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Testemunho de Manuela Ruivo e enfermeira Sónia Fernandes, Miranda do Douro

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Testemunho de Manuela Ruivo e enfermeira Sónia Fernandes, Miranda do Douro

Conteúdo

Registo da Observação ou Conversação

Conversa e visita ao hospital e ao lar de idosos de Miranda do Douro, com a companhia da Sónia Fernandes e Manuela Ruivo. Conversa mantida com as investigadoras Catarina Ruivo e Ivonne Herrera Pineda em junho de 2023. Da iniciativa Arquitectura Aqui, gostaríamos de agradecer profundamente pelo seu tempo, amabilidade e generosidade em partilhar connosco as suas experiências e lembranças sobre o antigo hospital, o centro de saúde e o lar de idosos. As informações que partilharam foram muito valiosas para a abordagem da história social de Miranda no âmbito desta investigação.

Manuela é filha de dois médicos que exerceram a sua atividade no antigo hospital. Sónia Fernandes é a enfermeira chefe do lar de idosos. Seguem-se algumas das informações partilhadas durante esta conversa sobre os distintos equipamentos de saúde.

Antigo Hospital

Ao fundo, localizava-se o consultório do Dr. Simão, estomatologista de Macedo de Cavaleiros.

Houve sempre uma sala de espera, onde os pacientes esperam pela atenção médica.

Visitamos as diferentes zonas do hospital, e a enfermeira Sónia Fernandes e a doutora Manuela Ruivo falam-nos de algumas das suas lembranças.

Andar de baixo:

O bloco operatório foi transformado: existia parede de vidro e zona de desinfeção.

No mesmo andar, havia uma sala de partos. Nesta sala havia uma incubadora, o que foi um equipamento muito importante na altura. Manuela lembra-se da relevância de ter uma incubadora no hospital: “Arranjaram uma incubadora, ela [a sua mãe, doutora] e a enfermeira D. Micó, não sei se já ouviu falar. Foi um achado arranjarem a incubadora. Porque houve uma vez que o meu pai [doutor] fez uma cesariana, e era um prematuro e tiveram de embrulhar lá com uns algodões e mandar para Bragança. Depois arranjaram a incubadora [...] Foi assim uma grande vitória”.

Mais tarde, foi criada a Unidade de Apoio ao Internamento.

Quando se desce aos andares inferiores, encontramos:

• O Serviço de Urgência, que permaneceu intacto.

• A Entrada de Ambulâncias, com portas amplas e acessíveis.

• A Sala de Espera, onde os pacientes esperam por atenção médica.

• O gabinete médico. A enfermeira Sónia diz que o gabinete médico era muito pequeno e tinha casa de banho. O gabinete de enfermagem contava com uma marquesa.

• A Sala de Tratamentos, onde os pacientes recebem medicamentos e cuidados especiais.

• A Capela e a Copa, que permanecem iguais.

• A Lavandaria.

• O Quarto do Médico, onde segundo a enfermeira Sónia Fernandes, os profissionais de saúde dormiam, quando estavam aqui 24horas. De acordo com Manuela Ruivo, inicialmente eram médicos da HED, estavam em casa e só vinham se fossem chamados. Quem estava sempre era o enfermeiro. Mas quando estavam de serviço estavam sempre lá. Depois vieram os médicos do Serviço Médico à Periferia — houve uma casa para estes médicos. A enfermeira Sónia acha que esta casa estava na zona da Terronha.

Hospital – Como Unidade de Cuidados Continuados

A Unidade de Cuidados Continuados foi criada com o objetivo de oferecer atenção médica especializada a pacientes com necessidades específicas. A enfermeira Sónia Fernandes lembra-se da sua criação: “A Unidade tem outras condições, sim, mas também a casa em si também já tem uma certa idade. [...] A barragem financiou porque eles necessitavam… E as grandes obras da Misericórdia foi através disso - Depois foi dado à Misericórdia, depois o Estado tomou conta da casa e depois devolveu à Misericórdia”.

