade para os sucessores.

Participante do passeio: no início, quando foram construídas estas casas, as pessoas moradoras tal vez trabalhariam nos lanifícios, porque era o mais provável na altura dos anos 40 ou 50.

Participante do passeio: vi numa fotografia que era terra batida aqui e os meninos brincavam aqui. Iam à escola a um quilómetro daqui, à escola do Campos Melo. Mas com a chuva ou a neve caminhar um quilometro era difícil.

Falámos com um habitante do bairro que vive ali há 50 anos. Está a trabalhar numa horta num pequeno terreno. Diz-nos que as condições da sua casa são más: "estão todas [as casas do bairro] quase a cair" e a Câmara não fez quaisquer melhorias. Há duas casas desabitadas, e uma casa ardeu há alguns anos.

Sanatório dos ferroviários [Sanatório das Penhas da Saúde]

- Diego Inglez de Souza (participante do passeio): o sanatório dos ferroviários foi utilizado para abrigar refugiados durante muito tempo.

- Participante do passeio: eles tiveram durante um ano ou dois anos. Esse sanatório agora é uma pousada. O arquiteto que concebeu o sanatório foi o Cottinelli, um arquiteto italiano.

- Ricardo Agarez (participante do passeio): nunca construíram aqui casas para refugiados então?

- Pedro Seixo (participante do passeio): depois, alguns saíram de lá [do sanatório] para a Covilhã e outros foram para o distrito.

- Participante do passeio: foram distribuídos quando chegaram.

A recolha e incorporação dos testemunhos orais foi elaborada por Ivonne Herrera Pineda, com base num encontro público e coletivo (2023).

Para citar este trabalho:

Arquitectura Aqui (2024) Testemunhos no passeio grupal pelo Bairro do Património dos Pobres, Covilhã . Acedido em 31/10/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/notas-de-observacao-ou-conversacao/35863/testemunhos-no-passeio-grupal-pelo-bairro-do-patrimonio-dos-pobres-covilha

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).