Adega Cooperativa de Lousada
Sete maços contendo documentação diversa relativa ao projeto da Adega Cooperativa de Lousada. Contém, entre outros, correspondência entre o grupo Arquitectos Reunidos (ARS) e a Comissão Reguladora da Região dos Vinhos Verdes, assim como peças escritas e desenhadas dos projetos de arquitetura e betão armado, orçamento e caderno de encargos.
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1953 - Extrato do Relatório de Final de Curso de Engenheiro Agrónomo, elaborado por José Marques Dias dos Santos, com o título “Uma Adega Cooperativa na Região doa Vinhos Verdes - Projecto Orgânico”, incluindo capítulos relativos à fermentação, aproveitamento de sub-produtos e esquema geral da adega e seus anexos.
O extrato presente no processo começa com uma secção “Considerações Gerais” sobre o processo de fermentação, no qual o autor argumenta que a vinicultura “é um dos ramos que mais beneficia com a industrialização agrícola. Em adegas trabalhando no regime de grande indústria, aumentam-se os rendimentos, diminui-se o preço do custo do vinho”.
Na secção relativa à organização das adegas, refere-se que se devem prever diferentes fases de construção. Na inicial, devem-se prever dois corpos, um dos quais para a adega, laboratório, escritório, sala de reuniões e sanitários privativos dos trabalhadores; o outro com silos, destilaria, sanitários para o pessoal e casa do adegueiro. A adega, em si, deve dividir-se em três zonas distintas: de fermentação do vinho tinto, de conservação do vinho tinto e de vinificação e conservação dos vinhos brancos. Prevendo-se uma fase de ampliação, procura-se “conservar as distâncias da bombagem de uva esmagada assim como as distâncias dos cubos de fermentação aos de conservação”.
Como conclusão, o relatório apresenta três pontos principais: Considera-se que se impõe a formação de adegas cooperativas na região dos vinhos verdes, para “aumentar e organizar a residência económica dos pequenos produtores, como meio de aperfeiçoamento cultural e tecnológico, como meio de baratamento do custo da produção”. Acrescenta-se que, “não se conhecendo, entre as classes de lavradores, pioneiros capazes de efetivar as ideias cooperativistas, e porque é do máximo interesse construir a primeira adega (…), deverão o Estado e a Organização tomar em si o encargo de dar o impulso inicial para a formação de uma rede de cooperativas a instalar na região”. Por fim, indica-se que os dirigentes da adega devem assumir a total responsabilidade pela sua gerência e que os produtores se deve sentir ligado à adega, devendo ser “mínima a interferência dos técnicos oficiais na vida das cooperativas”.
1955.02.17 - Comunicação assinada pelos arquitetos António Fortunato de Matos Cabral e Mário Cândido de Morais Soares, do grupo Arquitectos Reunidos (ARS), dirigida à Comissão Reguladora da Região dos Vinhos Verdes (CRRVV), pela qual informam a comissão de que o escritório se encontra a construir duas Adegas Cooperativas para a Junta Nacional dos Vinhos. Sabendo que a CRRVV “tenciona efectuar a construção de adegas”, explicam que teriam interessem em encetar uma colaboração nesse sentido, argumentando: “Pelas inéditas soluções construtivas que obtivemos, em que o técnico e o económico se conjugam a pleno contexto, também aqui nos parece que estaríamos à altura de coadjuvar os técnicos e especialistas da Comissão, com quem nos aprazaria tratar de tão curiosos temas relacionados com este aspecto da economia vinícola - o das Adegas Sociais -“.
1955.04.26 - Livro de estatutos da Adega Cooperativa de Lousada, no qual se indica que a Cooperativa foi constituída em 1955.02.25.
1955.05.23 - A CRRVV solicita aos arquitetos de ARS que informem em que condições pretendem estabelecer uma colaboração.
1955.06 - Orçamento relativo ao total de três fases, estimado em 3.764.559$29.