Hospital- Tempo do centro de saúde

O Hospital foi também um centro de saúde. Lembra-se de haver sala de enfermagem, e da enfermeira Cruz, que tratava diversas doenças como hipertensão e diabetes.

Com o tempo, as instalações sofreram algumas transformações. Os gabinetes, por exemplo, foram ampliados ou subdivididos. Havia gabinete de saúde materna, gabinetes médicos, a sala de vacinação (anteriormente gabinete médico). Também havia sala de radiologia, que se manteve no hospital e centro de saúde, tal como a entrada e secretaria.

O centro de saúde estava próximo da vizinhança, pelo que a população vinha buscar atenção médica especializada com facilidade. Sónia Fernandes lembra-se da sua localização: “O centro de saúde era ao lado. Portanto, havia qualquer coisinha, era uma família que iam lá pedir ajuda, eles vinham logo aqui”.

Hospital- Edifício anexo

O Edifício anexo foi construído quando as Caixas de Previdência se fundiram com os Centros de Saúde. A sua função era administrar apoio ao centro de saúde, gabinetes de gestão e saúde pública.

Quando foi construído, existiu centro de saúde e hospital ao mesmo tempo. Manuela Ruivo não sabe se libertaram espaços de gestão que passaram para lá ou se esteve lá o centro de saúde.

Lar de Terceira Idade

Sónia Fernandes comenta que inicialmente os utentes vinham com muito mais energia. Agora vêm quando já não têm capacidades nenhumas. Dantes era como se fosse uma família, cozinhavam e comiam juntos…

Observamos que os dormitórios tem vista para pátio interior ou para fora, sobre a paisagem. Também observamos que há quartos com cozinha [sem fogão], com lavatório e despensa. Segundo Sónia, os utentes eram independentes, pelo que usavam equipamentos como a cozinha. Salienta o sentido de autonomia que tinham: “eles vinham para aqui, mas eles viviam”. Era uma pessoa ou um casal por quarto, agora os quartos são partilhados por vários utentes [quatro camas no quarto que visitámos]. Observamos que há uma varanda com floreira em betão. Sónia lembra de antigos utentes ter por vezes ervas aromáticos. Ela resume: “eram antigos apartamentozinhos”. O lar era muito atrativo quando foi feito e as pessoas que vieram eram pessoas de camadas sociais mais elevadas.

Sónia Fernandes refere que o jardim interior antes era muito utilizado pelos utentes, em torno de alguns bancos e a vegetação. Hoje já não têm pessoas com essa capacidade para usar estes espaços como antes. E eles não se envolvem neste tipo de atividades, que já foram propostas pelos profissionais.

Relativamente às particularidades do lar, Sónia Fernandes menciona que se tem acesso à Igreja por dentro do lar. Assim os utentes não apanhavam chuva. “Isto é uma Misericórdia, uma misericórdia está ao lado da Igreja da Misericórdia”. Vemos na parede fotografias de algumas pessoas. Sónia diz: “Isto foram utentes que passaram por aqui e que deixaram doações”.

Manuela Ruivo lembra-se do processo de construção do lar, e conclui: “foi uma grande guerra fazer isto dentro das muralhas”.

Quando as investigadoras lhe perguntam como a população percebeu a estética do edifício, Sónia Fernandes responde: “Isso era muito a frente para... Isto é assim, é em betão, e na altura não existia esta estética". Também informa sobre um projeto para construir outro lar. Será num terreno que foi cedido pela Câmara, no bairro verde, e acha que é um projeto muito giro, que terá energias sustentáveis.

A recolha e a sistematização deste testemunho oral foram elaboradas por Catarina Ruivo e Ivonne Herrera Pineda, com base numa entrevista realizada em junho de 2023.

Para citar este trabalho:

Arquitectura Aqui (2024) Testemunho de Manuela Ruivo e enfermeira Sónia Fernandes, Miranda do Douro. Acedido em 21/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/notas-de-observacao-ou-conversacao/22316/testemunho-de-manuela-ruivo-e-enfermeira-sonia-fernandes-miranda-do-douro

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).