Edifício-Sede da Sociedade Recreativa e Dramática Eborense, Évora
O Edifício-Sede da Sociedade Recreativa e Dramática Eborense (SRDE) foi promovido na década de 1960 por essa associação, fundada em 25 de abril de 1897 com a denominação de Grupo Recreativo e Dramático Eborense. A SRDE teve várias designações ao longo do tempo – sendo também conhecida popularmente como Antiga Mocidade – e também conheceu várias localizações, até se fixar durante numerosas décadas (1904-1962) no Palácio dos Condes de Basto (no Páteo de São Miguel), primeiro nos salões nobres e mais tarde, a partir de 1959, no antigo celeiro do Cabido da Sé de Évora. Na sequência da aquisição desse conjunto edificado por Vasco Maria Eugénio de Almeida, a SRDE acordou com o novo proprietário a saída do palácio, mediante a concessão por um subsídio para auxílio na construção da nova sede da associação, conferido já no âmbito das competências da Fundação Eugénio de Almeida, criada em 1963. Um ano antes, em junho de 1962, a sociedade deixou definitivamente o local e instalou-se, provisoriamente, em barracões contíguos ao Páteo de São Miguel, até se transferir em 1973 para a sede atual, localizada na Zona de Urbanização n.º 3 em terreno adquirido para o efeito pela própria SRDE.
Para a concretização do novo edifício-sede colaborou também a Câmara Municipal de Évora (CME), nomeadamente através da elaboração do projeto pela sua Repartição Técnica (arquiteto Rui Ângelo do Couto). A sociedade dispunha também de fundos próprios resultantes da sua atividade, bem como da oferta de materiais e mão de obra pelos sócios empreiteiros e operários da construção civil. É referido também, na documentação consultada, um pedido de comparticipação à Fundação Calouste Gulbenkian, embora não tenha sido possível até ao momento confirmar se tal pedido foi efetivado.
Em 1963, a SRDE submeteu, para fins de comparticipação, o projeto da sua nova sede à apreciação da Direção-Geral dos Serviços de Urbanização (DGSU) do Ministério das Obras Públicas (MOP), bem como à Direção-Geral dos Espetáculos (que aprovou condicionadamente o projeto a 2 de janeiro de 1964). Em setembro de 1964, a sociedade dispunha de 280 contos para a realização da obra. O pedido de comparticipação foi tornado definitivo após entrega do projeto ao Ministro das Obras Públicas aquando da sua visita a Évora nesse mesmo mês. Deu entrada na Repartição de Melhoramentos Urbanos (RMU) da Direção dos Serviços de Melhoramentos Urbanos (DSMU) da DGSU-MOP, com o número 208/MU/64, sendo a obra considerada de interesse público. No entanto, o processo foi atribulado e a comparticipação, inscrita nos Planos de 1969 e 1970, acabou por ser anulada.
Para este desfecho contribuíram vários fatores, embora o principal tenha sido a demora por parte das várias entidades intervenientes, o que não ia ao encontro do sentido de urgência asseverado pela SRDE, causando descrença entre os sócios acerca das possibilidades reais de construção da nova sede. Um dos argumentos invocados pela DGSU era que ainda não se tinha iniciado a construção dos arruamentos da Zona de Urbanização n.º 3 (90/MU/64). No entanto, a recusa da entidade peticionária em resolver alguns aspetos importantes de ordem técnica no projeto do edifício contribuiu também, claramente, para o bloqueio do processo. A obra estava orçamentada em c. 700 contos, e a comparticipação seria de c. 224 contos (32%).
Para não perder o direito à comparticipação, a SRDE pediu, em agosto de 1967, autorização para iniciar a primeira fase da obra, uma vez que com o passar dos anos o orçamento tinha vindo gradualmente a encarecer. As propostas para a construção foram recebidas em junho de 1968, tendo sido apreciadas pela Direção de Urbanização de Évora (DUE), que então propôs a aprovação definitiva do projeto, a sua inclusão urgente em Plano para fins de comparticipação, a autorização para início da obra com fiscalização da DUE, e a aceitação do empreiteiro escolhido na sequência do concurso de empreitada. No entanto, tais propostas não foram consideradas pela DGSU, uma vez que a entidade peticionária ainda não tinha efetuado as (pequenas) alterações exigidas pela Inspeção dos Espetáculos, nem tinha apresentado estudo de estabilidade para aprovação superior. Para além disso, a percentagem da comparticipação em análise foi reduzida para 10%, sem que tenha sido dada, aparentemente, nenhuma justificação.
A SRDE iniciou a obra em 8 de julho de 1968, não contando com a fiscalização da DUE, que aconselhou a suspensão imediata dos trabalhos uma vez que não tinha ainda recebido – nem, consequentemente, aprovado – o projeto remodelado e complementado da nova sede. A sociedade chegou a entregar alguns elementos de cálculo de estabilidade, mas tais não foram considerados por não constituírem um projeto completo, e porque não respondiam às novas obrigações de reforço antissísmico, então recentes. A SRDE não entregou mais elementos e prosseguiu com a obra – que, em março de 1970, já se encontrava bastante adiantada –, perdendo assim o direito à comparticipação, no valor de 71 contos. Não obstante, a construção foi levada até ao fim e a nova sede da associação foi inaugurada em 27 de maio de 1973, com um ciclo de festas que se prolongou pelo mês de junho.
Notas
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Localização
Estado e Utilização
A informação constante desta página foi coligida por João Cardim, em abril de 2024, com base em diferentes fontes documentais e bibliográficas.
Para citar este trabalho:
Arquitectura Aqui (2024) Edifício-Sede da Sociedade Recreativa e Dramática Eborense, Évora. Acedido em 23/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/obras/18497/edificio-sede-da-sociedade-recreativa-e-dramatica-eborense-evora