Paços do Concelho de Figueiró dos VinhosCâmara Municipal de Figueiró dos Vinhos
O atual edifício dos Paços do Concelho de Figueiró dos Vinhos corresponde à reconstrução de um edifício destruído por um incêndio na noite de 28 para 29 de maio de 1936, pouco antes da inauguração das obras de ampliação do edifício primitivo. Logo após a tragédia, o então presidente da Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos Manuel Simões Barreiros optou pela reconstrução do edifício destruído, "um símbolo de perseverança, da vontade de vencer e um sinal de vitória" (Barreiros, 1943). O responsável pelo projeto de reconstrução foi o arquiteto Frederico Caetano de Carvalho.
O edifício consumido pelo fogo havia sido construído no final do século XIX e ampliado no começo dos anos 1930 segundo o projeto do arquiteto Camilo Korrodi, que acrescentou-lhe um novo andar.
"O edifício dos Paços do Concelho de Figueiró dos Vinhos, construção projetada em 1874, tornou-se insuficiente para alojar os diferentes serviços e repartições donde resultou a necessidade de pensar na sua ampliação. Tratando-se de uma construção como no caso presente, perfeitamente isolada por largos públicos e ruas que a circundam, a ampliação a fazer-se só poderia levar-se a efeito com a construção de um novo pavimento. Posto assim o problema e estudadas as condições da atual construção, que admite perfeitamente esta ampliação, fomos levados a ocupar-nos de um modo especial do exterior, por forma a obter depois de realizadas as obras projetadas, um edifício de linhas e proporções harmoniosas." (Camilo Korrodi, Memória descritiva, 1933 in Processo DREMN-1104-13, Arquivo DGPC/DGEMN)
Por ocasião da elaboração do Plano de Urbanização da vila, desenvolvido pelo mesmo arquiteto, considerou-se a construção de um novo edifício para abrigar o executivo municipal e outros serviços públicos. Os antigos Paços do Concelho seriam transformados em em um hotel, equipamento que a classificação de estância turística, obtida nos anos 1930, demandava. Ainda que existam alguns estudos para a construção de um novo edifício para os Paços do Concelho no Arquivo Distrital de Leiria, esta possibilidade foi finalmente abandonada, procedendo-se à ampliação do edifício então existente.
Depois do incêndio, houve alguma hesitação acerca da reconstrução, em função das disposições do Plano de Urbanização, que previa outra localização para os Paços do Concelho. Em Parecer acerca deste novo projeto, elaborado pelo arquiteto Frederico Caetano de Carvalho, a Comissão de Revisão da Direção dos Edifícios Nacionais do Centro, considera ser do "seu dever ponderar a discordância que nota entre a grandeza do edifício e as modestas condições do meio a que ele se destina e entende, que, sem prejuízo da completa satisfação das exigências que um Município de 3ª ordem para instalação das suas repartições pode, justificadamente, ter, uma obra de proporções mais razoáveis e, portanto, de custo mais reduzido".
O Parecer sobre o projeto emitido pelo Conselho Central do Ministério das Obras Públicas e Comunicações, datado de 24 de Janeiro de 1938, considerou "delicado este assunto que tem antecedentes complicados", uma vez que, face ao parecer do Ministério no sentido de reduzir a "desproporcionada grandeza" do edifício, "a Câmara Municipal entrou em conflito com o arquiteto autor, recusando-se a pagar-lhe o trabalho feito, alegando que tinha sido rejeitado, e solicita assistência técnica desta Direção-Geral para a elaboração do novo projeto".
