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Testemunho de Humberto Santos, Alijó

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Testemunho de Humberto Santos, Alijó

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Registro de la Observación o Conversación

Conversa com Humberto Santos no quartel dos bombeiros voluntários de Alijó, em julho de 2023. Conversa mantida com as investigadoras Ivonne Herrera Pineda e Catarina Ruivo.

Humberto Santos é natural de Alijó, nascido e crescido em Alijó. Esteve apenas 3 anos na tropa. Na casa dos 70 anos, presidente dos bombeiros. Seguem-se algumas das informações partilhadas durante a entrevista.

Quartel dos Bombeiros Voluntários de Alijó

Na década de 1980, a Câmara comprou os terrenos para cima da avenida e fez a avenida.

O quartel foi construído em 81/82 e abria só para a frente.

O arquiteto António Cândido, natural de Alijó (vivia no Porto), fez o Mercado e o projeto dos bombeiros (de graça “Os arquitetos têm de se pagar. E quando apareceu um arquiteto natural de Alijó, ele embora vivesse no Porto -tinha lá a sua vida, mas era natural de Alijó- qualquer arquiteto levava mil ele levou dez, para as despesas correntes, fez praticamente o projeto de borla […] Este projeto foi de graça, praticamente foi oferecido pelo senhor arquiteto António Cândido”.)

“Nasceu como casa de cinema, pronto, talvez para recorrer às verbas comunitárias. Antigamente a sede dos bombeiros não tinha esta dimensão que tem hoje, era mais…” “A gente foi lá muitas vezes como jovens ver o cinema, depois, em 89, os bombeiros começaram a crescer” e começou-se a pensar nesta obra em 2008.

“Aquele prédio, como digo, aquilo nasceu, era os bombeiros. Mas como na altura, eram os anos 80, não havia talvez subsídios para edifícios, a Câmara ou a direção antiga, aquilo foi construído como uma casa de espetáculos. E era de espetáculos. Levava ali umas 400 pessoas a ver cinema. Mas tinha compartimentos para os bombeiros. Aqui onde estamos […] havia estilo de uma garagem para meter os carros. Ali os carros não cabiam, não é? Porque aquilo era só mesmo para ser-humano. Aqui, onde estamos, metiam 2 ou 3 carros.”

“O único espaço de cinema que havia era ali [no quartel]. Houve antes noutras casas, mas dos anos 70 para a frente foi sempre aquela casa. E depois a câmara nos anos 90 construiu o auditório aqui em baixo e isto deixou de ter tanta utilidade. Isto até já foi comigo. Como não havia cinema, nós pegávamos nas cadeiras e metíamos lá os carros. Aquilo esteve para aí 20 anos e era só praticamente cinema e casa de teatro. Nas partes laterais lá estavam os bombeiros, um quartozinho, dormiam assim mais acanhados.” […] “Tínhamos um quarteleiro, hoje não temos, tínhamos um casal que tinha uma casinha de habitação, dormia lá, e estava sempre a atender o telefone.” […] “Antigamente o serviço era muito pouco”.

“Quando o antigo presidente da direção – os bombeiros estavam numa casinha velha sem condições - tentou fazer um edificiozinho para os bombeiros, para dar mais dignidade, pensou aqui nisto. Mas depois o Governo não dava subsídios, e eles não tinham condições para fazer o edifício. E fizeram um projeto assimilado para no fundo fazer as duas coisas. Era salão de cinema e bombeiros. Portanto acumulava as duas coisas. Portanto aquilo na altura gastavam lá 300 contos - 100 000 contos - depois quase um milhão. O Governo não dava subsídios, então não havia dinheiro. Então como eles puseram a casa de espetáculos já deram subsídio para fazer. E, no fundo, naquela época foi de utilidade para os bombeiros e para a população, que tinha o seu cinema às quintas e sábados e as demais de vezes”.

“Antigamente tinha só lá um gabinetezinho onde a direção reunia, e os bombeiros não tinham condições, porque aquilo era do cinema. Antigamente, quando vim para aqui, tinha 3 pessoas para fazer os serviços de saúde, e isso chegava e sobrava. Hoje tenho à volta de 13 pessoas” (e não chega)

Eram empresas que vinham passar os filmes, mas os bombeiros recebiam uma pequena comparticipação por ceder a sala.