1955.06.04 - Os arquitetos de ARS voltam a referir à CRRVV já ter sido iniciada a construção de duas Adegas Cooperativas para a Junta Nacional do Vinho, explicando que esses estudos os conduziram “a soluções construtivas e económicas tão apreciáveis, que determinam uma radical mudança de orientação, relativamente aos planos das antigas Adegas”. Por essa razão, consideram que a colaboração beneficiaria os objetivos da CRRVV e oferecem-se para tomar a seu cargo o estudo dos projetos e a assistência técnica das várias especialidades de construção civil, tomando como base os honorários da tabela utilizada pelo Ministério das Obras Públicas.
1955.06.11 - Nova comunicação de ARS, na qual se refere “a marcada especialização da obra a realizar [Adega Cooperativa de Lousada] (…), duplamente especializada, quer porque se trata de uma instalação tecnológica, quer porque se destina à Região dos Vinhos Verdes onde a tecnologia vinícola toma aspetos locais a respeitar”, razão pela qual procuram colaboração com a CRRVV.
1955.06.15 - Comunicação de ARS à CRRVV, na qual, após a apresentação de uma proposta de honorários, indicam só poder “prestar uma colaboração eficaz se os especialistas da Comissão [os] habilitarem com os seus conselhos e orientação que vá desde a fixação do programa até ao estabelecimento de diretrizes funcionais da instalação tecnológica, que comporte a relação e dimensionamentos fundamentais dos diversos órgãos entre si”. Explica-se que a colaboração tem como propósito contribuir para “um perfeito entendimento dos problemas para que as soluções atinjam o mais elevado grau de eficiência e expressão”.
1955.11.14 - Aditamento às cartas de 4 e 15 de junho, após conversa com o engenheiro Trigo de Abreu, onde se considera que “o trabalho dos técnicos especializados da vossa Comissão é indispensável para o estudo de uma boa solução de ante-projecto” e se refere que a cooperação é facilitada pelos escritórios dos membros de ARS ficarem próximos da sede dos Serviços da CRRVV e “da própria região vinícola a que os trabalhos dizem respeito”. Informam da resolução de oferecer à CRRVV “a importância correspondente a 20% do valor global dos honorários”.
1955.11.17 - A CRRVV solicita a ARS que informem sobre o prazo previsto para a apresentação do projeto completo, no sentido de pedir comparticipação da Junta de Colonização Interna.
1956.08.04 - ARS enviam o projeto à CRRVV.
A memória descritiva, datada de 1956.06.15, começa por referir que o projeto diz respeito à Adega Cooperativa de Lousada, prevista no Plano das Adegas Cooperativas da CRRVV, tendo sido elaborado de acordo com os programas pré-estabelecidos e em permanente colaboração com os serviços técnicos da CRRVV. O estudo a que se refere a memória é o resultado de sucessivas alterações ao ante-projeto, no qual se introduziram as modificações superiormente indicadas e se realizou após audição da direção da Cooperativa. Explica-se que se trata da primeira adega cooperativa a construir-se na região dos vinhos verdes, onde se ensaia “pela primeira vez a industrialização dos processos de vinificação, já experimentada noutras regiões”. Assim, “(…) datas as especialíssimas características enológicas do vinho verde, que o tornam um produto extremamente sensível, não quiseram os técnicos da Comissão de Viticultura abandonar, para já, certos princípios consagrados pela prática, nem ainda abalançar-se e adaptar esquemas demasiado revolucionários na ordenação dos vários elementos da Adega”.
Quanto ao terreno e implantação, explica-se que se situa junto à vila de Lousada, num “polígono irregular em gaveto com três lado perpendiculares entre si”, cujo declive acentuado permitiu a criação de dois pisos para a Adega, ambos com saída direta para o exterior.
