Hospital de Santa Luzia, ElvasMaternidade Mariana Martins
A antiga Maternidade Mariana Martins, em Elvas – hoje integrada no conjunto do Hospital de Santa Luzia de Elvas – foi construída por iniciativa da Comissão Administrativa da Maternidade Mariana Martins de forma a transferir os seus serviços para um novo edifício dotado das adequadas condições à prática médica obstetrícia – já que se instalava num antigo edifício doado em testamento por Mariana de Jesus Mendes Martins, sem as devidas condições.
Tanto quanto a documentação recolhida e analisada permite compreender, o processo iniciou-se em 1949 com o pedido efetuado pela Câmara Municipal de Elvas, na pessoa do seu Presidente Mário Gonçalves Cidrais, ao Arq. Alberto Pereira da Cruz para a elaboração do projeto de um novo edifício para a Maternidade Mariana Martins – indicado pela Direção-Geral dos Serviços de Urbanização.
Elaborado pelo próprio arquiteto em colaboração com a direção da maternidade, o programa do edifício foi definido de acordo com as diretrizes da Direção-Geral de Assistência – tomando o projeto da Maternidade Alfredo da Costa como exemplo a seguir – e deu lugar a um anteprojeto. Esse anteprojeto viria a ser alvo de revisão por parte da Comissão de Construções Hospitalares em 1953 e 1954 – sendo a sua elaboração comparticipada pelo Ministério das Obras Públicas.
Assim, após aprovação do anteprojeto, é elaborado o projeto definitivo em agosto de 1956 – com honorários no valor total de 39.100$00. O projeto só viria a ser aprovado mais tarde, após parecer da Comissão de Construções Hospitalares, e autorizada uma comparticipação do Estado em 40% do valor total da obra (1.905.000$00). Em julho de 1957, esta Comissão referia ao autor do projeto que os trabalhos tinham já sido iniciados.
Em março de 1959, a direção da Maternidade solicitava à Fundação Calouste Gulbenkian um subsídio para levar a cabo a obra – o qual foi atribuído no valor de 650.000$00.
As obras viriam apenas a ser concluídas entre dezembro de 1960 e fevereiro de 1961. Em junho de 1963 a Fundação Calouste Gulbenkian concederia um novo subsídio para a aquisição de equipamento e o edifício da Maternidade viria a ser inaugurado a 8 de dezembro de 1963 [apesar de ser indicado nas publicações do Ministério das Obras Públicas como obra concluída em 1960 e a inaugurar em 1961]. A obra, no respeitante à construção e equipamento, ascenderia a um valor total de 2.170.000$00.
Sucessivamente ampliado, atualmente [2024] o edifício integra o conjunto que alberga o Hospital de Santa Luzia, administrado pela Unidade Local de Saúde do Alto Alentejo.
Notas
O Hospital de Santa Luzia localiza-se a Sul do Centro Histórico de Elvas, extramuros, junto à cintura de muralhas seiscentistas, classificadas como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO. Insere-se na malha urbana, nas imediações do Bairro de Santa Luzia e São Pedro, em proximidade com a Pousada de Elvas, o Quartel da Guarda Fiscal, a antiga Casa do Povo (onde atualmente funciona a Segurança Social) e o Estabelecimento Prisional de Elvas.
Com uma lotação total de 32 camas, p programa do edifício, inicialmente pensado para a Maternidade Mariana Martins, com planta em 'L' e cobertura de duas águas, distribuía-se por 3 pisos. No piso inferior, semi-enterrado, contava com vestíbulo, armazéns gerais, central de aquecimento, garagem, casa mortuária e sanitários - onde atualmente [2024] funciona o serviço de urgência e de imagiologia.
No piso do rés-do-chão localizavam-se os serviços mais destinados ao público ou que implicavam uma comunicação mais regular com o exterior. Assim, os serviços administrativos e de admissão localizavam-se junto à entrada principal, bem como as consultas externas de ginecologia e obstetrícia - em frente da secretaria de forma a melhor ser controlado o acesso. Estas consultas externas contavam com uma sala de espera, zona de registo de consultas, vestiários contíguos à sala de tratamento e consulta, pequeno laboratório de análises e instalações sanitárias. Por sua vez, o serviço de consultas externas de puericultura foi pensado como independente, no corpo saliente da fachada norte, sob o bloco operatório, permitindo o acesso fácil para o serviço simultâneo de ambos os setores. À entrada deste, um gabinete de enfermeira destinado ao registo de entradas, junto à sala de espera, que dava acesso às salas de consultas, salas de tratamentos, gabinete anexo para pesagem, instalações sanitárias e vestiários. Ainda no rés-do-chão, à direita da entrada, o serviço de ginecologia com enfermaria única de 6 camas, zona de serviços com sala de tratamentos, gabinete médico e instalações sanitárias anexas. Seguia-se a cozinha e serviços afins, bem como a lavandaria, engomadoria e zona de tratamento de roupas - com devido acesso ao exterior e em comunicação com a zona de internamento. Por fim, a zona de habitação de enfermeiras e criadas, com saída direta para o exterior e comunicação com a maternidade (no piso superior) através de escada de serviço.
No piso superior - assegurando o recato e isolamento conveniente aos utentes - situavam-se os serviços de internamento de obstetrícia, com capacidade para 27 grávidas. Este dividia-se em dois núcleos, separados por um átrio para evitar contágios, sendo que à esquerda localizava-se a zona de infetadas (com 3 quartos, sala de tratamentos e instalações sanitárias individuais) e à direita a zona geral (com 3 enfermarias de 6 camas cada, 5 quartos particulares, zona de serviços e sanitários). No topo da galeria ficava a zona de recém-nascidos, afastada do movimento da zona de internamento, contando com uma sala de prematuros e uma sala de banho - toda ela com divisórias envidraçadas de forma a permitir uma fácil vigilância total sobre toda a zona. Junto a esta, ainda uma moinha dietética que dava resposta a uma adequada alimentação dos recém-nascidos. Por sua vez, junto ao átrio, a zona operatória e de partos, contanto o bloco com sala de operações, sala de esterilização, sala de médicos, rouparias e arsenal cirúrgico, sanitários e sala de partos. Uma pequena capela assegurava ainda o serviço religioso.
Destaca-se a composição das fachadas pela sua simplicidade, sendo que, do ponto de vista arquitetónico, o arquiteto refere ter tido a intenção de criar um ambiente acolhedor e franco que conduzisse o doente a alterar a ideia de que o hospital era um ambiente inóspito e frio. O conjunto prezou pela sua integração não somente no local como na função a que se destinava.
Atualmente [2024], o edifício da antiga Maternidade Mariana Martins mantém o seu aspeto geral, apesar de ter sido sucessivamente ampliado para dar lugar atual Hospital de Santa Luzia. Fruto destas ampliações sucessivas, houve algumas intervenções menores ao nível da arquitetura interna do espaço, bem como a consequente refuncionalização das dependências - com vista a dar resposta ao funcionamento e necessidades do hospital, já que o serviço de maternidade encerrou em 2006.
Momentos-chave (clique abaixo para mais detalhe)
Localização
Estado e Utilização
Fórum
A informação constante desta página foi redigida por Tiago Candeias, em abril de 2024, com base em diferentes fontes documentais e bibliográficas.
A documentação localizada nos arquivos da Fundação Calouste Gulbenkian foi recolhida e sistematizada por Rita Fernandes em 2022.
Para citar este trabalho:
Arquitectura Aqui (2024) Hospital de Santa Luzia, Elvas. Acedido em 21/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/obras/5964/hospital-de-santa-luzia-elvas