Sede do Clube de Ténis de Portalegre
As instalações desportivas do Clube de Ténis de Portalegre, na Serra de Portalegre, foram contruídas por iniciativa do próprio Clube, com o intuito de promover a prática desportiva do Tiro (ao pombo e ao prato), aliando a esta a exploração e valorização turística da zona – contribuindo para o consequente desenvolvimento económico e social da região. Assim, numa fase inicial, foi proposta a construção de um campo de tiro, com as respetivas instalações que funcionariam como sede e centro de atividades do Clube de Ténis de Portalegre – sendo que estava prevista uma ampliação futura, com a construção de 2 courts de ténis e piscina.
Tanto quanto a documentação recolhida e analisada permite compreender, o processo de construção das instalações do Clube de Ténis de Portalegre iniciou-se em abril de 1960, com a exposição da necessidade e intenção, por parte do próprio clube ao Ministério das Obras Públicas, de levar a cabo tal obra, com a comparticipação do Estado – sendo, para o efeito apresentado um projeto, à consideração superior. Em junho do mesmo ano, é formalizada uma proposta de comparticipação de 18% do orçamento estimado no valor de 1.259.974$00.
Atendendo às dificuldades de inclusão imediata da obra em Plano de comparticipação, pelos compromissos já assumidos pelo Ministério das Obras Públicas, o projeto, da autoria dos Arquitetos Teixeira Guerra e Cruz Homem, viria a ser alterado e somente aprovado em 1963 – após apreciação de diversos serviços, entre os quais a Direção-Geral da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar, a Direção-Geral dos Serviços de Urbanização, a Direção da Arma de Infantaria, o Conselho Técnico da Inspeção dos Espetáculos. É, nesse sentido, autorizada pelo Subsecretário de Estado das Obras Públicas, em maio desse ano, uma comparticipação de 194.000$00, através do Fundo de Desemprego.
Em face do atraso na concessão do empréstimo por parte do Fundo de Turismo (apenas concedido em março de 1964), o concurso público para adjudicação da empreitada só seria aberto em julho de 1964. Tendo este concurso sido considerado como deserto, só meses mais tarde, em setembro, a empreitada viria a ser adjudicada à firma Cotefil – Construções Técnicas e Financiamento, Ld.ª, pelo valor de 1.052.510$00 – pese embora esta viesse a entrar em situação deficitária e não chegasse sequer a iniciar os trabalhos.
Assim, os trabalhos seriam iniciados apenas em março de 1966, após adjudicação da obra à firma Construtores Associados do Alto Alentejo, Ld.ª, através de concurso limitado, pelo valor de 1.581.100$00. Esse facto, aliado a demoras na conclusão do projeto na parte relativa aos cálculos de engenharia da cobertura (da responsabilidade do Eng.º Civil Rua José Gomes) e à falta de mão de obra especializada, levaria a que o prazo da obra de construção do equipamento fosse sucessivamente prorrogado. Acresce que, em 1968, a firma adjudicatária parece ter declarado falência, ainda que o Clube tivesse procedido com as obras.
Em abril de 1971, um memorial do Clube de Ténis de Portalegre dava conta que essa 1.ª fase da construção (relativa ao campo de tiro e respetivas instalações), em fase de acabamento, totalizou um valor de 1.986.000$00 – vindo a ser inaugurada em novembro de 1972, com a presença do Presidente da República Almirante Américo Thomaz e do Engenheiro das Obras Públicas Rui Sanches.
Esse mesmo memorial, manifestava ainda a intenção do Clube levar a efeito uma 2.ª fase da construção, que respeitaria à construção de um salão polivalente (destinado a festas, saraus de música, projeção de filmes, exposições e espaço de reunião) e de instalações de apoio (casa do guarda e vestiários) – sendo que um campo de ténis havia já sido construído a expensas exclusivas do Clube. A comparticipação total da obra (1.ª e 2.ª fases) viria a ser elevada para 50% do valor total, em maio desse ano, pelo Ministro das Obras Públicas e Comunicações.
Com um projeto da autoria do Agente Técnico de Engenharia Civil José da Silva Mendes Cardoso, a segunda fase da obra iniciar-se-ia em agosto de 1971, levando o Clube, pelas dificuldades financeiras sentidas em 1972, a solicitar a antecipação das verbas concedidas por comparticipação do Estado.
O custo total do conjunto ascenderia a cerca de 5.000.000$00 e, pese embora não tenhamos dados relativos à conclusão da 2.ª fase, o processo viria a ser arquivado em março de 1980.