Quanto à organização do programa, explica-se que o projeto é composto por três edifícios, um sendo o principal outro destinado à destilaria e o terceiro à casa de habitação para o adegueiro. O edifício principal é “uma grande unidade em dois pisos, destinada à laboração e armazenagem do vinho (…), com a frontaria voltada para o arruamento a NW”. Este volume “prolonga-se para SW por um pequeno corpo, mais baixo, em três pisos, destinado aos serviços administrativos, direção, laboratório, arrecadações e sanitários”.
Explicam-se as diferenças de armazenamento do vinho tinto e branco e como estas condicionaram o projeto. Refere-se que o sistema utilizado para o transporte das uvas levou a um esquema diferente do habitual para a zona de descarga e esmagamento, não sendo necessário “o clássico togão. Em vez dele, no cais coberto que corre ao longo da fachada principal, construiram-se pequenos togões”. Continua-se, indicando que, “desta distribuição resultou estabelecer-se um pavimento intermédio, ao piso principal e piso inferior, aberto em galeria sobre estes, acessível a partir de qualquer destes e da frontaria, o qual é destinado às máquinas de esmagamento e desengate”. Descreve-se que, “no pequeno corpo, em três pisos, que (…) se prolonga a grande unidade, situam-se: ao nível do pavimento principal, a entrada do público - voltada a SW, acessível a partir do terreno por uma rampa; - a secretaria e o laboratório; - ao nível do piso inferior, arquivo e os sanitários do pessoal; - no piso mais elevado, localizou-se a sala de reuniões da Direcção”. Na fachada principal, encontra-se um torreão destinado a depósito de água com capacidade para 30.000 litros. Descreve-se também que “a cobertura da destilaria prolonga-se para SE, formando um alpendre para abrigo do secadouro das bagas destiladas”. A casa do adegueiro situa-se em frente do corpo da destilaria e “dispõe do mínimo indispensável ao alojamento de uma família”.
Refere-se também um cuidado especial com as condições de isolamento e ventilação, tendo-se procurado “assegurar um ambiente adequado à conservação dum produto tão sensível como é o vinho”, apesar da “relativa brandura climática que caracteriza a maior parte da região dos vinhos verdes”.
Estima-se o orçamento da primeira empreitada em 2.080.000$00.
Um documento sem data, com o título “Elementos do Programa”, refere que o projeto da Adega considerou o número de produtores no concelho de Lousada que, de acordo com dados de 1950, seria de 1963, correspondendo a 9.064 pipas de vinho. Prevendo-se crescimento do setor, o projeto prevê três fases de laboração.
Um documento sem data, com o título “Nota Prévia”, refere que, “por conveniência da Adega Cooperativa de Lousada, do presente projecto apenas se construirá uma parte que constitui a primeira fase, ficando o restante para fases subsequentes a construir oportunamente”. Exclui-se desta fase da empreitada os trabalhos de canalização e eletricidade e explica-se que o valor base do concurso deve ser calculado através da diferença entre o orçamento geral e o valor atribuído às deduções.
1956.08.16 - ARS enviam à CRRVV uma fatura relativa aos seus honorários, no valor de 90.656$00.
1956.08.30 - Concurso Público para arrematação da empreitada de construção das instalações e sede da Adega Cooperativa de Lousada (1ª fase), com a base de licitação de 2.180.000$00.
1956.08.31 - Análise das quatro propostas recebidas para a empreitada de construção da Adega Cooperativa, por parte de ARS, e remetida à CRRVV, mostrando preferência pela proposta de preço mais baixo, apresentada por Adriano Leal da Silva Neto (1.929.500$00).
1956.11.30 - Comunicação de ARS à CRRVV, na qual se informa que o arquiteto Mário Cândido de Morais Soares “se afasta definitivamente do agrupamento artístico ARS”, ficando, por obrigação contratual, a seu cargo “todos os trabalhos profissionais relativos à obra da Adega Cooperativa de Lousada”.
To quote this work:
Arquitectura Aqui (2024) Adega Cooperativa de Lousada. Accessed on 22/11/2024, in https://arquitecturaaqui.eu/en/documentation/files/44026/adega-cooperativa-de-lousada