Mercado Municipal, Alijó
Desde o início da década de 1940 que a Câmara Municipal de Alijó pretendia construir o Mercado Municipal da vila. No entanto, este apenas foi concluído mais de 40 anos depois.
O primeiro documento encontrado relativo à construção de um edifício para Mercado em Alijó data de 1941, momento em que a Câmara Municipal encomendou um projeto ao arquiteto Cassiano Barbosa, com implantação definida num terreno localizado no extremo nascente do Jardim da Avenida Francisco Sá Carneiro. Em janeiro de 1944, o arquiteto apresentou um anteprojeto. Na memória descritiva explicava que o terreno escolhido correspondia ao recinto onde, então, se realizava a feira semanal: um “terreno naturalmente indicado, não só relativamente ao aglomerado urbano, onde ocupa uma posição central, mas ainda porque deve servir a população das freguesias vizinhas”. A memória referia também, a propósito, que, na Vila de Alijó, se realizavam mensalmente duas feiras de produtos agrícolas próprios da região, gados e outros, e semanalmente dois mercados, sendo estes últimos que se pretendia albergar no novo edifício. Este anteprojeto recebeu pareceres favoráveis das entidades competentes a nível local e central, e o arquiteto apresentou um projeto definitivo em julho de 1945, com orçamento de 1.020.285$00.
Desconhecem-se as razões pelas quais este projeto não avançou, mas, em setembro de 1962, o mercado continuava a realizar-se em condições precárias, sem estruturas próprias. A construção de um novo mercado estaria, de acordo com a Direção de Urbanização de Vila Real, dependente da elaboração do estudo do anteplano de urbanização da vila. Este estudo encontrava-se pendente desde 1957, sendo então recomendado à Câmara Municipal que rescindisse contrato com o seu urbanista. Três anos depois, a obra de um novo mercado foi incluída no plano de obras a comparticipar, tendo, no entanto, ficando sem efeito, pois, até 1970, a Câmara Municipal de Alijó não conseguiu apresentar nenhum anteprojeto.
O anteprojeto apresentado em junho de 1970 foi elaborado por outro arquiteto, que se julga ser irmão do autor do primeiro e natural de Alijó. Implantava-se numa nova localização, agora frente à estrada nacional que atravessa a vila, num terreno onde, de acordo com testemunhos locais, existia um campo de futebol. A localização numa via de grande acessibilidade era valorizada na memória descritiva do anteprojeto que, descrevendo Alijó como “uma das vilas mais progressivas e airosas de Trás-os-Montes”, salientava a sua boa situação geográfica, onde “as gentes das Freguesias e Concelhos vizinhos se apoiam, pois aí encontram Comércio variado, Pensões, Pousada, Restaurantes, Cafés, Snack-Bar, Agentes Bancários e de Seguros, Hospital Maternidade, Cantina Escolar, Creche, Liceu Municipal, Liceu particular, 3 feiras mensais, 2 mercados semanais, Carreiras diárias para a Estação de Caminho de Ferro e para todas as freguesias e Capital de Distrito, além do que é normal em qualquer outra Comarca e Concelho”.
O projeto definitivo do Mercado data de abril de 1974, tendo recebido apreciações favoráveis ao longo de 1975 e 1976. Com uma comparticipação do Estado de 11.819.000$00, as obras iniciaram-se em outubro de 1976.
No entanto, dois anos depois, em outubro de 1978, a fiscalização de obra verificava que os trabalhos decorriam “a ritmo muito lento, tendo paralisado totalmente há cerca de um mês” com a realização de trabalhos apenas no valor de 7.500.000$00. O mesmo acontecia em todas as obras adjudicadas ao mesmo empreiteiro em Alijó, que tinha suspendido o pagamento aos trabalhadores e se encontrava “numa situação financeira que torna iminente a declaração de falência”. No início do ano seguinte, em 1979, o contrato foi rescindido com o empreiteiro e a comparticipação do Estado reforçada com 7.653.000$00.
Desconhecem-se as datas exatas de inauguração e entrada em funcionamento do Mercado Municipal de Alijó. Em conversas com comerciantes do mercado que aí se encontram desde a sua inauguração, estas referiram, em 2023, lá trabalhar há cerca de 40 anos, o que coloca a conclusão da obra em inícios da década de 1980.
Notas
O arquiteto António Cândido de Magalhães Barbosa de Abreu e Lima elaborou, em 1975, o projeto do Quartel dos Bombeiros Voluntários de Alijó, também em seguimento a um projeto de Cassiano Barbosa, de 1943, que, por razões desconhecidas, não avançou. Entre a população da vila, sabe-se que o mesmo arquiteto elaborou os dois projetos, sendo este percebido como um arquiteto importante, reconhecido. Não é claro se esta importância é atribuída ao arquiteto Cassiano Barbosa, em concordância com a historiografia da disciplina da Arquitetura, ou ao arquiteto dos projetos finais de dois edifícios de grande relevância para a vila.
