Construção das Novas Instalações da Sociedade Filarmónica Recreio e União Alhosvedrense, em Alhos Vedros
Processo constituído por 8 volumes, contidos em pastas distintas, contendo documentação textual e gráfica referentes ao processo de construção de novas instalações para a Sociedade Filarmónica Recreio e União Alhosvedrense, em Alhos Vedros:
- Duas pastas cartão bege da Direção-Geral do Ordenamento do Território (1.º e 2.º volumes);
- Uma pasta cinza com inscrições manuscritas (3.º volume);
- Pasta com capa marmoreada com etiqueta manuscrita referente às instalações elétricas;
- Pasta verde com inscrição manuscrita “Propostas”;
- Três pastas de cartolina plastificada, brancas, relativas ao projeto de arquitetura e caderno de encargos (4.º a 6.º volume).
Identificação
Análise
1966.10.21: Ofício da direção da Sociedade Filarmónica Recreio e União Alhosvedrense (SFRUAV) dirigido ao Ministro das Obras Públicas, expondo os seus problemas de instalações, insuficientes e sem segurança necessária para o crescente número de associados. A coletividade foi fundada em 1869, sendo a mais antiga da freguesia. A coletividade criou, há c. 10 anos, uma comissão de obras para tratar do “problema premente da construção de novas instalações para a sua sede”. É remetido um projeto que pretende, numa 1.ª fase, construir um pavilhão gimnodesportivo, e nas fases imediatas “várias dependências inerentes ao funcionamento”. Solicita comparticipação estatal para concretizar a construção.
1967.03.15: Memória descritiva e justificativa, assinada pelo arquiteto Luís Marçal Grilo, do projeto do edifício a construir pela SFRUAV para sua sede e sala de recreio, em terreno que possui. Justifica-se pelo facto de as atuais instalações serem exíguas e não satisfazerem “as aspirações de desenvolvimento e ampliação da colectividade”. O estudo baseia-se num programa fornecido pela direção da sociedade, composto por átrio, café-bar, sala de jogos, biblioteca, secretaria, sala da direção, sala de troféus, salão de recreio para jogos de salão e palco para teatro, balneários, camarins, arrecadações e habitação do guarda.
“A entrada principal foi localizada no alçado da Praça da República, e dá acesso a um amplo átrio com ligação directa para o café e salão de jogos, e onde se localizou a escada de interligação com a cave, ocupada com uma sala de jogos e instalações sanitárias, e 2.º piso ocupado com um átrio de ligação ao varandim do salão de jogos, sala de troféus, secretaria, sala da Direção, biblioteca, cabine de som e instalações sanitárias. / O salão de jogos é formado por uma pista com as medidas mínimas regulamentares para os desportos de salão (30x15), uma bancada com uma capacidade aproximada de 310 lugares, 4 balneários, um palco para teatro, cabine de Bombeiros, cabine de electricista, 4 camarins, instalações sanitárias e posto de socorros. A capacidade total deste salão quando utilizado para teatro é de aproximadamente 736 lugares (...)”. A casa do guarda fica no corpo de camarins, no 2.º piso, composta por sala com zona de cozinha, quarto e instalações sanitárias. A estrutura será de betão armado com panos de enchimento de tijolo, e a cobertura com vigas metálicas assentes em pilares de betão armado e forrada a fibrocimento. Possui peças desenhadas.
1967.11.11: Informação da Direção dos Serviços de Melhoramentos Urbanos (DSMU), tendo sido apresentado o anteprojeto para construção das novas instalações da Sociedade Filarmónica Recreio e União Alhosvedrense pela Câmara Municipal da Moita, com pedido de comparticipação. Segundo a câmara, trata-se de “uma colectividade de interesse público que muito vem contribuir para a cultura e desenvolvimento da população da freguesia”. Estima-se um custo de 3.000.000$00, sendo que o estudo pretende demolir o edifício, muito antigo, para construir o projetado e “funcionalmente adequado” na mesma área.
1967.12.07: O Subsecretário de Estado das Obras Públicas ordena que a sociedade informe sobre os recursos de que dispõe para realizar a obra, e se a Direção-Geral dos Desportos contribuirá financeiramente.
1967.12.21: A SFRUAV explicita que dispõe de c. 300.000$00 para a obra, vindo a angariar fundos há vários anos. O edifício e o terreno são da sua propriedade. Não está afiliada em qualquer organismo desportivo, embora preveja construir um pavilhão para fomentar a iniciação desportiva em várias modalidades. Trata-se de uma obra de utilidade pública numa “zona de grande densidade populacional”.
