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Edifício Sede da Casa do Povo do Concelho de Olhão, Moncarapacho, Olhão

Originalmente instituída Casa do Povo de Moncarapacho (CPM), a 28 de março de 1934, a Casa do Povo do Concelho de Olhão (CPCO), assim designada por compreender atualmente todas as freguesias do concelho teve um arranque de atividade corporativa lento, demorado e uma atividade inicial conturbada por anos de gestão pouco diligente de sucessivas direções. Organismo corporativo, criado por Decreto-Lei n.º 23.051, de 22 de setembro de 1933, exclusivamente para assistência ao aglomerado populacional rural atuava em três áreas sociais distintas: a previdência (e assistência), a educação e o progresso local desenvolvidos em prol das respetivas freguesia e população.

Depois do afastamento de J. S. Graça Caboz, que apesar de considerado um administrador mediano, fora demitido das funções de presidente da Assembleia Geral no final de 1943 e, após a eleição de novos corpos dirigentes presididos por J. Sousa Neto, que insistiam em negligenciar a gestão da instituição, viveu-se até 1946, porventura, uma das fases mais conturbadas da instituição. Um período de desgoverno e quase abandono, entre as ações de um escriturário pouco habilidoso e de um cobrador de moral algo questionável, a direção da CPM descorava os seus deveres sociais e os seus associados ao mesmo ritmo que acumulada dívidas e dificuldades na prestação de assistência e previdência à comunidade rural.

Foi F. Sousa Ladeira, figura incontornável na história da antiga CPM, na época 1º vogal da mesma da Assembleia Geral em funções que, na sequência do falecimento do então presidente (em fevereiro de 1946), assumiu a presidência de uma Comissão Administrativa criada por despacho superior para gerir a Casa do Povo. Não satisfeita, a direção demitiu-se e os demais funcionários abandonaram, também eles, a instituição. A Sousa Ladeira se ficou a dever muitos melhoramentos, quer a nível de serviços prestados aos associados, quer na construção efetiva do atual edifício sede da Casa do Povo. Até então continuava sedeada num rés-do-chão alugado, sem condições adequadas aos propósitos de uma Casa do Povo, distribuindo-se por pequenos compartimentos dotados de pouco mobiliário: uma sala de leitura que divida o espaço com a secretaria; uma sala para os ensaios da filarmónica; uma casa de arrumos que também servia de arquivo e uma cozinha; o gabinete da Direção; e por fim, um modesto posto médico com condições igualmente precárias.

Em menos de uma década a Comissão Administrativa, constituída por  Sousa Ladeira (presidente), J. Gonçalves Pereira (secretário) e J. J. Silva Nobre (tesoureiro), deu a volta à situação caótica e desprestigiante a que tinha chegado a instituição pois “…que a ação dos antigos dirigentes anteriores a 1945 foi desastrosa para a Casa do Povo”. Ao longo desse tempo a Comissão e, em especial, Sousa Ladeira, enfrentou a cólera de um grupo de individualidades das mais representativas da freguesia, entre os quais alguns dos elementos dos antigos corpos dirigentes da instituição que não contentes com a sua ação fiscalizadora, de tudo faziam para denegrir a sua imagem e dificultar o seu trabalho à frente da direção da Casa do Povo.

Os arquivos desta instituição abonam em defesa deste homem, de instrução rudimentar, de trato algo difícil porque ser tido por temperamental, mas de índole irrepreensível, de larga experiência de vida e espírito incansável no propósito de restituir o prestígio e retomar o fim social desta Casa do Povo. Homem da terra, reconhecido por todos como de “caráter sério e integro”, era proprietário rural, casado e com família constituída nesta freguesia. Foi, durante vários anos emigrante por países da América do Sul onde trabalhou na área da construção civil e adquiriu experiência suficiente para reconduzir a Casa do Povo na sua obra social.

Em 1953, volvidos quase 10 anos do momento em que Sousa Ladeira decidiu empreender a administração da Casa do Povo, uma inspeção efetuada pelos serviços centrais do Estado dá conta do “bom ambiente”, do “bom nome e prestígio” de que a instituição disfruta presentemente entre os habitantes da freguesia, “ao contrário do que acontecia anteriormente à data de posse da atual Comissão Administrativa”; a situação financeira foi reposta “…constituindo por si só, sólida garantia para o prosseguimento regular e intensivo dos seus objetivos sociais”.

Retificando as listas e respetivas classificações dos sócios, fazendo cobrar atempadamente as respetivas contribuições, lançando regular e corretamente as receitas e as despesas, numa gestão equilibrada dos dinheiros da instituição, sempre com o propósito predominante da previdência e da assistência social em prol dos seus associados e respetivas famílias às quais se estendeu a ação social da instituição (foram incluídas na assistência à saúde mulheres e filhos, até aos 18 anos de idade, dos beneficiários inscritos neste organismo) foi possível atingir o equilíbrio financeiro da instituição e criar um Fundo de Reserva considerável que permitiu concretizar a velha aspiração da comunidade em construir de raiz o edifício sede da sua Casa do Povo.

