Teatro Alves Coelho, Arganil
O Teatro Alves Coelho foi construído através de subscrição pública. Uma empresa foi criada para este fim, tendo sido a obra financiada através da compra de ações desta Sociedade, com a qual contribuíram arganilenses residentes das então colónias ultramarinas.
De acordo com os testemunhos orais recolhidos, o edifício foi construído através de ações de beneméritos, que eram os sócios do teatro. Inicialmente, foi uma sociedade e as pessoas que possuíam ações eram consideradas sócias do Teatro Alves Coelho.
De acordo com o poeta Miguel Torga, que foi médico em Arganil o Teatro Aves Coelho foi “erguido por teimosos e cabeçudos Beirões, da mesma maneira que antigamente se construíam as Catedrais, trazendo cada um a sua pedra”.
O projeto ficou a cargo do arquiteto, urbanista, pintor e crítico de arte Mário de Oliveira (1914-2013). A obra, batizada em homenagem ao Maestro João Rodrigues Alves Coelho (1882-1931), reconhecido compositor do teatro de revista radicado em Lisboa, foi inaugurada em 1954.05.09.
Ali realizaram-se espetáculos de teatro, bailes e sessões de cinema bastante populares entre os habitantes de Arganil, de acordo com o relato de vários deles que estiveram presentes no evento Memórias Fotográficas de Arganil (outubro 2023) e de acordo com as conversas mantidas nos meses que antecederam o evento. Além disso, era um ponto de encontro social, onde as pessoas de diferentes estratos sociais interagiam e compartilhavam momentos de diversão e entretenimento.
O escultor Aureliano Lima realizou as figuras em baixo-relevo em gesso que foram aplicadas na fachada do edifício que dá para a Avenida dos Amandos, então em construção. Um participante no evento contou que, quando criança, ajudou o escultor a fazer as esculturas, e que essa era uma recordação querida e inesquecível: “Eu com 10 anos lembro-me perfeitamente e ajudei também o artista, o escultor, que esteve a fazer estes bonecos, estes desenhos, fez isto em barro cinzento. E então, para mim era um consolo ir lá e ele dizia-me: "Olha, amassa ali o barro que é para eu fazer aqui." E então eu ficava todo contente de estar a amassar o barro para ele fazer este desenho. (...) Era um boneco que foi feito em quatro partes (...) E eu dizia assim: "Como é que este gajo vai fazer estes bonecos?" Porque eu não entendia aquilo! Mas depois quando vi isto lá no sítio foi um trabalho perfeito”.
O pintor Guilherme Filipe realizou as pinturas da decoração interna, uma das quais, um nu feminino, foi alterada depois de protestos das senhoras da terra, de acordo com o depoimento do fotógrafo Fernando Brandão.
Notes
As ações da companhia que construiu o Teatro Alves Coelho, destituídas de valor com o declínio e o encerramento das atividades, foram sendo progressivamente doadas ou legadas à Santa Casa da Misericórdia de Arganil, que tornou-se assim proprietária legal das suas instalações. De acordo com o Jornal Público, o Teatro Alves Coelho encerrou as atividades em 2002, passando à tutela da Câmara Municipal de Arganil até 2008, quando regressou à SCMA.
Os testemunhos orais recolhidos corroboram as informações documentais, pois o edifício passou por transformações estruturais e mudanças de propriedade, sendo inicialmente cedido à Santa Casa de Misericórdia, mais tarde, à Câmara Municipal de Arganil e depois novamente à Santa Casa de Misericórdia. Em 2023 existe um conflito sobre a propriedade deste imóvel, o que dificulta a preservação e a possível reutilização do edifício, que está atualmente devoluto, com exceção do café que ainda está em funcionamento.
O Teatro Alves Coelho era um local central na vida cultural da comunidade, onde se realizavam diversos espectáculos e encontros sociais. Apesar de ter fechado, deixou uma marca significativa na memória coletiva da região, destacando-se como um símbolo importante do patrimônio cultural de Arganil.
O Teatro Alves Coelho é o primeiro dos edifícios construídos na avenida construída sobre a Ribeira dos Amandos e que mais tarde "viria a constituir a nova centralidade arganilense." (Ventura e Anacleto, 2009, p.85), com a construção de outros equipamentos públicos como o Quartel-sede da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários Argus, realização cuja história está diretamente relacionada à edificação do Teatro, na medida em que ambas as obras surgem das mobilizações empreendidas pelas redes de associativismo local. A construção do Teatro teria, segundo diversos autores, resultado em atrasos na realização do Quartel, pois os recursos da comunidade, angariados através de rifas, festas e cortejos, acabaram por ser direcionados para a obra do Teatro.
Segundo uma moradora de Arganil, a localização deste edifício permitia uma maior acessibilidade para as pessoas idosas, em comparação com o atual centro cultural da Cerâmica, uma vez que o teatro se encontra num terreno plano e no centro da vila: "Aqui posso ir sem qualquer problema".
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Status & Uses
Forum
Documentation
A informação constante desta página é fruto do trabalho de Diego Inglez de Souza em 2023 e de Ivonne Herrera Pineda em abril de 2024, e foi reunida através de fontes documentais e bibliográficas e dos diversos contributos e testemunhos que pudemos recolher em Arganil. Conta com a preciosa informação partilhada por algumas pessoas que permanecem anónimas e pelos vários participantes do evento “Memórias Fotográficas de Arganil” realizado em setembro de 2023 na Biblioteca Municipal de Arganil, com a colaboração do Arquivo Municipal de Arganil e a Biblioteca Municipal de Arganil, sobre o tema dos edifícios públicos do século XX de Arganil. Atividade facilitada pelos investigadores Ivonne Herrera Pineda e Diego Inglez de Souza.
To quote this work:
Arquitectura Aqui (2024) Teatro Alves Coelho, Arganil. Accessed on 24/11/2024, in https://arquitecturaaqui.eu/en/buildings-ensembles/1107/teatro-alves-coelho-arganil