A solicitação acabou por ser atendida e a assistência prestada pelo arquiteto Frederico Caetano de Carvalho para a elaboração de um novo projeto para o edifício, em localização determinada pelo Plano de Urbanização. Sobre este novo projeto, o arquiteto Raul Lino fez em parecer várias observações acerca das dimensões exageradas do edifício, sugerido que alguns espaços fossem reduzidos. Lino acrescentou ainda que " Quanto ao exterior, também se pode dizer que o dispêndio representado no projeto não corresponde talvez ao efeito desejado e que se poderia obter com meios mais simples. Na verdade, a impressão que nos dá a frontaria principal não é satisfatória. Tem qualquer coisa de fragmentário, esquemático, como se lhe faltasse dizer aonda pretende chegar." Enquanto persistia a dúvida, avançavam os trabalhos de reconstrução da cobertura do edifício, orientados pelo arquiteto Alfredo Duarte Leal Machado, da Seção de Estudos da DENC, concluídos em Maio de 1938. Em 25 de Janeiro de 1940, a obra de "Construção dos Novos Paços do Concelho de Figueiró dos Vinhos" ainda aguardava a comparticipação do Fundo do Desemprego.
A pressão exercida pelo Presidente da Câmara Municipal acabou obrigar a DENC a concordar com a reconstrução do edifício tal como havia sido ampliado antes do incêndio.
Notas
Mesmo que surgido da ampliação de um edifício existente, os Paços do Concelho de Figueiró dos Vinhos inscrevem-se em um conjunto de construções com esta finalidade realizadas durante a transição da ditadura nacional para o Estado Novo, que materializam a intenção de fazer chegar a algumas comunidades do interior as disposições do governo central, diferenciando-se do período histórico que o precedeu através de uma obra de arquitetura marcante.
Durante o encontro “Histórias dos Edifícios Públicos de Figueiró dos Vinhos (1939-1985)” mostrámos uma notícia em formato de filme sobre o Primeiro de Maio de 1974, veiculada pela RTP1 no contexto da série Informação Diária. Alguns testemunhos apontam particularidades do tempo político e da relação com o espaço público, como a exposição ideológica das pessoas. De acordo com algumas das participantes:
- Aluna Sénior(1): "Quem está nesta manifestação são aquelas pessoas que se podiam expor mais, e que politicamente já tinham dentro de si uma ideia de esquerda, pronto, vá. E que, portanto, foi as pessoas que iam lá mais".
- Aluna Sénior (2): "As pessoas estavam reprimidas, eu acho que é isso".
- Aluna Sénior (3): "Pois. As pessoas aqui ainda estavam reprimidas".
No Plano de Urbanização de Figueiró dos Vinhos, os Paços do Concelho são o elemento primordial que ajuda a organizar a área central da vila, em relação direta com outros equipamentos preexistentes (como a Igreja Matriz) ou a construir. Mesmo que este plano tenha sido apenas parcialmente concretizado, a posição central dos Paços do Concelho permanece, articulando-se através dops espaços públicos com o Jardim Municipal, a Igreja Matriz e o Mercado do Peixe. Para este edifício convergem os principais eixos estruturantes da Vila, que a conectam com os concelhos vizinhos e autoestradas nacionais e concentram equipamentos públicos. Sua realização deve-se à "capacidade realizadora" de Manuel Simões Barreiros, segundo Pedro Santos Lopes (2023, p.168). O autarca esteve envolvido também na edificação de outros equipamentos públicos como a Casa do Povo, a Escola Primária, o Mercado de Peixe e a edifício dos Correios, entre outras das "Grandes Obras de Figueiró".
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Localização
Estado e Utilização
Documentação
A informação constante desta página é fruto do trabalho de Diego Inglez de Souza e de Ivonne Herrera Pineda, e foi reunida através de fontes documentais e bibliográficas e dos diversos contributos e testemunhos que pudemos recolher em Figueiró dos Vinhos. Conta ainda com a preciosa informação partilhada pelos vários participantes do evento “Histórias dos edifícios públicos de Figueiró dos Vinhos (1939-1985)”, realizado em outubro de 2023 na sede da Universidade Sénior de Figueiró dos Vinhos, sobre o tema dos edifícios públicos do século XX de Figueiró dos Vinhos.
Para citar este trabalho:
Arquitectura Aqui (2024) Paços do Concelho de Figueiró dos Vinhos. Acedido em 03/12/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/obras/2119/pacos-do-concelho-de-figueiro-dos-vinhos