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Projeto do Matadouro

Documentação relativa à conceção do Matadouro Municipal de Barcelos, contendo documentação relativa ao projeto de 1940 (memória descritiva e peças desenhadas) e pareceres das entidades competentes.

Se tem alguma memória ou informação relacionada com este registo, por favor envie-nos o seu contributo.

Identificação

Arquivo / Biblioteca
Tipo de Processo
Projeto de ArquiteturaTipo de Processo
Apreciação de ProjetoTipo de Processo
CorrespondênciaTipo de Processo
Anos Início-Fim
1940-1944
Localização Referida
Referência Outros Arquivos

Arquivo Municipal de Barcelos, Fundo de Obras - secção 13 cota 84.

Análise

Primeira Data Registada no Processo
1940.10.18
Última Data Registada no Processo
1944.06.02
Entidade Requerente / Beneficiária
Intervenção / Apreciação
João Soares Lobo DGSP 1941Pessoa
João Beleza Ferraz Intendente DGSP 1941Pessoa
Fontes Pereira de Melo Diretor DGSP 1941Pessoa
Decisão Política
Alexandre de Sá Carneiro Presidente CMB 1941Pessoa
Síntese de Leitura

1940.10.18 - Memória descritiva, assinada pelo engenheiro civil Francisco [apelido ilegível].

A memória começa por referir que a comissão nomeada pelo Ministério das Obras Públicas e Comunicações (MOPC) realizou um inquérito aos matadouros das capitais de distrito e concluiu que as “condições sanitárias em que é obtido o gado para alimentação pública, na quase totalidade dos concelhos do país, são muito precárias”. Acrescenta que “toda a gente teria repugnância de comer carne, se soubesse ou pensasse nas condições em que ela é preparada”. Descreve que “os matadouros são barracos imundos, sem água nem saneamento, em que as rezes são abatidas próximo dos estábulos em que permaneceram” onde, “desventradas as rezes, ficam as vísceras ali para um canto, e as moscas, depositando míriades de ovos, que dentro em pouco são larvas, pastam indiferentemente nos excrementos transbordantes e na carne branqueada que se destina à nossa alimentação”.

De seguida, a memória descreve o funcionamento de um matadouro moderno, onde a zona suja se diferencia da zona limpa, “as panças e tripas caem em recipientes especiais e são imediatamente afastadas para um corpo distinto e aí convenientemente tratadas com água fervente”. Refere-se o aumento de produtividade que um matadouro moderno permite: “Noutro tempo, no matadouro antigo, eram precisos 12 homens para [preparar um boi de 500 quilos]; com o guincho moderno, um rapaz de 16 anos preparou-o em menos de uma hora”.

Explica-se a importância da existência de matadouros municipais, em vez da concentração em matadouros distritais, que permite manter a receita resultante no município, a sua independência política e aumentar o número de trabalhadores empregados. Assim, considera-se justificada a construção de um matadouro quando o concelho está num centro de abastecimento de gado, e indica-se que “neste ponto de vista, poucos levarão a palma a Barcelos”.

Em 1939, o matadouro existente abateu, aproximadamente, 640 bois, 600 vitelas e 950 suínos. Prevê-se o aumento do consumo de carne no futuro, que é especialmente reduzido no Minho.

O matadouro localiza-se na margem do rio Cávado, a cerca de 500 metros do limite do aglomerado urbano existente - não por o matadouro ser insalubre, mas porque aí se encontrou um “terreno livre, amplo e barato”. Considera-se que a localização permite um saneamento fácil. Pela posição sobre o rio, o edificado é visível desde o aglomerado a sul, Barcelinhos, pelo que “o corpo principal se eleva com duas fachadas mais cuidadas; uma voltada para o caminho (…) e outra voltada para a ponte”.

O conjunto é composto por 3 corpos distintos. O principal corresponde à função de matadouro, sendo outro corpo para estábulo, casa do guarda e laboratório, e um terceiro para serviços auxiliares. Implantam-se ainda edifícios para garagem, balneário, vestiário e refeitório. Procurou-se que o corpo principal tivesse um aspeto monumental, através “da combinação de linhas simples, volumes cuidadosamente estudados e do contraste entre as grandes aberturas e as superfícies cheias”, não existindo “pormenores inutéis que viriam encarecer a construção e tirar-lhe o caráter próprio”.

Do ponto de vista construtivo, explica-se que as paredes de fundação e elevação serão em alvenaria com argamassa de cimento e areia, a cobertura em telha tipo marselha assente em madeiramento de pinho nacional.

1940.11.02 - Ofício do presidente da Câmara Municipal de Barcelos (CMB), dirigido ao delegado em Braga do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência (INTP), no qual informa que a CMB mandou elaborar um “projeto para apresentar ao Estado e solicitar a respetiva comparticipação” e solicita que informe sobre os salários mínimos de diferentes especialidades de construção.

1940.11.13 - Resposta do delegado, informando que não existem salários mínimos fixados para as especialidades indicadas.

