A construção da Casa do Povo de Santa Marta de Portuzelo não foi um processo simples nem incontroverso.

Constituída em 1937 e abrangendo uma freguesia essencialmente agro-pecuária com cerca de 3.000 habitantes, em 1943 a Casa do Povo de Santa Marta de Portuzelo já dispunha de uma sede, construída de raiz no centro da localidade. Nem a Casa do Povo nem o seu edifício foram bem recebidos pela população. Um relatório de inspeção de 1943 descreve que a freguesia viveu um “péssimo ambiente político nos inícios do regime republicano, tendo as perseguições políticas e religiosas atingido proporções gravíssimas” e que, embora o “28 de maio tenha acalmado as hostilidades, existem ainda indivíduos impenitentes que não perdoam a mudança havida e se aproveitam de tudo para habilidosamente hostilizar o actual regime”. Neste contexto, a Casa do Povo destacava-se como alvo, sendo a situação resultado, segundo relatório de 1944, da “maneira um pouco violenta como se obrigaram os lavradores de Santa Marta a inscreverem-se”, e exacerbado, segundo relatório de 1943, pela ausência de trabalho social praticado pela instituição. De acordo com o inspetor, “apenas fizeram uma linda sede… onde não vai ninguém!” Esta sede descreve-se como “um descalabro” em termos financeiros, tendo absorvido quase toda a receita ordinária e vários subsídios do Fundo Comum.

Em 1943, a Casa do Povo ainda não se encontrava completamente concluída. Em 1944, o edifício continuava a não ser frequentado pela população, que se mantinha nas antigas instalações da instituição, partilhadas com o Rancho das Lavadeiras de Santa Marta.