O Mercado Municipal de Alijó situa-se a nascente da Estrada Nacional 322-3, que atravessa a Vila desde sul (adquirindo, dentro desta, o nome de Avenida 25 de Abril), e dá acesso à Nacional 212, em direção a Vila Real. Aqui, encontra-se na proximidade de um conjunto de edifícios públicos e outros grandes equipamentos, na sua maioria construídos entre as décadas de 1950 e 1980. Entre estes, contam-se o antigo Externato Liceal, hoje integrado no Agrupamento de Escolas D. Sancho II, o Quartel dos Bombeiros Voluntários, a Adega Cooperativa e o atual edifício da Drapnorte, originalmente um Centro de Formação Agrícola. Mais recentemente, construíram-se o campo da feira, as piscinas e centro desportivo, e o centro de saúde.
A sua localização é central, associada ao eixo viário de maior movimento da vila e de fácil acessibilidade desde as freguesias do concelho, e circundada por vários equipamentos de uso diário por grandes quantidades de pessoas. No entanto, o edifício do Mercado Municipal de Alijó, organizado numa plataforma que se desenvolve desde a rua principal e se mantém de cota, projetando-se sobre a paisagem, volta-se para dentro. Da Avenida 25 de Abril, apenas são visíveis as amplas coberturas de betão, assentes numa pronunciada e ritmada estrutura de pilares e vigas, que abrigam as bancas exteriores do mercado e organizam o terreno, dividindo-o em três espaços principais: um corredor, em L, de acesso às lojas interiores; um espaço amplo definido por três conjuntos de bancas com cobertura; um terceiro espaço, a uma cota superior, com abrigo em betão, mas sem bancas de mercado.
Se a interioridade das lojas - desenhadas por baixo de um percurso paralelo ao passeio principal, começando à mesma cota deste e terminando numa escadaria - as afasta do movimento da rua, esta pode ter contribuído para a construção de dinâmicas de proximidade entre os comerciantes do mercado. Era no espaço definido entre três das grandes estruturas de betão, abrigados por uma paralela à frente de rua, que os comerciantes organizavam almoços em conjunto: um levava as batatas, outro o pão, outro a carne.
As bancadas, protegidas pelas amplas estruturas de betão, aparecem como paralelepípedos horizontais, com cobertura de mármore, elevados a cerca de 70 centímetros do chão. Esta configuração leva a que, durante os momentos de realização do mercado, sejam utilizadas como bancos pelos comerciantes, que ali se sentam ou armazenam material, usando mesas desmontáveis para criar outras bancas de venda, informais e temporárias, à sua frente.
No início da década de 2010, o Mercado recebeu obras de renovação e beneficiação. Durante este período, que durou 2 ou 3 anos até 2014, as diferentes lojas funcionaram em contentores colocados na plataforma paralela ao passeio, visíveis e acessíveis pela rua. De acordo com testemunhos de comerciantes, isto facilitava que pessoas que não conheciam ou não costumavam frequentar o mercado visitassem as lojas. Mesmo assim, as comerciantes cujos testemunhos recolhemos ao longo de 2023 são claras na sua preferência pelas lojas voltadas para dentro, em frente ao espaço do mercado que se realiza mensalmente. As obras realizadas incidiram, principalmente, sobre os espaços de loja. Colocaram-se janelas a proteger os espaços, anteriormente abertos para o exterior, e aumentaram-se as áreas interiores. Isto resultou na eliminação das casas de banho particulares de cada loja, sendo a partilha de casa de banho a principal queixa das comerciantes entrevistadas sobre o espaço do Mercado.
Momentos-chave (clique abaixo para mais detalhe)
Localização
Estado e Utilização
Documentação
A informação constante desta página foi reunida por Catarina Ruivo e Ivonne Herrera através de diferentes fontes documentais e bibliográficas e dos diversos contributos e testemunhos que pudemos recolher em Alijó ao longo de 2023. Conta com os testemunhos de Elsa Alves e Rosário Castro, assim como de todos os participantes no encontro “Edifícios Públicos e Comunidade”, realizado em 31 de agosto de 2023 com a colaboração da Câmara Municipal de Alijó, através da Vereação da Cultura, da Vereadora Mafalda Mendes.
Para citar este trabalho:
Arquitectura Aqui (2024) Mercado Municipal, Alijó. Acedido em 21/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/obras/2001/mercado-municipal-alijo