Testemunho de Raul Silva, Miranda do Douro
Identificação
Conteúdo
Conversa com as investigadoras Ivonne Herrera Pineda e Catarina Ruivo em dezembro de 2023 no seu gabinete.
Raul Silva é natural de Miranda
do Douro. Grande conhecedor da sua história e património, trabalha fazendo
visitas guiadas pela cidade. Da iniciativa Arquitectura Aqui, agradecemos a sua amabilidade em falar connosco. Seguem-se algumas informações partilhadas durante a conversa.
Quartel dos Bombeiros
Sobre o quartel novo: “Quem tinha um palmo de testa percebia que a localização era errada”.
A área industrial que está na saída da cidade era ideal para um quartel de bombeiros devido à sua localização estratégica e plana. No entanto, antes a mobilidade era mais difícil e isso levou a considerar uma opção mais próxima das casas e trabalhos dos bombeiros, apesar de potencialmente mais dispendiosa.
Na zona do quartel novo não havia nada, só o hotel e umas casinhas.
Ele recorda o compromisso do seu pai e gostaria de um reconhecimento maior pelo seu esforço. Lembra-se que ele tinha paixão por ser bombeiro e que as vezes até colocava a profissão à frente da família.
Na família, “nós temos sempre a certeza é que ele vai, nunca sabemos se ele regressa. Ou seja, ele vai, vai vivo, não sabemos se ele regressa vivo. Porque há muitos que regressam mortos. E aqui tivemos já três ou quatro”.
Ligavam-lhe a seu pai por telefone para avisar de urgências. No antigo local, ele tocava à sirene porque morava perto, e os bombeiros iam ao quartel.
Agora, nos domingos, toca-se à sirene a uma hora específica para evitar avariar-se sem uso.
Hospital
O seu pai tinha problemas de saúde relacionados com as duras condições de vida que teve de enfrentar desde criança.
O seu pai teve um acidente de trabalho e foi tratado no hospital. Passou muito tempo em recuperação, sem subsídios nem salário, e mesmo ainda não recuperado queria ir quando havia alguma urgência.
“O hospital é do tempo, é anterior à barragem. É na preparação da receção da barragem”.
Bairro verde e Terronha
Os técnicos e engenheiros viviam no bairro verde, as casas eram de madeira boa, e tinham de tudo (aquecimento, luz, agua, zona de hortas, etc.).
Atualmente existem duas ou três casas do bairro que existia de Terronha, que foram construídas pela Hidouro e tinhan telhado de fibrocimento.
Na Terronha as famílias zonas de baldias e faziam hortas.
Centro de interpretação
Essa casa foi construída pelas contribuições da população para ter condições para abrir a barragem. “A população aqui construiu muitas das coisas, por união entre as pessoas”
A casa estava dividida em duas partes: do lado direito, a guarda fiscal, do lado esquerdo, os serviços de transição de fronteiras.
Outras questões- Centro histórico
Reconstruir edifícios é muito difícil e caro: muitos requerimentos, burocracia e tempo de espera, pormenores muito exigentes durante o processo.
Sua avó criava animais numa casa localizada no centro histórico.
A rua dos palheiros no século XIX era o lugar onde se guardavam os cavalos de guerra, da armada.
A recolha e a sistematização deste testemunho oral foram elaboradas por Ivonne Herrera Pineda, com base numa entrevista realizada em dezembro de 2023.
Para citar este trabalho:
Arquitectura Aqui (2024) Testemunho de Raul Silva, Miranda do Douro. Acedido em 21/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/notas-de-observacao-ou-conversacao/35946/testemunho-de-raul-silva-miranda-do-douro