“Aquilo foi uma casa de espetáculos para terem condições para fazerem o edifício com pequenos subsídios do governo”

- Investigadora: Porque não demoliram aquela parte?

- Humberto: “Como aqui tive condições, não mexi naquilo” […] “já esteve previsto a Câmara comprar aquilo para fazer qualquer coisa para eles, mas não… Está ali aquilo. Tem de ter um fim, hoje, amanhã, para benefício aqui da terra. Porque aquilo é um edifício, já está um bocadinho deteriorado, mas aquilo é um edifício muito bom. Por dentro é tudo pedra boa […] Estou convencido que o poder político, hoje, amanhã, terá de olhar para aquilo.”

“Deixa estar lá. Aquilo vale sempre dinheiro. É um património dos bombeiros.” […] “Não gostava de ver este edifício ir para uma pessoa particular para fazer hotel ou grande exploração. Gostava que o poder político - Câmara Municipal - comprasse e que fizesse ali um edifício para bem das pessoas. A Câmara tem vários sítios onde tem o pessoal a trabalhar e, se investisse aqui, era capaz de ficar aqui tudo. Eu como alijoense […] gostava de ver este edifício para serviço público […] Gostava de o ver entregue ao poder político para benefício das pessoas de Alijó”.

Falou com presidentes da Câmara, mas não têm dinheiro. Mas ainda não perdeu esperança. “Tem todas as condições para tudo. São 2623m2 o edifício com o quintal […] Podia fazer, sei lá, o salão de festas do concelho, gabinetes de estudo, isso depois são as pessoas que estão à frente do município que têm de inventar, porque é pena aquele edifício estar assim abandonado.”

Cinema antes era numa casa normal, mesmo muito pobrezinha [dos bombeiros?]

“Tinha condições, tinha sons, tinha tudo, estava preparada para isso. Tinha camarote, tinha tudo. Tinha 200 cadeiras principais, tinha mais 50 em cima, pronto, e tinha aqui um auditório onde se fazia teatro, tudo, era uma casa cultural. Cinema era o principal, mas já fizeram programas de teatro, peças.”

“Para os anos 80, quando foi feita, era uma casa de primeiro plano”.

O cinema acabou quando fizeram o auditório com cinema - mas agora está fechado.

“Como aqui já não havia cinema, nós retiramos as cadeiras todas e adaptamos a quartel só. Ainda estive ali para aí 15 anos e era só quartel, já não havia cinema. Os últimos 15 anos de vida foi mesmo só para quartel de bombeiros.”

Cadeiras aproveitadas para o pátio atual dos bombeiros. “Na epidemia a nossa igreja fechou, que era pequenina. Aqui como é um espaço largo a igreja, o padre, o senhor pároco pediu-nos, a ver se podiam fazer as homilias ao domingo” - fizeram durante cerca de 2 anos. “Como tínhamos aí muita cadeira, na arrumagem… Não chegava, às vezes, vinha muita gente!” […] “Aqui as pessoas vinham sem medo [na pandemia] porque tinham espaço”.

O Humberto celebrou os 50 anos de casado no quartel, numa dessas missas, em 2021.

·         Entre as três ou quatro coisas mais importantes que se lembra dos bombeiros:

“Quando, em 1960, veio o primeiro pronto de socorro para os incêndios […] No dia que veio, juntaram-se milhares e milhares de pessoas de todo o concelho”.

“Em 1963, foi a primeira ambulância que veio para o concelho […] Outra avalanche de povo que veio do concelho para ver a ambulância”.

“E depois, a inauguração do quartel em 1982. De facto, quando o povo do Alijó, o povo do concelho e seus amigos souberam que íamos inaugurar o novo quartel e casa de espetáculos - até dávamos os dois nomes, quartel e casa de espetáculos - foi um dia muito alegre”.

“No meu mandato, o dia mais feliz que eu tive nesta casa, foi, em 2007 fizemos 75 anos.” - e a inauguração do novo edifício em 2015.

Hospital da Santa Casa da Misericórdia

Hospital e bombeiros como prestadores de urgências: “Antigamente em Alijó, tínhamos aqui um hospital que era da Santa Casa da Misericórdia, adonde havia internamentos, havia operações, fazia-se tudo. Isto depois nos anos 90 o governo fechou o hospital da Santa Casa e construiu ali o centro de saúde” (que não dá resposta às pessoas).

