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Edifício dos CTT, Caixa Geral de Depósitos e Auditório de Miranda do Douro

O longo processo de construção de um novo edifício dos Correios, Telégrafos e Telefones (CTT) em Miranda do Douro começou em 1945, altura em que a Administração Geral dos CTT solicitou a intervenção do Presidente da Câmara Municipal (CMMD) para interceder junto ao proprietário do edifício onde se encontravam então instalados os serviços no sentido de realizar obras de renovação. Após várias respostas negativas do proprietário, A Administração Geral dos CTT informou a CMMD que seria impossível instalar em Miranda do Douro um novo edifício, “em virtude de essa cidade não estar incluída no Plano Geral de Edificações, aprovado pela Lei 1959, de 3/8/937, e não ser possível, agora, encarar-se essa hipótese”.

Uma década depois, um ofício da mesma entidade refere ter sido considerada e descartada a possibilidade de adaptar o edifício do Paço Episcopal para instalação dos serviços. Reiterando não ter verbas para um novo edifício, agora maioritariamente empregues no desenvolvimento da Rede Telefónica Nacional, a Administração Geral dos CTT solicitou que a CMMD procurasse “interessar um capitalista ou qualquer entidade particular na construção de um edifício para arrendar ou ceder a esta Administração-Geral, que prestaria toda a sua assistência técnica na condução das respectivas obras”, modalidade que vinha a ser utilizada para resolver casos semelhantes.

Em 1958, um ofício do presidente da Câmara, Augusto César Meirinhos, evidenciava as recentes transformações sentidas em Miranda do Douro. A ausência de um edifício para os CTT na cidade foi-se tornando mais grave com o profundo aumento populacional associado à construção da Barragem. Neste ofício, onde solicitava a construção de um novo edifício, o presidente descrevia “a aglomeração de público de todas as categorias no acanhado edifício, acotovelando-se em frente aos guichés, situados em espaços onde mal cabem meia dúzia de pessoas”, que causa que “Senhoras e crianças não possam, como é óbvio, utilizar a escura e imprópria estação dos CTT”.

Finalmente, entre 1958 e 1960, a Administração Geral dos CTT comprou, à Câmara Municipal e à Paróquia, um terreno situado em frente à Sé Catedral de Miranda do Douro que continha um edifício pré-existente, seiscentista, chamado “O Casão”. A sua localização, em frente de um imóvel classificado como Monumento Nacional, levou a que o projeto tivesse de ser submetido à apreciação de diferentes entidades estatais, sofrendo sucessivas alterações para responder aos reparos da Junta Nacional da Educação.

Elaboraram-se pelo menos três projetos diferentes para o novo edifício dos CTT antes da aprovação do definitivo. O primeiro, de 1968, não foi aprovado por não conseguir conciliar “um edifício de índole quase industrial com o respeito que as imediações directas da Sé de Miranda do douro exigem”. Outro projeto, de 1977, elaborado pelo arquiteto José Pedro de Macedo, não foi aprovado pela Direção Geral do Território. Em 1979 surgiu uma nova proposta, do arquiteto Domingos Fernandes.

Ao longo destes anos, a troca de correspondência entre as diferentes entidades envolvidas focou-se na questão da demolição ou aproveitamento do edifício pré-existente no terreno adquirido pelos CTT, opção favorecida pela Assembleia Municipal que, em 1978, considerava que a obra se arrastava há demasiado tempo, fruto de uma “nítida tentativa da Câmara para mudança do local previamente escolhido […] sem audiência da Assembleia Municipal”.

O projeto definitivo data de 1981 e foi o primeiro projeto realizado por um arquiteto local - Carlos Garcia - a pedido de um novo executivo da Câmara Municipal, em funções a partir de 1979. Este projeto foi fruto da reunião de interesses entre os CTT, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) - duas empresas estatais - a Câmara Municipal e a Paróquia de Bragança e Miranda - duas entidades locais - que construíram o edifício com os fundos que cada uma e o dividiram entre si.

Em 1982, uma notícia num jornal não identificado noticiava que “Em Miranda do Douro Edifício seiscentista está a ser destruído”. A notícia relatava que, “até agora, sempre o «Casão» se tinha salvo, graças aos esforços de quantos se interessam por zelar a conservação do Património Cultural de que (ainda) dispomos” e terminava por questionar o significado desta destruição para o património Cultural de Miranda do Douro.

O “Casão” não foi destruído na sua totalidade, mantendo-se, em parte, integrado no novo edifício dos CTT, CGD e Centro Paroquial. No entanto, se as suas arcadas ainda se adivinham no claustro interior do Centro Paroquial, a questão da destruição da casa seiscentista persiste entre a população de Miranda do Douro, existindo quem se pronuncie contra a construção de um edifício que “quebrou completamente o ambiente artístico e urbanístico do tempo” (testemunho de participantes da atividade O Arquivo Vivo da Nossa Memória, em junho de 2023).

Se tem alguma memória ou informação relacionada com este registo, por favor envie-nos o seu contributo.

Identificação

Data de Conclusão
1983
Comunidade

Localização

Morada
Rua do Paço, nº 3
Distrito Histórico (PT)
BragançaDistrito Histórico (PT)
Contexto
UrbanoContexto
InteriorContexto

Estado e Utilização

Estado
ConstruídoEstado da Obra

Cronologia de Atividades

Atividades

Descrição Breve

Análise Conjugada de Forma, Função e Relação com o Contexto

O edifício situa-se dentro da zona de proteção da Sé Catedral de Miranda do Douro, para a qual volta uma fachada branca com a altura de dois pisos, com cércea alinhada pela da malha urbana pré-existente.

Conjuga serviços dos Correios, Telégrafos e Telefones (CTT), da Caixa Geral de Depósitos, Auditório e Salão Paroquial em duas zonas, interligadas. Metade de edifício seria propriedade da Caixa Geral de Depósitos e serviria de instalações para os seus serviços. O primeiro andar da outra metade pertenceria à Diocese e o seu rés do chão aos CTT.

O projeto preservou parte de um edifício seiscentista pré-existente no terreno, preservando a sua fachada interior e o claustro existente.

Documentação

Documentos 4

A informação constante desta página, fruto do trabalho de Catarina Ruivo e Ivonne Herrera, foi reunida através de diferentes fontes documentais e dos diversos contributos e testemunhos que pudemos recolher em Miranda do Douro, entre eles os dos vários participantes do evento Cumbersas ne l Arquibo, realizado em 16 de junho em 2023 com a colaboração do Arquivo Municipal de Miranda do Douro, sobre o tema Arquitetura Aqui em Miranda do Douro: O Arquivo Vivo da Nossa Memória.

Para citar este trabalho:

Arquitectura Aqui (2024) Edifício dos CTT, Caixa Geral de Depósitos e Auditório de Miranda do Douro. Acedido em 18/09/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/obras/1698/edificio-dos-ctt-caixa-geral-de-depositos-e-auditorio-de-miranda-do-douro

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).