Abandonados em definitivo o projeto tipo para casas do povo do arquiteto Jorge de Oliveira e o projeto do engenheiro civil Joaquim Barata Correia, o pedido para a elaboração do novo projeto recai sobre o agente técnico de engenheira civil Fernando Leitão Nogueira que, dando cumprimento ao programa enunciado pela CPM e sob a orientação da Delegação Regional do INTP, projetou para Moncarapacho o imponente edifício que hoje é símbolo da perseverança de uma comunidade local. 

Após o 25 de abril de 1974, as Casas do Povo enquanto organismo corporativo são extintas e a instituição passa por um período de pouca atividade, assistindo-se ao gradual encerramento de alguns dos serviços. Com o tempo o edifício começa a acusar o passar dos anos e a necessidade de obras de manutenção. Em 1997, uma nova direção, presidida por Joaquim Botinas Fernandes, assume o comando desta Casa do Povo que, entretanto, havia sido transformada em Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) sobre a atual designação de CPCO. Até 2024 foram gradualmente executadas obras de conservação e manutenção do edifício; reabilitados compartimentos destinados a serviços entretanto extintos aos quais se deram novos usos sociais; recuperado o salão de baile com a substituição da cobertura e a recuperação da maior parte das carpintarias; aproveitado o depósito de água desativado e transformado em depósito documental; construídas novas instalações sanitárias, bar, cozinha e refeitório; e ainda um corpo novo e independente por detrás do preexistente que, encaixado no declive do terreno, não perturbar a leitura do edifício original. 

Se tem alguma memória ou informação relacionada com este registo, por favor envie-nos o seu contributo.

Identificação

Descritores
Data de Conclusão
1967.12.31
Comunidade

Localização

Lugar
Moncarapacho
Morada
Rua dos Sobrados
Distrito Histórico (PT)
FaroDistrito Histórico (PT)
Contexto
PeriurbanoContexto

Estado e Utilização

Estado
ConstruídoEstado da Obra
Utilização Inicial
Proprietário
Utilizador

Cronologia de Atividades

Atividades 2

Descrição Breve

Importância, Particularidades, Similaridades, Posição Relativa (Geografia e Cronologia)

A sede da Casa do Povo do Concelho de olhão é um edifício de presença imponente, implantado no limite poente do núcleo urbano de Moncarapacho, única freguesia rural deste concelho a constituir a sua Casa do Povo conforme determinava a lei. Foi construída na década de 1960 após várias tentativas sem sucesso. 

Análise Conjugada de Forma, Função e Relação com o Contexto

O edifício da CPCO é um equipamento de dimensões consideráveis no contexto arquitetónico geral de Moncaparacho. Implantado em terreno inclinado e terraplanado, a norte do eixo viário Estoi / Luz Tavira (EM 516), apresenta-se sobranceiro ao núcleo urbano e separado deste pela estrada de ligação Olhão / Santa Catarina da Fonte do Bispo (Rua dos Sobrados). 

O programa original a que responde a construção da década de 1960, foi distribuído por um corpo longitudinal de grandes dimensões, levemente curvo no sentido posterior, o que salienta a entrada principal do edifício. Um corpo vertical faz a separação entre o espaço mais lúdico que corresponde ao salão de baile com cobertura em telhado de três águas e o espaço assistencial, administrativo e educativo cuja cobertura única é em terraço. A leveza desta estrutura vertical utilitária, pois pretendeu responder à necessidade de dotar o equipamento de um depósito de água próprio uma vez que a localidade não tinha rede de abastecimento e distribuição água, é coroada por uma elegante pala assimétrica de betão armado que sobressai sobre o pequeno terraço.

Duas escadarias de vários lanços contornam, em sentidos opostos, o limite sul e nascente do terreno e dão acesso pedonal do patamar com características de miradouro rural que antecede o edifício. 

Em 2024 foi concluído um novo corpo, de piso único, linhas direitas, planta regular ligeiramente em "L", dissimulado entre o declive do terreno e o edifício original não alterando de todo a leitura deste último.  

Documentação

Documentos 4

A informação constante desta página foi redigida por Tânia Rodrigues, em maio de 2024, com base em diferentes fontes documentais e bibliográficas.

Para citar este trabalho:

Arquitectura Aqui (2024) Edifício Sede da Casa do Povo do Concelho de Olhão, Moncarapacho, Olhão. Acedido em 16/09/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/obras/2656/edificio-sede-da-casa-do-povo-do-concelho-de-olhao-moncarapacho-olhao

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).