Bairro do Fundo de Fomento, Vale da Amoreira, MoitaConjunto Habitacional da Federação das Caixas de Previdência (FCP-HE), Vale da Amoreira, MoitaUnidade Habitacional do Vale da Amoreira, Moita
A construção do conjunto habitacional conhecido como Bairro do Fundo de Fomento, na década de 1970, inverteu o isolamento e a ruralidade que marcaram até então o território do Vale da Amoreira, nas imediações da Baixa da Banheira.
A construção deste bairro integrou-se no plano de urbanização da Unidade Habitacional do Vale da Amoreira, promovido pelo Gabinete do Plano Regional de Lisboa, nos inícios da década de 1970. Perante a massificação das migrações internas de várias zonas do país para a margem sul do Tejo a partir dos anos 50, originando urbanização informal e habitações clandestinas, surgiu a necessidade estatal de realojar famílias de baixos rendimentos. De facto, já nos inícios da década de 1960 o Gabinete de Estudos das Habitações Económicas da Federação de Caixas de Previdência estabelecera um plano prevendo a construção de aproximadamente 600 habitações de renda mínima na zona de Alhos Vedros – Baixa da Banheira. Ainda durante a construção dos edifícios no Vale da Amoreira juntaram-se a esses grupos de migrantes internos, devido ao processo de descolonização dos territórios africanos no pós-25 de Abril, retornados e refugiados.
O conjunto habitacional foi projetado pelo arquiteto Justino Morais, em 1972, ao serviço das Habitações Económicas da Federação de Caixas de Previdência. O arquiteto aplicou o sistema modular flexível que desenvolveu, capaz de responder à urgente necessidade de habitação e à contenção de custos. O estudo, identificado como CRE-469, previa a construção de 602 fogos distribuídos por quatro núcleos. Em 1973, perante a extinção da Federação de Caixas de Previdência, a coordenação do empreendimento transitou para o Fundo de Fomento da Habitação. A empreitada de construção esteve a cargo da empresa Edifer, e decorreu entre 1973 e 1978, data da receção definitiva da obra (incluindo infraestruturas). Há registo de que em 1974 a construção dos edifícios já se encontrava em fase bastante avançada. No entanto, esteve marcada por demoras resultantes da conjuntura económica, escassez de materiais e, no período de transição para a democracia, agitação social e paralisações provocadas pelos operários. Em adição, uma percentagem de fogos começou a ser ocupada em 1975, sobretudo a partir do verão, quando ainda faltava executar ligações a redes de água, esgotos e eletricidade; esta apropriação informal dificultou a manutenção de um ritmo cadenciado na construção. Apesar da tentativa de intervenção militar para organizar a ocupação das habitações, mantiveram-se as apropriações paralelas aos processos formais de atribuição, vindo a regularizar-se a permanência dos habitantes que então ocuparam as casas.
A execução das infraestruturas, a cargo da Câmara Municipal da Moita, recebeu comparticipação financeira estatal em 1974. Os trabalhos de terraplanagens, arruamentos e esgotos foram adjudicados a Tomás de Oliveira, Empreitadas Lda., e realizados entre 1975 e 1978. À data da conclusão, não haviam sido realizados os arranjos dos espaços verdes exteriores, embora tivesse sido apresentado um estudo nesse sentido pelo arquiteto paisagista Francisco Caldeira Cabral à câmara municipal. Só na década de 80 se acometeram arranjos de jardinagem à empresa Viveiros Falcão.
A Câmara Municipal da Moita pugnou, ainda durante a construção do bairro, para que se executassem os equipamentos escolares previstos. No entanto, a escola primária que se começou a construir no ano letivo de 1975-1976 só seria concluída no final da década. Assim, a documentação consultada demonstra que os espaços destinados a lojas eram, nesse período, utilizadas como salas de aula – que apenas abandoram oe espaços após 1981 – e, também, como habitação (cujas famílias se pretendia realojar no Bairro das Descobertas, em construção). O projeto para jardim de infância e parque infantil encomendado a Justino Morais em 1976, a localizar numa das praças, não seria concretizado.
Trata-se de um dos bairros mais populosos da Moita, marcado pela diversidade cultural e por diversos fluxos migratórios de diversas origens ao longo dos tempos. Integra um território que tem sido definido pela condição marginal e periférica, de exclusão social e precaridade habitacional, mas, ao mesmo tempo, como registou Elsa Peralta, um local de resistência e reinvenção.
Para mais detalhes, consultar a secção Momentos-chave abaixo.
Analysis
O conjunto habitacional ocupa atualmente a zona central do Vale da Amoreira, ficando próximo das escolas básicas e secundária e do mercado, bem como de outros dos bairros implantados a partir da década de 1980. Integra 67 edifícios de habitação coletiva, incluindo espaços comerciais, que variam entre os três e os oito pisos, distinguindo-se pelas cores aplicadas nas fachadas (distintas para cada um dos quatro núcleos).
Key moments (click below for details)
Location
R. Amores Perfeitos, Vale da Amoreira
Status & Uses
Materials & Technologies
Documentation
A informação constante desta página foi redigida por Ana Mehnert Pascoal, em dezembro de 2025, com base em fontes documentais.
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To quote this work:
Ana Mehnert Pascoal for Arquitectura Aqui (2025) Bairro do Fundo de Fomento, Vale da Amoreira, Moita. Accessed on 16/12/2025, in https://arquitecturaaqui.eu/en/buildings-ensembles/66250/bairro-do-fundo-de-fomento-vale-da-amoreira-moita






















