Testemunho de Arménio Rodrigues Gomes, Miranda do Douro
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Entrevista realizada no dia 17 de maio de 2023 no gabinete do Arménio Rodrigues Gomes, vice-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Miranda do Douro. Entrevista realizada pelas investigadoras Ivonne Herrera Pineda e Catarina Ruivo. Agradecemos a sua amabilidade em falar connosco e partilhar valiosas informações para a iniciativa Arquitectura Aqui. Seguem-se algumas informações partilhadas durante a conversa.
Bairro verde - Piscina
As pessoas do bairro verde tinham piscina e isso era uma diferença muito grande com a população que não morava lá. Uma outra diferença social era recolher aos estudantes em carro (os miúdos de fora do bairro verde iam a pé).
Bairro verde
“E as casas que havia ali eram tudo feitas em madeira, isoladas, tinham aquecimento. Eram umas casas espetaculares! Eu tinha um tio que era eletricista e trabalhava lá, também tinha uma casa. Opa, e era impecável, banhos de água quente. Tinham tudo. A empresa Hidrelétrica do Douro era top.”
As ruas foram de boa calidade e ainda hoje estão transitáveis
“Aquilo parecia a Babilónia!” (muito avançado e impecável)
"Pois quando veio a Hidrelétrica do Douro, a HED, Hidrelétrica, depois já passou para a EDP e tal tal. E é que eles traziam já a mão, portanto, a estrutura para fazer bairros para os operários. Mas também não o fizeram para toda!".
Bairro da Terronha
Arménio recorda o passado de Miranda e refere que havia muita miséria, que as condições de vida eram muito precárias (não havia saneamento, não havia casas de banho, as casas não estavam equipadas). Assim, a pobreza, e mais concretamente a fome e o frio, são dois aspectos muito presentes entre os migrantes da barragem que vão povoar o bairro da Terronha.
Pobreza: vinham sem nada, com uma mala. Construíram as casas com materiais muito pobres.
Frio e fome: não tinham condições de habitação
"Ali no bairro, no bairro da… era o Bairro da Terronha, o Bairro da Terronha, que também era tudo monte! Eu lembro-me que era tudo monte".
"Aquilo era as pessoas cultivarem aquilo. Era uma agricultura de subsistência e, portanto, não havia casas como há hoje, quer alugar uma casa? É verdade que nem casa de banho havia. Por tanto, as pessoas quase pareciam, era opá primitiva, não era? pré-história, e faziam as casas, eles próprios é que faziam as casas!"
CTT
Segundo o Arménio, a antiga estação de correios situava-se antes da catedral, onde mais tarde foi construído um muro e onde existe hoje uma loja de artesanato.
Lembra-se que antigamente fazia tanto frio que o solo da zona onde se situava a estação de correios ficou congelado durante um mês e as pessoas estavam a escorregar.
Escola
Arménio estudou numa escola que hoje é uma escola de música:
“Na minha escola, chegamos a andar 40 rapazes. Mas 40 raparigas do outro lado! Não havia misturas, não havia misturas, porque era as meninas de um lado…”
Outras questões
Olhando para a evolução de Miranda, parece-lhe que, felizmente, as coisas melhoraram em relação ao passado. No entanto, lamenta que muitas empresas tenham abandonado o território de Miranda e que, atualmente, a economia esteja estagnada.
A recolha e a sistematização deste testemunho oral foram elaboradas por Ivonne Herrera Pineda, com base numa entrevista realizada em maio de 2023.
Para citar este trabajo:
Arquitectura Aqui (2024) Testemunho de Arménio Rodrigues Gomes, Miranda do Douro. Accedido en 21/11/2024, en https://arquitecturaaqui.eu/es/documentacion/notas-de-observacion-o-conversacion/25276/testemunho-de-armenio-rodrigues-gomes-miranda-do-douro