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Bairro da Misericórdia, BarcelosBairro de Casas para Famílias Modestas, Barcelos

O conjunto habitacional localizado na Rua Casal de Nil foi construído por iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos. Em 1956, o provedor da Misericórdia Mário Miguel Gândara Norton, que fora presidente a Câmara Municipal aquando da construção do então denominado Bairro Dr. Oliveira Salazar, solicitou comparticipação do Estado para a construção de 50 fogos em terreno pertencente à instituição - apelando à sua experiência prévia como garante de uma “rendosa aplicação para capital da Misericórdia” e, simultaneamente, de “obra social de grande alcance e cuja necessidade muito se faz sentir na localidade”.

A Direção de Urbanização do Distrito de Braga, a quem o estudo de implantação foi apresentado para apreciação, considerou que o terreno se encontrava “admiravelmente situado” numa zona de expansão já prevista no anteplano de urbanização então em estudo.

Embora diferentes ofícios das entidades competentes salientassem que a possibilidade de construção do bairro dependeria do progresso do anteplano de urbanização e de outras operações de transformação urbana - nomeadamente o estudo de uma nova ponte sobre o rio Cávado que não chegou a ser construída -, a sua comparticipação foi incluída no plano de comparticipações de 1958. No mesmo ano, o Gabinete de Estudos de Habitação da Direção-Geral dos Serviços de Urbanização elaborou o projeto com a intervenção da Santa Casa da Misericórdia, que intercedeu para que os fogos se organizassem em blocos de dois pisos e as habitações “embora modestas, [tivessem] uma feição mais agradável do que o atual bairro da Câmara”.

Os trabalhos de construção do conjunto habitacional iniciaram-se em julho de 1959. Entre outubro de 1958 e agosto de 1960, a comparticipação da obra foi várias vezes reforçada e, em abril de 1961, deram-se por concluídos os trabalhos. Os trabalhos de urbanização do bairro prosseguiram até ao ano seguinte.

Passados cinco anos, em 1966, a Santa Casa da Misericórdia de Barcelos voltou a pedir a comparticipação do estado para a construção de 52 fogos no mesmo conjunto, assim como apoio técnico para a elaboração do projeto. Os trabalhos foram iniciados em outubro de 1968 e concluídos em 1971, tendo decorrido de forma morosa devido a dificuldades financeiras da Misericórdia.

    

Apenas oito anos mais tarde, em 1979, o provedor da Santa Casa da Misericórdia, Mário Azevedo, solicitava autorização à Direção-Geral da Assistência Social para a venda das habitações do bairro aos seus moradores. Explicava, no seu pedido, que as rendas se encontravam desatualizadas, sendo insuficientes para o volume de trabalhos de beneficiação que se tornavam necessários.

Foi só em 1981 que a Misericórdia informou os moradores da sua pretensão de alienar as casas do bairro, solicitando, a cada um, resposta sobre a sua intenção, ou não, de as adquirir. No entanto, os moradores organizaram-se coletivamente, formando uma comissão para conduzir a negociação. Esta prolongou-se durante os anos seguintes. A comissão de moradores e a Santa Casa da Misericórdia chegaram a acordo em alguns momentos, tendo-se depois deparado com a discordância da Direção-Geral da organização e Recursos Humanos da Secretaria de Estado da Segurança Social.

No ano seguinte, a mesma entidade informou a Santa Casa da Misericórdia da possibilidade de atualizar as rendas; em oposição à opinião dos inquilinos e do consultor legal da Misericórdia que as rendas praticadas se encontravam defendidas pelo Decreto-Lei n.º 445/75, a Direção-Geral citava legislação anterior para justificar a sua posição, enfatizando ainda que, de acordo com o Decreto Lei n.º 35 106, a Santa Casa da Misericórdia, “na atribuição das casas, deliberará atendendo ao grau de necessidade e ao comportamento moral e civil dos pretendentes”.

Desconhece-se como prosseguiu o processo de alienação das habitações.

  

Para mais detalhes, consultar a secção Momentos-chave, abaixo.

Se tem alguma memória ou informação relacionada com este registo, por favor envie-nos o seu contributo.

Análise

Data de Conclusão
1962
Análise Conjugada de Forma, Função e Relação com o Contexto

O Bairro da Misericórdia situa-se no sudoeste da cidade de Barcelos, junto ao rio Cávado, numa área que se mantém, em 2025, com urbanização dispersa e edificado pouco denso. Implanta-se num terreiro fronteiro ao Matadouro Municipal, finalizado em 1951, cinco anos antes do arranque da iniciativa de construção de 100 fogos pela Santa Casa da Misericórdia.

A primeira fase do conjunto habitacional, construída entre 1959 e 1961, consistiu em 12 blocos de quatro fogos cada, alinhados perpendicularmente à principal via de acesso, a Rua Casa de Nil. Mais tarde, foram construídos 13 blocos organizados em diagonal ao longo de três linhas, definindo espaços exteriores quadrangulares entre si. As duas fases seguem os mesmos traços gerais, tendo o projeto da segunda fase sido ligeiramente alterada segundo sugestões da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos, mantendo as fachadas, de forma a garantir a uniformidade do conjunto.

Momentos-chave (clique abaixo para mais detalhe)

Atividades 3

Localização

Comunidade
Morada
Rua Casal de Nil
Distrito Histórico (PT)
BragaDistrito Histórico (PT)
Contexto
InteriorContexto
UrbanoContexto

Estado e Utilização

Estado
ConstruídoEstado da Obra

Fórum

A informação constante desta página foi redigida por Catarina Ruivo, em maio de 2025, com base em diferentes fontes documentais e bibliográficas.

Para citar este trabalho:

Catarina Ruivo para Arquitectura Aqui (2025) Bairro da Misericórdia, Barcelos. Acedido em 05/09/2025, em https://arquitecturaaqui.eu/pt/obras/61128/bairro-da-misericordia-barcelos

Este trabalho foi financiado pelo European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) e por fundos nacionais portugueses através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).