1968.01.04: Alfredo Fernandes, diretor dos Serviços de Melhoramentos Urbanos, informa que o pedido ficará anotado para melhor oportunidade pois a sociedade apenas dispõe de 300.000$00 e a comparticipação não será superior a 15%, o que se torna insuficiente para o orçamento de 3.000.000$00.
1968.10.28: A SFRUAV considera ser necessário efetuar a obra por fases, sendo a primeira correspondente ao pavilhão gimnodesportivo e recreativo, atingindo um montante inicial de 500.000$00.
1969.01.10: O engenheiro diretor dos Serviços de Urbanização (assinatura ilegível) despacha que a comparticipação correspondente à 1.ª fase será de 200.000$00, e a entidade terá de apresentar o projeto completo “pois só existe a parte arquitetónica”.
1969.02.18: Barbosa de Matos, engenheiro diretor de Urbanização do Distrito de Setúbal, informa que a 1.ª fase é composta pelo salão de recreio “utilizável para a prática de jogos de salão”, uma fase destacável da restante. Assim, “construir-se-ia o mínimo indispensável (sem acabamentos finais) para possibilitar um início de utilização que animasse a mobilizar ajudas para o prosseguimento da obra”.
1969.03.31: A Direção dos Serviços de Espetáculos (Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo) emite parecer favorável para o projeto, que deve ser submetido diretamente ao organismo para licenciamento do recinto.
1970.05.05: Memória descritiva do projeto da 1.ª fase (pavilhão desportivo e serviços anexos), assinada pelo arquiteto Luís Marçal Grilo. As instalações desenvolvem-se em 3 pisos: r/c com camarim, palco, bombeiros, vestiários de árbitros e arrecadação; 2.º piso com habitação do guarda e 2 vestiários; 3.º piso com 2 vestiários. Estrutura de betão armado com panos de enchimento de tijolo, e a cobertura com estrutura metálica.
1970.06.05: Dado que a entidade não enviou a proposta para a 1.ª fase, a obra deverá ser abatida ao Plano de 1970. Em dezembro, o projeto definitivo ainda não havia sido apresentado à DSMU. A obra é inscrita no Plano de 1971.
1972.03.09: Parecer do Fundo de Fomento do Desporto, exigindo a inclusão de portas no recinto desportivo.
1973.05.22: Alberto Pessanha Viegas, engenheiro diretor dos Serviços de Equipamento, informa que a obra se encontra anotada para plano futuro (não consta do plano em vigor), aguardando-se que o projeto seja completado com orçamento para obter o necessário parecer da Comissão de Revisão. O documento possui nota manuscrita de Rui Sanches: a comparticipação estatal subirá para 1.500.000$00, encargo a ser suportado pela dotação do art. 30.º do orçamento do Comissariado do Desemprego.
1973.05.25: Parecer dos engenheiros eletrotécnicos da Direção dos Serviços de Equipamento, A. de Campos Machado e João Manuel do Carmo Aleixo, sobre o projeto de instalação elétrica das novas instalações, que deve ser colocado à consideração superior.
1973.09.12: Auto de medição de trabalhos n.º 1, obra comparticipada pelo Fundo de Desemprego.
1974.10.12: Auto de vistoria geral dos trabalhos de construção, iniciadas em 12 de setembro de 1973 e terminadas a 6 de julho de 1974.
1981.02.20: Rui Barbosa de Matos, diretor de Equipamento do Distrito de Setúbal, envia ao diretor-geral do Equipamento Regional e Urbano um exemplar do projeto da 2.ª fase da obra.
1981.03.13: Apreciação pelo engenheiro civil de 2.ª classe, António José Reboredo da Cunha, da 2.ª fase do projeto de construção das novas instalações da SFRUAV, que necessita de ser completado. O pavilhão gimnodesportivo, concluído em 1974, “tem pleno funcionamento e intensa utilização”. A 2.ª fase corresponde à sede social, adjacente; trata-se de um edifício de 3 pisos, a erguer no local das instalações existentes, que “não satisfazem as aspirações de desenvolvimento cultural e ampliação da colectividade, por demasiado exíguas e obsoletas”. É necessário colmatar lacunas no projeto para ser submetido a aprovação superior.