1941.02.11 - Parecer favorável da Direção-Geral dos Serviços Pecuários (DGSP) sobre a construção de um matadouro em Barcelos, assinado por João Soares Lobo. Refere-se que a cidade de Barcelos tem cerca de 4.100 habitantes e é sede de um concelho com aproximadamente 58.000 em 88 freguesias, em relação com as quais ocupa uma posição central. Considera-se apropriado que as proporções do edifício tenham sido “calculadas para a capacidade de laboração prevista para uma futura concentração do serviço de matança da maior parte das rezes destinadas ao consumo do concelho”. Acha-se o local escolhido satisfatório e não se tem nada a objetar relativamente à composição, distribuição e ordenamento das secções de trabalho. 

1941.05.20 - O intendente, João Beleza Ferraz, remete ao presidente da CMB transcrição de um ofício do diretor da DGSP, Fontes Pereira de Melo. O ofício refere que está pendente de aprovação o projeto do novo matadouro municipal de Esposende, tendo recentemente sido aprovado o projeto do de Barcelos, com o custo aproximado de 850.000$00. Indica-se que o consumo de Esposende é de importância diminuta e questiona-se se o matadouro de Barcelos poderia abastecer essa vila, da qual dista apenas 13 quilómetros.

1941.06.07 - Ofício do presidente da CMB, Alexandre de Sá Carneiro, dirigido ao Intendente de Pecuária do Distrito de Braga, sobre a possibilidade de o novo Matadouro de Barcelos abastecer o concelho vizinho de Esposende. Realça-se que Esposende é mais próximo de Barcelos que algumas das freguesias do próprio concelho. Informa-se que tal não causaria sobrecarga de trabalho e não prejudicaria os negociantes de carnes de Esposende.

1941.07.10 - O diretor-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) solicita à CMB que remeta 3 exemplares das peças escritas do projeto e cópia do parecer da Direção-Geral dos Serviços Pecuários (DGSP).

1943.05.26 - Parecer da DGEMN sobre a construção do Matadouro Municipal de Barcelos. Considera-se o projeto bem concebido e realça-se que a DGSP considera o projeto como o melhor que nos “últimos tempos têm sido submetidos à apreciação” dessa Direção-Geral. A DGEMN nota algumas “deficiências de pormenor, facilmente remediáveis”, nos seus aspetos funcional, arquitetónico, económico e de organização.

Do ponto de vista do funcionamento, as notas incidem sobre a entrada dos animais, o manuseamento da carne rejeitada, os estábulos dos suínos, os trajetos a realizar pelos animais e o não aproveitamento do estrume dos animais (“O adubo orgânico é uma riqueza insubstituível").

Quanto ao aspeto arquitetónico, refere-se que o edifício projetado tem “caráter, mas apenas caráter industrial e atual e, dado o valor e vulto da instalação, conviria que o tivesse também local”. Nota-se que o edifício projetado ficaria “igualmente bem em Faro, Beja, Évora ou Bragança” e indica-se considerar que “o papel da arquitetura, como arte, deve ser diferente”. Nota-se que “não se conseguiu ainda um estilo arquitetónico definitivo ou característico e se vai notando, até, entre valores nacionais bem marcantes e firmados, o regresso lógico a certas expressões que melhor se adaptam ao nosso ambiente, ao nosso temperamento e aos nossos sentimentos estéticos”. Propõe-se, então, aproveitar “sim, da nova arquitetura, o que ela tem de lógica, de clara, de inteligente e prática, mas não abandonemos a harmonia, a beleza, e a poesia da feição portuguesa na arte de construir”.

1943.06.12 - Ofício do engenheiro diretor-geral da DGEMN, dirigido à CMB, pelo qual indica que esta deve mandar remodelar o projeto do Matadouro de acordo com o parecer da direção-geral. Informa-se que a obra está incluído no Plano de Melhoramentos Urbanos para 1943.

1943.06.18 - O engenheiro chefe da Secção de Melhoramentos Urbanos (DGEMN/SMU), Germano J. Venade, solicita à CMB que informe das quantidades, qualidades e secções de ferro necessárias para a execução da obra de construção do Matadouro Municipal, quando a mesma for aprovada e comparticipada.

1943.07.21 - Ofício do diretor-geral da DGSP, dirigido ao presidente da CMB, pelo qual se informa que a DGSP considerou necessária a instalação de um matadouro em Barcelos. Consideram-se as instalações existentes são precárias e insuficientes. Refere-se que o concelho de Barcelos, “já pela sua importância e estrutura administrativa, já por razões de fomento da sua pecuária bovina que é considerável, constitui uma unidade política e economicamente independente quanto ao seu abastecimento de carnes”.

1943.10.18 - A DGEMN/SMU informa a CMB de que o MOPC determinou o arquivo do processo da obra se a comparticipação não for proposta até 1944.06.30.

1944.06.02 - A DGEMN/SMU questiona a CMB por não ter ainda enviado o projeto remodelado do Matadouro Municipal.

Para citar este trabalho:

Catarina Ruivo para Arquitectura Aqui (2025) Projeto do Matadouro. Acedido em 03/09/2025, em https://arquitecturaaqui.eu/pt/documentacao/processos/61714/projeto-do-matadouro

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).