Bairro de Casas Económicas, Portimão
Analysis
Em 1934, o então denominado Bairro Operário de Portimão, embrião do Bairro de Casas Económicas, foi o primeiro conjunto de habitação apoiada erguido em Portugal ao abrigo da chamada Lei de Casas Económicas de 1933 (Decreto-Lei n.º 23052, de 23 de setembro), fruto de circunstâncias particulares:
“A correspondência entre o pensamento de [Raúl] Lino e o discurso oficial tornou-se clara com a realização do primeiro conjunto de iniciativas decorrentes da lei de 1933 [Casas Económicas]. Os bairros em Portimão, Olhão, Setúbal e Matosinhos basearam-se na repetição de unidades unifamiliares de um só piso e áreas mínimas e foram promovidos pelo Consórcio Português de Conservas de Peixe para os seus empregados e financiados pelo Estado. O bairro de Portimão já tinha sido iniciado, por iniciativa particular do industrial de conservas Cayetano Feu, e por isso foi o primeiro da série: em 1934 o Estado comprou a Feu o terreno e as estruturas inacabadas, possivelmente graças à intervenção direta do próprio Salazar, e financiou o projeto e construção de um total de 100 casas com plantas ajustadas às normas do organismo então responsável pelo programa no Ministério das Obras Públicas, a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN). Seriam construídas em taipa por razões de economia e falta de mão de obra especializada, seguindo o princípio pragmático de utilizar ‘os processos construtivos locais mais comuns’ sempre que possível. No mesmo sentido, os serviços técnicos da DGEMN insistiram no uso das tradicionais telhas de meia cana de uso regional e não das telhas Marselha industriais, modernas e mais baratas. Lino desenhou três tipos de habitação mínima: plantas de um a três quartos, variações muito simples e racionais da mesma solução-base na qual se acedia a todos os compartimentos a partir da sala de entrada, um espaço de estar e de refeições que era um sucessor formal da tradicional ‘casa de fora’ algarvia. Sem deixarem de cumprir o orçamento limitado, os seus alçados não seguiram as normas estabelecidas: Lino acrescentou generosos alpendres telhados — uma característica do ideal abstrato da ‘Casa Portuguesa’ — e decorou as fachadas, mesmo as dos tipos mais simples, com elaboradas silhuetas de reboco à volta dos vãos que podem ser encontradas em parapeitos, plintos e aberturas de edifícios populares no Alentejo.
A inauguração [da primeira fase de construção] do bairro, em junho de 1936, teve substância política e ampla cobertura mediática, uma oportunidade para realçar o papel de Salazar como garante final desta e de todas as obras públicas. Para Lino, o projeto de Portimão foi talvez a primeira oportunidade de pôr em prática a sua defesa da casa unifamiliar. Parece apropriado que um conceito assente em palavras-chave como intimidade, individualismo e escala humana fosse primeiro experimentado na região que era testemunho da ‘pequenez das coisas mouras’, onde a humildade coexistia com um marcado gosto popular pela decoração. Combinando elementos locais, regionais e transregionais (do ‘Sul’) com evocações míticas de um passado distante, as composições de Lino iludem, por vezes, a racionalidade das suas plantas e soluções tecnológicas e exemplificam, se tomadas estritamente, um ponto de vista central, distanciado e vago, sobre a identidade construída do Algarve.” (Costa Agarez 2023, 80-85)
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Documentation
A informação constante desta página foi coligida por Ricardo Costa Agarez em março de 2025, com base em diferentes fontes documentais e bibliográficas. O levantamento de documentação de arquivo em "Momentos-chave" foi feito por Tânia Rodrigues em 2024.
To quote this work:
Ricardo Costa Agarez e Tânia Rodrigues for Arquitectura Aqui (2025) Bairro de Casas Económicas, Portimão. Accessed on 05/09/2025, in https://arquitecturaaqui.eu/en/buildings-ensembles/33758/bairro-de-casas-economicas-portimao