1981.04.13: Informação do arquiteto de 1.ª classe da Direção dos Serviços de Estudos, Carlos Lino A. Pereira. A 2.ª fase das instalações integra bar, biblioteca, sala de reuniões, secretaria, instalações sanitárias e escada principal. Considera que do deve estar “conveniente e circunstancialmente relacionado com a obra já existente, explicitando as cotas de pavimento existentes e as novas (projecto). Julgamos que em reação ao projecto inicial, aquando do 1.º estudo em conjunto se propõe agora mais um piso acima do solo nesta “zona” da 2.ª fase.” O estudo deve ser revisto.
1981.06.09: Memória descritiva do projeto de arquitetura (2.ª fase) de complemento às instalações da SFRUAV, assinada (assinatura ilegível - António ??; é o mesmo autor do projeto de estabilidade do projeto do pavilhão gimnodesportivo). Trata-se de 3 pisos: rés-do-chão com bar, restaurante e sanitários; 1.º piso com biblioteca, sala de reuniões, secretaria, arrecadações e instalações sanitárias; 2.º piso com salão de palestras e transmissão de filmes culturais e sala de troféus. Possui peças desenhadas.
1981.10.19: Orçamento da 2.ª fase, pela Direção do Equipamento do Distrito de Setúbal, no valor total de 10.287.260$00.
1982.01.11: Informação do arquiteto de 1.ª classe da Direção dos Serviços de Estudos, Carlos Lino Álvares Pereira. O estudo necessita de ser revisto consoante os reparos que aponta, embora seja aceitável do ponto de vista estético e volumétrico. O estudo, revisto, é novamente apreciado pelo relator a 31 de março de 1983, considerado para eventual aprovação superior.
1988.01.22: O diretor-geral do Ordenamento do Território informa da proposta de incluir no PIDDAC a comparticipação da obra para início em 1988. A comparticipação, pelo Ministério do Planeamento e da Administração do Território (MPAT), será de 18.000.000$00. Não obstante, ainda é necessário remeter elementos para confirmar a decisão.
1988.05.05: Protocolo 86/88 entre a DGOT – CCRLVT e a SFRUAV.
1988.06.17: Memória descritiva e justificativa assinada pelo arquiteto José Amaral. Trata-se da retificação do projeto, que a SFRUAV vinha candidatando sucessivamente desde 1967. Atualmente, para além da mudança nas necessidades e pretensões, acrescem preocupações de preservação da arquitetura local – concretamente, de um edifício que se tornou emblemático e o “rosto” da coletividade, baseado “numa composição de princípios “clássicos” embora empregue materiais menos nobres –, tornando-se inviável o projeto original de demolição da sede existente. Trata-se, portanto, da ampliação em altura do edifício existente, criando “um volume colado à face inferior da actual “pele” que pela sua simplicidade realce as características do edifício, além de obstruir e rematar os volumes remanescentes do pavilhão. O programa distribui-se por 3 pisos projetados. Faz-se a ligação das lajes do 3.º piso sobre o palco do pavilhão, surgindo um recinto complementar para as atividades desportivas. É criada uma entrada principal no vértice do cruzamento das duas fachadas para controlar o fluxo de utilização do edifício. O programa prevê: no r/c, entrada principal, bar, arrecadação, instalações sanitárias, zona de abastecimento; no 1.º andar, anfiteatro (com palco, camarim, sala de projeções, etc.), foyer; no 2.º andar, zona de estar, sala de direção e reuniões, biblioteca, galeria de troféus, instalações sanitárias; no 3.º andar, arrecadação de instalações musicais, ginásio, arrecadação do ginásio, instalações técnicas, escada. Foi projetado “um volume paralelepipédico que emerge do cenário constituído pela fachada existente.” Será revestido a pedra, conferindo “um aspecto sóbrio e racional em confronto com o recorte e decorativismo do corpo inferior”. Os projetos especiais foram elaborados por engenheiro A. Pinto Martins (estabilidade e fundações), engenheiro Silvino Maio (rede elétrica), engenheiro Hélder Tiago (redes de água e esgotos), engenheiro Pereira Coutinho (ar condicionado). O orçamento dos trabalhos é de 38.543.233$00.
1988.06.27: Memória descritiva da rede de águas, assinada pelo engenheiro técnico Hélder Paulo Tiago.
S.d.[1988]: Memória descritiva da instalação elétrica, assinada pelo engenheiro eletrotécnico Silvino Augusto da Conceição Maio.
1988.06.30: A Câmara Municipal da Moita aprovou o projeto.
