Bairro de Casas para Pescadores, Albufeira
Em 1948, a Câmara Municipal de Albufeira (CMA) é informada pela Direção dos Serviços de Urbanização do Sul (DSUS) da inclusão de um bairro de 100 casas para pescadores no Plano de Melhoramentos desse ano, a construir pela Junta Central das Casas dos Pescadores (JCCP), com 50% de comparticipação do Estado, para o qual deveria escolher um terreno na vila de Albufeira junto à praia.
À Repartição de Melhoramentos Urbanos (RMU) da Direção-Geral dos Serviços de Urbanização (DGSU) competia a assistência técnica ao processo, com a elaboração do projeto, e acompanhamento e fiscalização da obra. Contudo, o pouco cuidado colocado nesta tarefa levou a atrasos na implantação do bairro e até à alteração dos projetos tipo a usar. Esteve inicialmente previsto a adaptação dos projetos tipo de Casas para Pescadores, da autoria do arquiteto Ignácio Peres Fernandes, dos bairros em construção nas localidades de Portimão e Olhão mas, em pouco tempo, foram substituídos pelo projeto tipo, da autoria do arquiteto Ruy da Silveira Borges, de Casas para Famílias Pobres.
A ideia inicial acabou por ser reduzida a metade e, em 1949, o engenheiro civil Jayme Couvreur da RMU, dá seguimento ao processo elaborando o programa de concurso, o caderno de encargos e as medições para a construção, num terreno com cerca de 17.000 m2, de um bairro de 50 casas de habitação para 268 pessoas da classe piscatória de Albufeira. Destas, 16 seriam casas do tipo A com dois quartos (com 36 m2), no valor de 23.950$00 escudos/unidade; e 34 seriam casas do tipo B com três quartos (com 45 m2), no valor de 27.750$00 escudos/unidade, num total de 1.326.100$00 escudos.
Por despacho de Frederico Ulrich (MinOP), de 28 de abril desse ano, a obra foi comparticipada em 688.500$00 esc., distribuído por dois anos, através do Fundo de Desemprego, autorizando desta forma a JCCP a promover a abertura de concurso para adjudicação da obra. Dos vários empreiteiros admitidos a concurso, a entidade peticionária (EP) escolhe a proposta de Alcindo Pinheiro Aleixo no valor de 990.500$00 esc. por ser a mais económica, escolha que recebeu a concordância dos serviços centrais.
A obra de construção do bairro, que tinha o prazo de conclusão de 18 meses, arrastou-se por vários anos principalmente por motivos económicos associados a subidas consecutivas nos preços de bens e serviços, as quais o empreiteiro acabaria por não conseguir suportar, apesar de todos os apoios e facilidades dados pelas diferentes entidades, desde empresas credoras às entidades estatais, levando à rescisão do contrato com a EP. Contudo, o desempenho exemplar do mesmo, não fosse os aumento exorbitantes no sector da construção civil no pós-guerra, levou a que a JCCP optasse por manter Alcindo Pinheiro Aleixo como responsável da obra por parte da Junta o que teve o aval da DGSU.
Concluída em 1954 a construção das 50 habitações, continuavam a decorrer as obras de urbanização do bairro (redes de água, esgotos e eletricidade) com projeto de Alberto da Silveira Ramos e plano de plantação de Aníbal de Almeida Marques que, novamente devido a constrangimentos de ordem económica, ficou aquém do mínimo necessário, nomeadamente ao nível do pavimento dos arruamentos.
Em 1958 a JCCP ainda manifestou interesse em ampliar o bairro chegando a solicitar ao arquiteto Alexandre Bastos um anteprojeto mas, por razão não apurada, não teve seguimento. Mais tarde, após o 25 de abril de 1974, a Comissão administrativa da CMA e a Comissão de Moradores do Bairro de Pescadores de Albufeira tentaram, por várias vias e através de diversas entidades, ver concretizada a velha ambição de construir a segunda fase do bairro, tamanho era o número de famílias de pescadores carenciadas de habitação, contudo, sem efeito.
Em 1977, a CMA elabora um projeto para arranjos nos arruamentos do bairro, que viria a ser comparticipada a 100% pelo Estado através do Gabinete do Planeamento da Região do Algarve (GaPA).
Notas
Ao contrário de outros bairros de Casas para Pescadores construídos na região do Algarve, o bairro de Albufeira foi construído a partir de um projeto, elaborado por Ruy da Silveira Borges (ArqDGSU/RMU), para o programa habitacional de Casas para as Famílias Pobres.
Aquando da sua construção na década de 1950 o bairro gozava de privilegiada implantação sobranceira à Praia dos Pescadores, desfrutando de uma vista panorâmica sobre o oceano atlântico.
O Bairro de Casas para Pescadores foi construído a nascente do antigo núcleo urbano da vila de Albufeira, num terreno periférico com cerca de 17.000 m2. Para o efeito a CMA teve que adquirir várias parcelas a particulares.
Procurando responder-se às diretrizes dos serviços centrais, foi projetado um bairro de casas térreas em blocos de duas habitações, respeitando os materiais e técnicas construtivas locais e priorizando a economia da obra. O declive acentuado do terreno dificultou a implantação das casas e encareceu a obra, cujo projeto sofreu adaptações ao nível das escadas de acesso às habitações.
O conjunto apresenta uma distribuição curvilínea, com as casas no eixo viário exterior orientadas a norte/nordeste e as restantes, nos dois eixos viários secundários, orientadas a sul e/ou a poente. Todas com logradouro nas traseiras das habitações. O bairro é ainda atravessado por um eixo principal com orientação norte/sul.
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Localização
Estado e Utilização
Materiais e Tecnologias
A informação constante desta página foi redigida por Tânia Rodrigues, em abril de 2024, com base em diferentes fontes documentais.
Para citar este trabalho:
Arquitectura Aqui (2024) Bairro de Casas para Pescadores, Albufeira. Acedido em 21/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/obras/18920/bairro-de-casas-para-pescadores-albufeira