“Se tiverem uma unha partida têm e ir para Vila Real.”

Os bombeiros colmatam as falhas “e tem sorte porque somos 5 corporações, Alijó, Favaios, Sanfins…)

Estádio Eng. Delfim Magalhães / Estádio do Sol

“Isto aqui eram terrenos livres. Já na altura, a direção dos bombeiros pediu aos donos dos terrenos - eram pessoas de bem, avultados - a ver se lhe davam terrenos para fazer um quartel de bombeiros. E deram este terreno, foi dado. Além no mercado, era onde os jovens jogavam à bola. Ali era o campo de futebol. Aos domingos, aos sábados, nas horas vagas, os jovens iam para lá jogar à bola. O jogo oficial era lá. Aquilo era o campo de futebol. E depois, em 1970-71 foi quando fizeram o campo novo - deve ter sido 69-70.” […] “Chamam-lhe o Estádio do Sol ou o Estádio delfim Magalhães, que era o presidente da Câmara de então […] Tem bancadas, tem relvado, tem tudo, tem todas as condições […] Um projeto da Câmara, fizeram tudo como deve ser. Aquilo até nasceu só o campo e depois, mais tarde, investiram. Até me dizem agora que precisa de investimento outra vez. Mas é como tudo, tudo se gasta.”

Mercado Municipal de Alijó

O arquiteto António Cândido fez o Mercado.

“Do mercado para baixo era tudo cultivo.” Pequenos produtores, embora os terrenos pertencessem a poucos donos. Faziam talhões pequenos e cediam a pequenos produtores. “Havia 2 ou 3 donos, agora cultivar lá era capaz de ser 20 ou 30”.

Bairro pré-fabricado

“Quando fizeram a barragem ali da água, em 1970 e tal também, 70 e tal, 80. Vieram para aí várias pessoas e não tinham alojamento. Então fizeram aqueles pré-fabricados. Acabaram a barragem, a Câmara tomou conta daquilo e deu a pessoas assim mais humildes.” Pertencem à Câmara.

Outras questões- Festas

Humberto teve 30 anos a organizar as festas de Alijó.

Freguesias com instalações da comissão de festas: “Alijó não […] Por exemplo Sanfins do Douro, tem Santa Piedade a dar todo o ano, o Pópulo tem lá as feiras todos os meses fazem lá a feira, Carlão te lá um barzinho. Alijó nunca teve muito essa tradição […] fazia alguns eventos, mas bar nunca teve. Uns bailes de fim de ano, tínhamos aqui a festa de S. Martinho que era uma feira muito forte que fazíamos sempre assim um barzinho, nos reis íamos cantar os reis pelas portas, na Páscoa tínhamos o baile da Páscoa e depois fazíamos umas excursoezinhas lá fora.”

Todas as festas que se faziam ao longo do ano eram organizadas pela população, através da Comissão de Festas. Estas eram comissões nomeadas: “eram comissões de amigos, vamos fazer a festa!”, “a comissão de festas nomeava-se. A gente chegava ao pé do senhor padre e dizia, senhor padre, ponha aí o António, Francisco, Carlos, e as pessoas aceitavam ou não aceitavam”. Desde cerca de 2019 a comissão é uma associação organizada, “tem estatutos, presidente da assembleia… É como os Bombeiros”. Faz-se uma convocatória aos Amigos de Alijó para eleger a Comissão de Festas.

Outras questões- Produção em Alijó

Há 20 anos atrás Alijó estava rodeada de terrenos cultivados, hoje já não se vê nada. “Há 40, 50 anos Alijó vendia muito produto para fora, hoje compra. E uma terra como nós somos, tinha condições para colher para comermos nós e ainda vender, e hoje compra-se muito mais do que o que se vende. Tirando o vinho, o vinho sim.”

A recolha e a sistematização deste testemunho oral foram elaboradas por Catarina Ruivo e Ivonne Herrera Pineda, com base numa entrevista realizada em julho de 2023.

Para citar este trabajo:

Arquitectura Aqui (2024) Testemunho de Humberto Santos, Alijó. Accedido en 21/11/2024, en https://arquitecturaaqui.eu/es/documentacion/notas-de-observacion-o-conversacion/21328/testemunho-de-humberto-santos-alijo

Este trabajo ha sido financiado por European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) y por fondos nacionales portugueses por intermedio de FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., en el contexto del proyecto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).