Mercado Municipal, Lamego
O Mercado Municipal de Lamego, que entrou em funcionamento apenas no início da década de 1980, já se encontrava em estudo em 1963, altura em que o Ministro das Obras Públicas, após visita à cidade, questionava a sua localização junto à Igreja de S. Francisco. No entanto, foi para esse local que o arquiteto Alberto Cruz elaborou o anteprojeto que apresentou à Câmara Municipal em junho de 1965. Nos meses seguintes, o anteprojeto recebeu pareceres negativos tanto pela parte do arquiteto urbanista António de Brito e Cunha, autor do Plano Geral de Urbanização de Lamego, como pela parte da Comissão de Melhoramentos local. O primeiro considerava que a composição proposta não era aceitável do ponto de vista urbanístico e, referindo que a cidade de Lamego merecia que este edifício fosse “estudado tendo em conta o passado arquitetónico dos seus edifícios públicos”, indicava que deveria ser revista a implantação dos diversos corpos projetados. A segunda apontou que o edifício projetado prejudicaria a visibilidade da fachada lateral da igreja, notando ainda que a fachada principal deveria “ser levantada por forma a ser enriquecida”.
O anteprojeto revisto, apresentado pelo arquiteto em junho de 1966, mereceu apreciações favoráveis das entidades competentes e a aprovação pelo Ministro das Obras Públicas, assim como a comparticipação da obra pelo Estado. No entanto, no início de 1968, a Câmara Municipal desistiu da obra, por ser ainda demasiado elevado o valor que teria de comportar.
O processo foi retomado pela Câmara em 1973, tendo sido rapidamente comparticipado e adjudicado a Celestino Barata Martins. Em outubro de 1974, o adjudicatário da obra realizava já trabalhos de regularização do terreno. No entanto, no final do ano, um ofício da Câmara Municipal expunha a desadequação do projeto elaborado quase uma década antes à evolução que se verificou na cidade de Lamego. Face ao crescimento da população e do espaço urbano, a Câmara considerava que seria “mais aconselhável um atraso na realização da obra do que a mesma não vir a satisfazer as imperiosas necessidades da cidade de Lamego, tanto no aspeto funcional como no estético.” Assim, o novo projeto, elaborado pelo mesmo arquiteto, previa uma área mais ampla, mais espaços de venda e a criação de lojas que abririam para a via pública.
Os trabalhos foram finalmente iniciados em novembro de 1976. No entanto, no início de 1980, a Câmara Municipal de Lamego deliberou rescindir o contrato de empreitada da obra, por não cumprimento por parte do empreiteiro do prazo contratual. Desconhece-se a data exata de conclusão da obra. De acordo com um testemunho recolhido no local, o mercado terá entrado em funcionamento no início da mesma década.
Para mais detalhes, consultar a secção Momentos-chave, abaixo.
Para o registo pormenorizado dos testemunhos recolhidos sobre a experiência e memórias de uso deste edifício, consultar a secção Documentação, abaixo.
Análise
O Mercado Municipal de Lamego é contextualizado na obra do seu arquiteto no capítulo de Ricardo Costa Agarez no livro Alberto Cruz, de 2024. O autor salienta a forma como:
“em Vila Real e Lamego, a conjugação de circunstâncias urbanas e topográficas particulares com as condicionantes económicas de comunidades de recursos limitados originou uma arquitetura em que o regionalismo modernista de Alberto Cruz se confrontou com a realidade do interior do País na segunda metade do século passado. Soluções dispares para problemas específicos configuraram propostas em que a funcionalidade de instalações de intenso uso quotidiano e o carácter eminentemente utilitário foram envolvidos por preocupações com a integração, o contextualismo e a evocação da forma e técnica construtiva tradicional. Bem enquadrado no momento histórico, o arquiteto perseguiu nestes dois edifícios, modestos e despretensiosos, a sua abordagem modernista à essência da construção corrente, concretizada com uma materialidade inteiramente atual."
O edifício do Mercado Municipal de Lamego situa-se no centro da cidade, abrindo para o seu principal eixo noroeste-sudeste - a Avenida 5 de Outubro - e próximo da avenida principal do aglomerado urbano - a Avenida Visconde Guedes Teixeira. O seu programa organiza-se em três pisos. Originalmente, no primeiro localizavam-se talhos, bancas para a venda de peixe, espaços comerciais com acesso pelo exterior do mercado, venda de gelo, gabinetes para veterinário, fiscal e análises de leite, e ainda espaços dedicados para amanho de peixe e matança de criação, e para câmaras frigoríficas para carne, peixe e legumes. No segundo piso, situavam-se bancas de vendas de cereais, legumes e frutas. O terceiro piso, junto ao Convento e Irgeja de S. Francisco, é composto por uma área edificada menor - originalmente pensada para a instalação de um restaurante - e um amplo espaço exterior, que seria utilizado para venda de flores.
Momentos-chave (clique abaixo para mais detalhe)
Localização
Estado e Utilização
Documentação
A informação constante desta página é fruto do trabalho de Catarina Ruivo, realizado ao longo de 2025, e foi reunida através de fontes documentais e bibliográficas. Conta ainda com o precioso contributo de Fátima, comerciante no Mercado Municipal de Lamego, a quem muito agradecemos.
Para citar este trabalho:
Catarina Ruivo para Arquitectura Aqui (2025) Mercado Municipal, Lamego. Acedido em 16/12/2025, em https://arquitecturaaqui.eu/pt/obras/62004/mercado-municipal-lamego




































