Conversa com Margarida Madruga, Lisboa
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Margarida Madruga, natural dos Açores, é formada em arquitetura desde 1972, pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Trabalhou nos Correios, Telégrafos e Telefones de Portugal (CTT) entre as décadas de 1970 e 1990. Aceitou partilhar a sua experiência com a iniciativa Arquitetura Aqui, através de uma conversa realizada em setembro 2025, em Lisboa, com a investigadora Catarina Ruivo.
Margarida Madruga sempre quis ser pintora, pelo que ser arquiteta nos CTT não era o seu emprego de sonho. No entanto, considera que teve muita sorte. Teve projeto e obra, e aprendeu muito com o trabalho numa equipa da qual faziam parte engenheiros técnicos mais experientes: “Esses é que sabiam a sério”, conta. Valoriza a multidisciplinareidade do trabalho nos CTT, que lhe permitiu aprender com os outros técnicos e desenvolver um entendimento aprofundado das tipologias e materiais e trazer, de forma informada, o contributo disciplinar da arquitetura.
“E tudo o que eu fiz, foi sempre pensado na forma esteticamente mais aconchegante para quem estivesse lá e quem visse aquilo. São duas formas de viver a arquitetura: lá dentro ou cá fora. Por isso é que eu digo: vocês não venham com coisas, porque estas casas que aqui estão - há anos que ando a dizer à Câmara: tomem posse administrativa disto! Porque a arquitetura não é dos donos. É dos donos e do povo que passa por ela.”
Como arquiteta dos CTT, correu o país todo e teve oportunidade de elaborar projetos para vários tipos de edifícios. Desenvolveu lojas, centros de telecomunicações avançadas, e, após o 25 de Abril de 1974, duas creches, em Almada e em Matosinhos. O conhecimento aprofundado que desenvolveu sobre o funcionamento dos edifícios que projetava, permitiu à arquiteta experimentar soluções variadas e experimentar.
O seu primeiro projeto foi em Vimioso, onde pode aproveitar o xisto local. Em Aljezur, projetou um edifício de telecomunicações num monte frente ao castelo da vila. Propôs enterrar o edifício - apareceria apenas parte a serpentear o monte. Refere como os engenheiros “estavam felizes da vida a trabalhar”, já que a proposta protegia o edifício de variações térmicas e hidrométricas. No entanto, o projeto acabou por não avançar como inicialmente concebido. Em Faro, passou duas horas sentada nos degraus da Igreja frente ao edifício a ampliar, a imaginar a volumetria adequada para uma praça já profundamente alterada por nova construção. Tinha sempre que ir ao local: “Tinha que beber o ambiente, tinha que beber a cor, porque às vezes as coisas são tão tristonhas que a gente tem que lhes dar um tom.” Assim, para atenuar o peso do novo edificado, decidiu não o encostar ao edifício existente, mas definir uma reentrância por baixo da qual se desenvolviam arcadas. Também na Ameixoeira Grande procurou respeitar a arquitetura local. Escolheu cuidadosamente a pedra que combinou com cobre para intervir sobre o existente.
Conta-nos que, em Abrantes, o aspeto exterior original do edifício que projetou foi alterado, tanto pela transformação da volumetria como pela construção de novo edificado na sua vizinhança. O mesmo tem sucedido em vários dos edifícios por si projetados, que eram adaptados, conforme o necessário, pelos serviços da própria região, não regressando às suas mãos.
Para citar este trabajo:
Arquitectura Aqui (2025) Conversa com Margarida Madruga, Lisboa. Accedido en 13/11/2025, en https://arquitecturaaqui.eu/es/documentacion/notas-de-observacion-o-conversacion/66057/conversa-com-margarida-madruga-lisboa




