Matadouro Municipal, Barcelos
O projeto do Matadouro Municipal de Barcelos foi inicialmente elaborado em 1940, pelo arquiteto José Porto e os engenheiro Armindo Santos e Francisco Caravana. De iniciativa municipal, o conjunto de edifícios então proposto vinha modernizar as condições de preparação de carne para consumo no concelho, substituindo um matadouro existente.
A memória descritiva do projeto enfatizava a urgência da modernização de matadouros por todo o país, referindo um inquérito realizado pelo Ministério das Obras Públicas e Comunicações aos matadouros das várias capitais de distrito, que verificou a precariedade das condições sanitárias em que era obtido o gado para a alimentação pública. Os autores do projeto descrevem os matadouros existentes como “barracos imundos, sem água nem saneamento, em que as rezes são abatidas próximo dos estábulos em que permaneceram” onde, “desventradas as rezes, ficam as vísceras ali para um canto, e as moscas, depositando miríades de ovos, que dentro em pouco são larvas, pastam indiferentemente nos excrementos transbordantes e na carne branqueada que se destina à nossa alimentação”.
Em contraste, o novo matadouro era desenhado de forma a garantir a higiene de todos os procedimentos, assim como um aumento significativo de produtividade - já que, para a importância deste novo projeto, contava também o estimado crescimento do consumo de carne, especialmente reduzido na região do Minho. Se, “noutro tempo, no matadouro antigo, eram precisos 12 homens para [preparar um boi de 500 quilos]; com o guincho moderno, um rapaz de 16 anos preparou-o em menos de uma hora”.
O projeto foi apreciado favoravelmente pela Direção-Geral dos Serviços Pecuários, no início de 1941 e, em maio do mesmo ano, a mesma Direção-Geral contactou a Câmara Municipal de Barcelos, no sentido deste matadouro abastecer também o concelho vizinho de Esposende, evitando assim a construção de outro edifício. No entanto, dois anos mais tarde, em maio de 1943, a obra ainda não tinha avançado. Um parecer da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais apontava algumas deficiências de pormenor nos aspetos funcional, arquitetónico e económico do projeto do Matadouro. Em junho de 1944, a Câmara Municipal de Barcelos não tinha ainda apresentado o projeto remodelado.
Entre 1946 e 1949, a Câmara Municipal de Barcelos recebeu uma comparticipação do Estado, várias vezes reforçada, pelo Fundo de Desemprego, para a construção do seu Matadouro Municipal. De acordo com uma publicação do Ministério das Obras Públicas, o construção do conjunto foi concluída em 1951.
Para mais detalhes, consultar a secção Momentos-chave, abaixo.
Análise
O processo de conceção e apreciação do projeto do Matadouro Municipal de Barcelos ilustra um momento de procura e construção de uma linguagem arquitetónica. O parecer emitido em 1943 pela Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais nota a ausência de uma identidade local do projeto apresentado, que ficaria “igualmente bem em Faro, Beja, Évora ou Bragança”. Nota-se que “não se conseguiu ainda um estilo arquitetónico definitivo ou característico e se vai notando, até, entre valores nacionais bem marcantes e firmados, o regresso lógico a certas expressões que melhor se adaptam ao nosso ambiente, ao nosso temperamento e aos nossos sentimentos estéticos”. Propõe-se, então, aproveitar “sim, da nova arquitetura, o que ela tem de lógica, de clara, de inteligente e prática, mas não abandonemos a harmonia, a beleza, e a poesia da feição portuguesa na arte de construir”.
Momentos-chave (clique abaixo para mais detalhe)
Localização
Estado e Utilização
A informação constante desta página foi redigida por Catarina Ruivo, em maio de 2025, com base em diferentes fontes documentais e bibliográficas.
Para citar este trabalho:
Catarina Ruivo para Arquitectura Aqui (2025) Matadouro Municipal, Barcelos. Acedido em 05/09/2025, em https://arquitecturaaqui.eu/pt/obras/60934/matadouro-municipal-barcelos