Testemunho de Olívia Nogueira-01, Arganil
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Conversa com Olívia Nogueira com os investigadores Ivonne Herrera Pineda e Diego Inglez de Souza, no hotel Arganil em maio de 2023.
Olívia Nogueira foi professora do ensino primário e é grande conhecedora da história local de Arganil. Desde o projeto Arquitectura Aqui estamos profundamente gratos por todo o interesse e generosidade que sempre demonstrou para com o nosso trabalho. Muito obrigado também por melhorar e corrigir as nossas notas. A vossa ajuda foi preciosa. Seguem-se algumas informações fornecidas durante a conversa.
Casa da Criança de Arganil - Casa da Criança de Côja
Segundo o seu testemunho, a Casa da Criança foi a primeira do género a ser construída. A Casa da Criança de Côja é posterior.
De acordo com algumas das suas leituras, o doutor Fernando Bissaya Barreto foi à inauguração da Casa da Criança de Arganil.
Hospital de Arganil
O antigo hospital era no edifício ainda existente, contíguo ao atual Centro de Saúde. Pertencia à Santa Casa da Misericórdia, e era uma instituição privada.
No hospital faziam-se todo o tipo de operações (cirugias de cancro da mama, apendicite, etc.). Havia profissionais de muito bom nível e o serviço era tão bom que quase ninguém ia a Coimbra para ser tratado. Para além da sala de operações, no hospital havia quartos para os doentes.
Fernando Valle -médico e figura política de grande renome entre a população- chegou a trabalhar de graça neste hospital. A professora Olívia Nogueria refere que ele vivia na casa do médico.
Segundo a professora Nogueira, na década de 1950 havia um solário, localizado na zona onde hoje há uma estátua do Dr. Fernando Valle, na entrada do centro de saúde. O solário ficava para o sul porque aquilo tinha a ver com a posição do sol. Ela lembra-se de ver os doentes a apoiarem-se no gradeamento para exporem as feridas ao sol. “Eles tinham aquelas sagas enormes nas pernas e nos braços…”.
Bairro do Hospital
Perto do hospital, há um conjunto de casas que foram construídas nos anos 50 para pessoas com dificuldades económicas.
Outras questões – Materiais de construção
Noutros concelhos ou freguesias da região, sobretudo na Serra, há património arquitetónico em pedra construído por famílias muito importantes. No entanto, em Arganil inicialmente predominava uma arquitetura de materiais modestos, principalmente de argila e barro, com a característica cor vermelha da terra de Arganil. A zona de Arganil era pobre em edifícios porque era uma zona pobre, as casas eram de barro, nomeadamente de argila. A zona de Côja é uma zona de transição porque já há granito, que tem mais resistência. Em Tábua as casas são de pedra, de granito e os edifícios são rústicos.
Em Arganil é possível ver em algumas casas a imitação de granito nas caixilharias das janelas. Algumas são de facto de pedra, outras são apenas imitação, para dar um ar mais robusto e de maior riqueza à casa.
Arganil era uma zona pobre, mas com a migração para África as casas foram melhoradas em termos de materiais.
Outras questões- Figuras políticas
São várias as figuras ilustres ligadas a Arganil: o Visconde Sanches de Frias nasceu em Pombeiro da Beira [foi também escritor, viveu no Brasil e de lá veio a sua fortuna]. A sua filha, Alice Sanches, era viscondessa e casou com o Doutor Coimbra, que veio viver para Arganil, e que foi presidente da Câmara Municipal de Arganil. Marcelo Caetano também era natural de Arganil. Quando era estudante, costumava vir a casa da irmã [o pai de Caetano escrevia no jornal A Comarca de Arganil, embora não fosse jornalista].
Havia duas farmácias que funcionavam como centros sociais. A farmácia do Galvão era frequentada pelas pessoas mais instruídas. A outra farmácia era frequentada por pessoas da zona rural, por pessoas “mais simples”. Caetano frequentava a farmácia do Galvão e participava nos convívios sociais que aí se realizavam, era um espaço cultural.
Em 1927 chegou a Arganil o médico Fernando Valle, natural de Coja. Era filho do médico Alberto Valle. Estudou em Coimbra e foi colega dos homens mais famosos da época, que eram indivíduos cultos: escritores, historiadores... Foi aluno de um grande médico, Bissaya Barreto.
Rui Sanches foi ministro de Obras Publicas durante o Estado Novo. O seu pai foi presidente da Câmara Municipal de Arganil.
Nos anos 50 eles partilhavam o objetivo de desenvolver a sua terra.
Outras questões – Economia e agricultura
Neste concelho, os grandes proprietários rurais viviam do lucro das suas propriedades. Cultivavam-se cereais (milho e trigo) e pinhais para fazer resina.
As pessoas pobres davam uma quantidade de milho ao proprietário, que o vendia a outros, quer para o exterior, quer para alimentar o gado.
O grémio de Lavore funcionava na década de 50. O milho era dado e vendido.
Havia a figura do “caseiro”, que era pobre e não tinha dinheiro, mas tinha bois que pertenciam ao proprietário e com eles lavrava a terra. O caseiro vendia parte da sua produção, sendo que a maior parte ia para o dono da terra e outra parte para si.
Dizia-se que o pinheiro, quando dava resina, “sangrava”.
Nos anos 40 não havia arroz, pão ou açúcar. Foram as consequências da guerra. Na padaria havia uma fila enorme para comprar pão.
A área do atual hotel de Arganil era outrora um campo verde e cultivado.
A recolha e incorporação do testemunho oral foi elaborada por Ivonne Herrera Pineda, com base numa conversa informal mantida em maio de 2023.
Para citar este trabajo:
Arquitectura Aqui (2024) Testemunho de Olívia Nogueira-01, Arganil. Accedido en 21/11/2024, en https://arquitecturaaqui.eu/es/documentacion/notas-de-observacion-o-conversacion/35826/testemunho-de-olivia-nogueira-01-arganil