Pesquisar por

Objeto

Agentes

Atividades

Documentação

Testemunhos no evento "Memórias da Casa do Povo de Manigoto"

Se tem alguma memória ou informação relacionada com este registo, por favor envie-nos o seu contributo.

Identificação

Título
Testemunhos no evento "Memórias da Casa do Povo de Manigoto"

Conteúdo

Registo da Observação ou Conversação

Atividade de conversa grupal intitulada “Memórias da Casa do Povo de Manigoto” realizada no café da Casa do Povo de Manigoto, em outubro de 2023, e facilitada pelos investigadores Ivonne Herrera Pineda e Diego Inglez de Souza. Estão presentes cerca de 25 pessoas. Agradecemos à presidenta da Junta de Freguesia de Manigoto, a Sra. Regina Margarida Valente Simões, e a todos os participantes que nos acolheram calorosamente.

Casa do Povo de Manigoto

A Casa do Povo antes era uma escola primária. Esta escola era pequena e experimentou uma ampliação muito mais tarde [na zona onde antes existia um quintal].

Onde atualmente é o café da Casa do Povo de Manigoto era a sala da escola. Nessa sala grande davam aulas para as quatro classes e a habitação da professora e o quintal ficavam próximos. Os participantes do evento lembram-se de alguns objetos e a sua localização, do tempo quando era escola: onde estava o quadro, a secretária da professora, as cadeiras, as portas. Havia um corredor que ia ao fundo. Onde está uma janela atualmente, antes era a cozinha.

Um outro participante lembra-se de que a escola era dividida, tinha duas aulas. “Havia uns de manhã, outros de tarde, alguma coisa assim. E todos os que cá fizeram a quarta classe, todos fizeram cá a primeira, a segunda e a terceira, aqui nesta escola”. “E havia duas professoras. Havia uma para a quarta classe -não sei se era da parte da manhã ou da parte da tarde. E havia outra que era para a segunda e a terceira”.

Os alunos e alunas estavam misturados. Era uma escola mista.

“Esta escola já deve ser muito antiga, porque as pessoas que lá estavam são já pessoas de 80 e 90 anos”.

Depois de ter sido encerrada como escola, os jovens começaram a vir para este edifício para se encontrarem à noite e reunirem-se neste espaço. Estes jovens decidiram pedir apoio ao governador civil para reconstruir a antiga escola e fazer uma Casa do Povo. Com esse apoio e muito trabalho voluntário, reconstruíram a casa, que continua a ser o mais importante ponto de encontro da comunidade.

Os jovens geriam o bar e, com a venda de bebidas, iam fazendo melhorias na casa, quer com pequenas reparações e transformações, como a colocação de uma caixa que não existia antes, quer com a compra de equipamento, como uma televisão.

A Casa do Povo tornou-se o ponto central da povoação, onde as pessoas de diversas idades se encontram para tomar café, conversar. Esta casa do povo tem uma componente social muito importante.

A vida associativa desta casa do povo está intimamente ligada a outros coletivos que surgiram a partir dos anos 1990: o Grupo de Amigos do Manigoto (GAM), uma associação sem fins lucrativos que criou o Espaço Museológico do Manigoto. Estes espaços desenvolvem atividades recreativas e culturais que valorizam o património do Manigoto.

Regina Valente Simões confirma que "o edifício é da junta [de Freguesia]. Aqui, nós podemos fazer atividades na Casa do Povo". As melhorias são feitas através da Junta de Freguesia.

Um participante refere que havia a intenção de colocar um posto médico no primeiro andar. A opinião dos participantes da Casa do Povo era que o edifício podia ter uma ampliação na zona onde havia um quintal, para fazer esse posto médico, de modo a que as pessoas idosas não tivessem de subir as escadas. No final, o posto médico não foi construído lá.

A alternativa à ampliação no primeiro andar também tinha outra explicação. Quando o edifício foi ampliado com o primeiro andar, perdeu-se um telhado de quatro águas que existia anteriormente. Um participante afirma o seguinte: "Nós tínhamos aqui um telhado, já ninguém se lembra, mas... às quatro águas, perfeito, em madeira, feito por profissionais que já, que nesta altura já não existe. Nem existia um telhado como este que estava aqui! Tal e qual como era antigo... E nós não queríamos danificar aquilo, essa foi a razão".

O piso superior é utilizado para a Junta de Freguesia. Segundo a opinião de vários participantes, não é acessível aos idosos porque devem subir umas escadas.

Casa do Povo de Pinhel

As pessoas diziam assim: "Eu vou pagar à casa do povo" porque ali era o serviço da Segurança Social. O termo estava ligado ao lugar onde eles iam fazer o pagamento.

Escola primária de Manigoto

Muito perto da Casa do Povo há uma escola primária do Plano dos Centenários.

Um participante do encontro afirma que até 1965, o Estado construiu escolas primárias em todas as aldeias do concelho de Pinhel.

Um participante do encontro lembra: “eu aqui [na antiga escola, depois Casa do Povo] andei um ano e meio, a primeira classe....depois a meio ano é que mudámos [aqui]”.

Quando estamos a tentar descobrir a data de construção da escola, um participante diz: “a outra escola foi construída por Salazar [refere-se ao tempo do regime]. Como todas as outras, da mesma forma”.

Um participante do encontro permite-nos refletir sobre a importância de certos agentes sociais para o financiamento de equipamentos como as escolas:

- Participante: "Foi por Estado, até 1965. Todas [as escolas] do Concelho de Pinhel, todas, foi em todas as aldeias, na altura, que tinham escolas, todas foram escolas novas. A nível nacional, na altura, modificaram muito, mas como Concelho, foi o Concelho de Pinhel que construiu mais escolas”.

- Investigador: “Mas isso tem a ver com o Presidente da Câmara na altura?”

- Participante: “Não se consegue [saber], porque na altura, as pessoas que tivessem um bocadinho mais altura, mais posse, que já fossem doutores, puxavam para os Concelhos, essas coisas, quase em todo lado. Tanto que aqui foram construídas muitas estradas, aqui no Concelho… por as tropas, foram construídas muitas estradas, porque havia aqui um general… e ele conseguiu construir muita estrada aí. Mas, atenção, assim, eu não sei se foi o caso do Manigoto, mas em relação às escolas e aos edifícios que foram construídos, estas escolas, foi a Câmara que construiu”.

A recolha e incorporação dos testemunhos orais foram elaboradas por Ivonne Herrera Pineda, com base no evento público "Memórias da Casa do Povo de Manigoto", realizado em outubro de 2023, com a colaboração da presidenta da Junta de Freguesia de Manigoto, a Sra. Regina Margarida Valente Simões.

Para citar este trabalho:

Arquitectura Aqui (2024) Testemunhos no evento "Memórias da Casa do Povo de Manigoto". Acedido em 31/10/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/notas-de-observacao-ou-conversacao/35829/testemunhos-no-evento-memorias-da-casa-do-povo-de-manigoto

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).