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Testemunho de Elsa Alves e Rosário Castro, Alijó

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Título
Testemunho de Elsa Alves e Rosário Castro, Alijó

Conteúdo

Registo da Observação ou Conversação

Testemunho recolhido em conversa no mercado, em junho de 2023, com as investigadoras Ivonne Herrera Pineda e Catarina Ruivo. Testemunho da Elsa Alves, antiga trabalhadora do Mercado Municipal de Alijó, e da Rosário Castro, atual trabalhadora e proprietária de uma frutaria no Mercado Municipal de Alijó.

Elsa trabalhou como peixeira no Mercado Municipal de Alijó durante 24 anos, mas já não trabalha lá há 6 anos, porque a peixaria fechou.

Rosário trabalha como vendedora de fruta e legumes. Trabalha no Mercado Municipal de Alijó há 40 anos.

Ambas valorizam o tempo que passam no mercado como uma forma de se afastarem da rotina diária em casa, e de criar laços sociais com outras pessoas. São ambas mulheres trabalhadoras, ativas e sociáveis que gostam de fazer amizade com outras pessoas. O mercado é um local onde puderam desenvolver as suas capacidades pessoais e profissionais.

Mercado Municipal de Alijó

O local onde se encontra atualmente o mercado era um campo de futebol. Lembram-se bem de como eram os jogos neste terreno. Não se tratava de um campo de futebol oficial, mas sim de um lugar conhecido por todos.

A peixaria situava-se onde hoje se encontra a loja do Pet Shop. Depois todo o mercado foi para obras. Durante as obras as diferentes lojas funcionaram em contentores que foram colocados encima, ao pé da rua. Ali estiveram por 2 ou 3 anos. Quando estavam nos contentores tinham boas condições de conforto e estavam também mais ligados à rua, o que permitia que pessoas que não conheciam ou não frequentavam o mercado pudessem vir comprar quando passavam na rua. No entanto, preferem ficar onde estão porque a feira também se realiza lá em baixo.

Durante as obras, não sabiam das transformações que iam ser feitas até verem o resultado. Tudo estava fechado, pelo que também não puderam ver as alterações que estavam a ser feitas. Algumas coisas foram feitas sem atenção a pormenores importantes. Por exemplo, uma das lojas têm azulejos, como se fosse uma peixaria, quando não é.

Rosário Castro (sobre a sua frutaria): depois das obras ficou um bocadinho mais resguardado. Antes era mais aberto e não havia os vidros, então fazia muito frio. Acha que agora é melhor, antes a porta era muito pesada, como aquelas cortinas pesadas que fechavam-se com dois fechos por dentro.

Costumavam ter uma casa de banho em cada loja. Agora é coletiva e a organização da limpeza não funciona bem, pelo que as casas de banho não são muito limpas. Também é preciso andar de um lado para o outro, o que não é tão cómodo como antigamente.

As pessoas das aldeias traziam produtos, tudo o que tinham (batatas, couves, frutas). Mas isso acabou quando essas pessoas morreram, porque ficaram mais idosas e o que faziam ficou por desaparecer. Estas práticas desapareceram há cerca de 10 anos por esta razão e não porque não vendiam os seus produtos.

Há alguns anos, o mercado funcionava como um local onde as pessoas iam comprar, mas depois começaram a chegar os supermercados e isso dificultou muito as coisas.

Os lugares de estacionamento do mercado são utilizados por algumas pessoas como parque de estacionamento (como os professores da escola em frente ou os utilizadores da piscina) mas essa não é a função destes lugares, que são destinados para os clientes. No entanto, segundo Elsa, multar ou fechar o parque de estacionamento era prejudicial para os comerciantes. Agora está aberto todo o dia. Elsa considera que se poderia pensar num parque de estacionamento com um horário de funcionamento limitado.

Depois dos trabalhos, os comerciantes reuniram-se e decidiram como é que as lojas seriam distribuídas. Cada um escolheu a loja que mais lhe interessava.

Rosário Castro diz que pode sair por uns minutos e deixar uma carta a dizer que volta dentro de pouco tempo e os clientes ficam à espera porque sabem que ele não vai demorar.

Elsa Alves diz que, durante o seu trabalho como peixeira, ouviu muitas histórias de vida. Algumas pessoas sentiam-se confiantes para lhe contar situações pessoais muito difíceis, e ela era uma espécie de apoio só por as ouvir. Sente-se grata por essa confiança em partilhar coisas que são tão especiais ou sensíveis para as pessoas.

Agrupamento de Escolas D. Sancho II

As crianças da escola em frente ao mercado (Agrupamento de Escolas D. Sancho II) costumavam vir ao mercado para comprar rebuçados. Agora já não é assim, porque as saídas das crianças estão vigiadas e têm de atravessar a avenida que tem mais trânsito.

Para citar este trabalho:

Arquitectura Aqui (2024) Testemunho de Elsa Alves e Rosário Castro, Alijó. Acedido em 31/10/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/notas-de-observacao-ou-conversacao/28967/testemunho-de-elsa-alves-e-rosario-castro-alijo

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).