Conversa com Fátima, Lamego
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Conversa com comerciante, Fátima, dona do Talho Albano, localizado no Mercado Municipal de Lamego.
Seguem-se algumas das informações fornecidas.
Fátima frequenta o mercado há 44 anos, desde que o edifício entrou em funcionamento. Inicialmente, ajudava os seus pais no trabalho diário no talho que, desde então, herdou.
O mercado completo realiza-se às terças-feiras, quintas-feiras e sábados. À quinta-feira também se realiza a feira, o que, de acordo com a comerciante, traz pessoas de fora da cidade que aproveitam para ir ao mercado. Foi possível verificar no local a diferência de afluência entre uma quinta-feira e uma sexta-feira de manhã. No geral, considera que a afluência tem vindo a diminuir. Os comerciantes que se reformam ou morrem não são substituídos, reduzindo-se assim também a oferta disponível no mercado. Conta que dantes conseguia tirar dinheiro suficiente para estar descansada. Agora consegue tirar um salário mínimo, mas sempre preocupada.
Durante a conversa, descreveu transformações que se foram operando na utilização do espaço. Desde há uns 10 anos que o primeiro piso do edifício se encontra encerrado. Inicialmente, em todo o lado esquerdo do rés-do-chão funcionavam talhos. A parte central não estava ocupada. As frutas e hortaliças eram vendidas no primeiro piso, onde se localizavam essas bancas junto das de venda de peixe.
Fátima conta que, originalmente, o número de comerciantes era tão mais elevado que o mercado funcionava também no terceiro piso do edifício, não só na sua parte coberta (onde hoje se encontram instaladas a universidade sénior e a ACT), mas em todo o recinto exterior.
A Câmara Municipal de Lamego planeia ceder o primeiro piso do mercado para a instalação de salas do ensino profissional, tendo um acordo já assinado com a Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG). Fátima não acredita que isso traga mais comércio: "Os estudantes vivem em quartos, como vão cozinhar?"
A comerciante considera que a diminuição de afluência de clientes e de oferta de comerciantes andam de mão em mão. Refere que o horário do mercado é muito restrito para quem trabalha mas que os comerciantes, já envelhecidos, não têm vontade de fazer alterações ao seu funcionamento. Os filhos não têm interesse em manter as lojas, como Fátima fez.
Conta que as outras comerciantes são todas mais velhas. Algumas já eram velhas quando Fátima veio para o mercado. "Estas pessoas são parte de mim", "Somos uma família".
A recolha e incorporação do testemunho oral foi elaborada por Catarina Ruivo, com base numa conversa informal mantida em maio de 2025.
Para citar este trabajo:
Catarina Ruivo para Arquitectura Aqui (2025) Conversa com Fátima, Lamego. Accedido en 19/09/2025, en https://arquitecturaaqui.eu/es/documentacion/notas-de-observacion-o-conversacion/64466/conversa-com-fatima-lamego