Cooperativa Hortícola do Divor - Fábrica de concentrado de tomate - Projeto
Este processo faria parte da candidatura a empréstimos e/ou comparticipação por via da figura dos Melhoramentos Agrícolas.
Capa com a seguinte inscrição manuscrita: “Pr.º Nº 15.747 [aferimos que este número corresponde ao processo de Melhoramento Agrícola; existe também outra numeração (13.474), correspondente ao número do contrato de empréstimo com a Junta de Colonização Interna], Cooperativa Hortícola do Divor, Medições – Estimativa e Estudo Económico”. O processo está dividido entre: Dimensionamento – Estimativa e Estudo Económico (34 páginas datilografadas); Memória Descritiva (7 páginas datilografadas); e peças desenhadas (8).
Identificação
Análise
O índice do Estudo Económico, para a instalação de uma unidade fabril de concentrado de tomate, contém a seguinte inscrição manuscrita: “O outro volume está na posse do Eng. Teles Ribeiro”. Do documento destacam-se: “Objeto do estudo”, “Capacidade de Instalação”, “Localização”, “Dimensionamento”, “Estimativa Orçamental” e “Estudo de Viabilidade Económica”.
O estudo para a fábrica baseava-se “nos elementos sobre regadios da região, com uma área de produção, numa 2ª fase, da ordem de 700 ha/ano a 900 ha/ano”. O promotor foi a Cooperativa Hortícola do Divor, “com 25 sócios e uma área social abrangendo os concelhos de Montemor-o-Novo, Arraiolos, Évora, Portel, Viana do Alentejo, Estremoz, Borba, Vila Viçosa, Alandroal, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Mourão e Vendas Novas [todos os concelhos do Distrito de Évora à exceção de Mora], com o objetivo de proceder à industrialização dos produtos hortícolas, nomeadamente o tomate numa 1.ª fase, provenientes dos regadios dos referidos concelhos de forma a permitir o seu melhor aproveitamento e uma parcial reconversão do Perímetro da Graça do Divor, até agora, quase exclusivamente explorado em cultural orizícola”.
“A capacidade da fábrica, dada a sua natureza Cooperativa, portanto aberta a todos os produtores, não tem um carácter rígido, tendendo antes a aumentar à medida que o sistema se impuser no conceito da lavoura regional e o número de associados for aumentando”.
O terreno (11 hectares) para a instalação da fábrica foi adquirido pela cooperativa, localiza-se a cerca de 1km da aldeia da Igrejinha, e encontra-se abrangido pelo Perímetro de Rega da Graça do Divor, cujo canal principal limita o referido terreno a poente.
O estudo segue com o dimensionamento do equipamento fabril para as várias etapas do processo de transformação do tomate em concentrado, incluindo instalações de captação e transporte de água a partir “do canal condutor de Perímetro de Rega, para o que se obteve a respetiva autorização da Associação dos Regantes”. Outras “secções auxiliares” incluem locais para instalação e tratamento de água.
No capítulo dedicado à construção civil, considera-se que “não seria economicamente aconselhável proceder a adaptações graduais da construção civil”, ou seja, construir a fábrica por fases, uma vez que “as demolições e reconstruções” necessárias para responder a uma maior capacidade fabril instalada seriam demasiado onerosas. Deste modo, explica-se que todas as instalações terão um caráter definitivo, à exceção do armazém de expedição, do parque de receção, do pátio de arrefecimento e das instalações sociais. A totalidade das edificações previstas foram as seguintes: parque de receção (cobertura); nave de fabrico (2 sectores); parque de arrefecimento (cobertura); armazém de expedição; prensagem e secagem do repiso; central de vapor; oficinas; posto de transformação; instalações sanitárias; báscula (fossa e edifício); escritórios e laboratório; edifício dos serviços sociais; armazém; cais descoberto (receção); parque de viaturas; parque de arranço de grades; portaria e habitação do porteiro. Todas estas edificações correspondem a uma área coberta de cerca de 14.200m2.
A estimativa orçamental divide-se da seguinte forma: aquisição e preparação do terreno e instalação dos esgotos (2810 contos); edificações (6112 contos); instalações complementares (1870 contos); equipamento principal e auxiliar [algum a vir de Itália] (12.340 contos); material diverso (2230 contos); encargos diversos, incluindo o projeto (2584 contos), num total arredondado de 28.000 contos.
O documento prossegue com o Estudo de Viabilidade Económica, que nos fornece informações relevantes ao nível do pessoal empregue: “um conjunto fabril desta natureza (características nitidamente sazonais) possui, além do pessoal fixo constituído pelos quadros técnico [5 pessoas] e administrativo [9], operários especializados e pequena quantidade de mão de obra não especializada [27], um grande predomínio de pessoal eventual, totalmente preenchido por mão de obra não qualificada, oscilante ao longo do período da campanha e atingindo o seu máximo no período de ponta, isto é, de 10 de Agosto a 15 de Setembro”.
As necessidades de pessoal eventual, “numa indústria cuja atividade está limitada a cerca de 3 meses por ano”, divide-se por três períodos: atividade ascendente (25 julho – 9 agosto); plena atividade (10 agosto – 25 setembro); atividade descendente (26 setembro – 31 outubro). O primeiro período teria a necessidade de 30/50 mulheres e 20/30 homens, o segundo de 50 mulheres e 30 homens, e o terceiro teria sensivelmente as mesmas necessidades do primeiro.
O Estudo de Viabilidade Económica conclui que a rentabilidade do capital investido no empreendimento seria de 14,3%.
O processo contém ainda o projeto da Fábrica de Concentrado de Tomate da Cooperativa Hortícola do Divor S.C.R.L., que inclui memória descritiva e peças desenhadas. A memória descritiva, não assinada nem datada, descreve essencialmente as características técnicas e construtivas da unidade industrial, dividida em Edifício Fabril; Coberto das Básculas e Cabine de Controle; e Conjunto da Portaria, Edifício Social, Escritórios, Balneários-Vestiários e Refeitório.
As peças desenhadas são datadas de fevereiro de 1968 e exibem no rótulo o logótipo da Divisão de Estudos e Realizações Industriais (DERI) da Metalúrgica Duarte Ferreira (MDF), Avenida Duque de Ávila, 23 – Lisboa. De entre os desenhos podemos encontrar a planta geral de urbanização (escala 1:500), bem como plantas e alçados do edifício fabril (1:200). Os desenhos contêm assinaturas (ilegíveis) dos desenhadores/projetistas.
A fábrica de concentrado de tomate foi ampliada logo depois e o complexo fabril expandiu-se para responder a novas solicitações, nomeadamente a industrialização do arroz, da azeitona e do pêssego (conforme informação de 1972).
Para citar este trabalho:
Arquitectura Aqui (2024) Cooperativa Hortícola do Divor - Fábrica de concentrado de tomate - Projeto. Acedido em 22/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/processos/16400/cooperativa-horticola-do-divor-fabrica-de-concentrado-de-tomate-projeto