1988.08.03: Informação assinada pelo engenheiro civil de 2.ª classe, António José Reboredo da Cunha, dos Serviços em Setúbal da DROT. O projeto e o processo e concurso estão em condições de merecer aprovação mediante reparos. É urgente lançar a obra, pois figura no Plano de 1988, dado não ser possível garantir a transferência da comparticipação para o ano seguinte. A Assembleia Municipal de Palmela havia deliberado para conservar o traço original da fachada existente, para “preservação dos valores mais representativos da arquitectura local”, pelo que a entidade peticionária reviu o projeto anterior. O programa articula-se em 3 pisos.
1988.11.07: Parecer assinado pelo técnico e arquiteto Manuel Machado da Luz, da Direção-Geral da Ação Cultural. A solução é funcionalmente admissível “se bem que pouco refinada”. O anfiteatro previsto é adequado “a manifestações necessitando de uma intimidade não compatível com os enorme palco e recinto do gimnodesportivo anexo”. Os acessos ao anfiteatro afiguram-se exíguos e devem ser corrigidos.
1988.11.29: A CCDRLVT considera que o estudo pode ser considerado em condições de aprovação, com correção dos reparos no decurso da obra.
1988.12.15: A SFRUAV solicitou que a comparticipação fosse aumentada para 70%.
1988.12.29: Apreciação da Direção dos Serviços de Estudos e Planeamento Territorial, assinada pelo arquiteto assessor Alberto Rodrigues, pela engenheira civil de 1.ª classe Ana Paula Neves e pelo engenheiro eletrotécnico assistente interino João Manuel Aleixo. Propõe-se a aprovação do projeto de execução. O orçamento é de 46.000.00$00.
1989.01.25: Ofício da SFRUAV, coletividade que tem c. 2.300 associados e desenvolve atividades no âmbito da cultura, desporto e recreio. Solicitam que seja reposta a verba perdida do ano anterior.
1989.06.12: A obra está em concurso.
1989.07.03: Procedeu-se ao concurso público e pede-se atualização da comparticipação. Vem a propor-se a adjudicação ao concorrente Pereira & Sancho, Lda., o que vem a suceder.
1989.10.12: Auto de consignação dos trabalhos à firma Pereira & Sancho, Lda.
1989.05.22: Auto de medição de trabalho n.º 1. Obra comparticipada pelo Orçamento de Estado.
1989.10.13: Auto de medição de trabalho n.º 2, em formulário do Ministério do Planeamento e da Administração do Território. Obra comparticipada pelo Orçamento de Estado.
1989.11.10: Proposta de processamento de encargos PIDDAC (Direção-Geral do Ordenamento do Território), para construção das novas instalações da Sociedade Filarmónica Recreio e União Alhosvedrense, cujo projetista é o arquiteto José Manuel Pereira do Amaral. A obra foi adjudicada à firma Pereira e Sancho Lda.
1989.12.12: O pavilhão gimnodesportivo é usado pelos sócios e também pela população em geral e alunos da Escola Secundária de Alhos Vedros. “Para além da actividade de emssas desenvolveu-se também a componente competitiva conseguindo-se vários títulos nacionais e representatividade em seleções nacionais, nomeadamente em badminton e trampolim (tumbling).”. A demora no processamento do financiamento dos autos de medição coloca a continuidade da obra das novas instalações em causa.
1990.04.03: As obras terão início neste mês. Em outubro, uma vistora confirma que as obras decorrem normalmente.
1991.01.11: Visita à obra pela engenheira civil Ana Paula Neves e fiscal João Pereira Pinto, estando a estrutura dos 3 pisos previstos concluída. “No edifício principal (edifício-sede) em construção, confinando com o pavilhão gimnodesportivo existente, fez-se o aproveitamento da fachada existente de grande beleza arquitectónica, embebendo-se na face posterior da parede cinco pilares que têm fundação própria”.
1992.11.12: Após anos de insistências da SFRUAV para aumento da comparticipação, é concedida na sequência da ratificação do PDM da Moita.
Para citar este trabalho:
Ana Mehnert Pascoal para Arquitectura Aqui (2025) Construção das Novas Instalações da Sociedade Filarmónica Recreio e União Alhosvedrense, em Alhos Vedros . Acedido em 11/09/2025, em https://arquitecturaaqui.eu/pt/documentacao/processos/66043/construcao-das-novas-instalacoes-da-sociedade-filarmonica-recreio-e-uniao-alhosvedrense-em-alhos-vedros