Em dezembro de 1981 o processo parece ter sido reaberto, após um período de ocupação selvática em 1974 que levou ao encerramento das instalações e vários danos materiais. É, nesse sentido, apreciado um projeto, da autoria do Eng.º Técnico Civil José da Silva Mendes Cardoso, que tinha em vista a construção de um segundo campo de tiro aos pombos e aos pratos, junto do conjunto já construído. Este projeto viria a ser aprovado, após consultados os serviços competentes (entre os quais a Direção-Geral dos Desportos e Direção dos Serviços de Estudos) e feitas as devidas alterações, em novembro de 1985 – com uma comparticipação do Estado, no valor de 2.400.000$00 (60% do valor orçado), já autorizada em agosto de 1985.
Estes trabalhos seriam executados por administração direta e o processo arrastar-se-ia até 1988 - não sendo claro se os trabalhos foram, de facto, executados.
Nessa mesma década de 1980 algumas alterações foram introduzidas para instalação da discoteca “Infinito” no edifício principal do conjunto.
Atualmente [2024], apesar do interesse arquitetónico do edifício da sede do clube (que levaria à abertura do procedimento de classificação do edifício-sede em 2020), o conjunto encontra-se devoluto, após o encerramento do espaço de diversão noturna no início dos anos 2000.
Notes
O edifício assume particular relevância pela cobertura em paraboloide hiperbólico simples, que, à data da sua construção se prevê que fosse um caso inédito em Portugal.
A antiga Sede do Clube de Ténis de Portalegre localiza-se na Serra de Portalegre, junto ao rádio farol, a cerca de 6km a Nordeste da cidade, num local denominado por Marrada Alta. Situada em contexto rural e isolado, insere-se no limite interior do Parque Natural da Serra de São Mamede, numa pequena clareira a 800m de altitude, com declive acentuado.
O programa do edifício divide-se por 3 pisos (2 deles semienterrados) e tinha em vista responder às funções culturais e recreativas do Clube de Ténis de Portalegre, bem como à prática desportiva de tiro (ao pombo e ao prato) e de ténis.
O piso principal, de entrada, assenta sobre uma plataforma de cerca de 1m de altura, de forma a assegurar uma visão panorâmica sobre o campo de tiro (a nordeste). De planta retangular, dispunha de um grande salão com zona sobrelevada para assistir às competições, um vestiário, uma zona polivalente e uma zona com um fogão de sala de escala monumental - que garantia o aquecimento e propiciava a reunião dos sócios.
Uma escada dava acesso ao piso inferior onde se localizava uma zona de bar (com monta-cargas para comunicação com o piso superior). Junto a este uma área de jogo sobrelevada com vista para o campo de tiro, e o restaurante, aberto para um terraço que domina a zona da prática desportiva e articula as diversas dependências. Este piso contava ainda com instalações sanitárias e vestiários-balneários (masculinos, femininos e para pessoal), uma cozinha (com entrada independente, monta-cargas para servir o piso superior e uma despensa), o gabinete da direção (com respetivas instalações de apoio), um salão de festas, uma secretaria e uma instalação para o júri.
Um segundo piso inferior, acompanhando a topografia do terreno, dispunha, sob o terraço, da casa do guarda (com cozinha, sala comum, despensa, quarto e casa de banho), bem como de uma zona destinada a vestiários - para dar apoio ao campo de ténis.
Contava, então, com um campo de ténis e dois campos de tiro, o principal destes com uma entrada subterrânea junto à prancha de tiro, que dava acesso a um armeiro e átrio para abrigo dos atiradores e arrecadação. O segundo situava-se em desnível, possibilitando a utilização simultânea de ambos os campos. Junto ao campo principal, aproveitando o desnível do terreno, um pombal e uma fossa olímpica para tiro ao prato (com 15 máquinas de lançamento), articulados por meio de uma galeria de serviço.
O tratamento das fachadas, com grandes janelas de correr envidraçadas, permitia não só a observação direta da prática desportiva, o acesso, a entrada de luz e a ventilação natural, como permitia igualmente a integração e relação do conjunto com a paisagem e o contexto geográfico em que se insere.
O conjunto destaca-se pela sua cobertura hiperbólica simples e reta, que, à época da sua construção, se previa que fosse inédita em Portugal - conferindo-lhe uma plasticidade e identidade próprias, que contribuem para o reconhecimento do seu valor arquitetónico.
O edifício sofreu pequenas alterações aquando da sua adaptação para funcionar como estabelecimento de diversão noturna, na década de 1980 - ainda que pareçam não ter havido grandes intervenções ao nível da arquitetura.
Atualmente [2024] o conjunto encontra-se devoluto e em processo de classificação.
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A informação constante desta página foi redigida por Tiago Candeias, em abril de 2024, com base em diferentes fontes documentais e bibliográficas.
To quote this work:
Arquitectura Aqui (2024) Sede do Clube de Ténis de Portalegre. Accessed on 21/11/2024, in https://arquitecturaaqui.eu/en/buildings-ensembles/20498/sede-do-clube-de-tenis-de-portalegre