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Testemunhos no evento “Memórias Fotográficas de Arganil”

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Testemunhos no evento “Memórias Fotográficas de Arganil”

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Registro de la Observación o Conversación

Evento “Memórias Fotográficas de Arganil” realizado em setembro de 2023 na Biblioteca Municipal de Arganil. Atividade organizada em parceria com o Arquivo Municipal de Arganil, a Biblioteca Municipal de Arganil e a iniciativa Arquitectura Aqui. Atividade facilitada pelos investigadores Ivonne Herrera Pineda e Diego Inglez de Souza.

Gostaríamos de agradecer a todas as pessoas que participaram neste evento: Abel Costa Pereira; Olívia Nogueira; Fernando Brandão; Silas Neves Correia; Maria Manuela Machado; Mariana Rita Correia; Luís Martins; Lino Borges Gonçalves; Carlos Neves; Abel Ventura Fernandes; José Manuel da Costa; Alexandra Novais; Elvira Ferreira; Graça Moniz; José Vasconcelos; Rui Cruz.

Agradecimentos especiais as pessoas que nos cederam fotografias de Arganil: o senhor Fernando Brandão, o senhor Luís Martins, e a professora Olívia Nogueira. Também aos profissionais do Arquivo Municipal de Arganil, porque foram um apoio essencial: Susana Cruz, Paulo Cunha e Paulo Castanheira, e as pessoas da Rádio Arganil, por difundir esta atividade.

Seguem-se alguns dos contributos que foram partilhados durante o evento. A autoria só pode ser atribuída a alguns dos fragmentos. Assim, convidamo-lo a identificar os autores dos fragmentos que não temos conseguido identificar, bem como a complementar dados ou corrigir eventuais erros.

Câmara Municipal, Paços do Concelho

O público tenta identificar a data da fotografia e o evento social mostrado, que parece festivo. Alguns notam que as pedras da parte de cima já estão enegrecidas, sugerindo que não é a inauguração do edifício.

A professora Olívia Nogueira sugere que pode ser um evento relacionado com o hospital. Após várias investigações, conclui-se que a data pode situar-se entre 1951 e 1956, no período do doutor Queiroz como presidente da Câmara.

Um participante identifica várias pessoas na fotografia que estão no café numa reunião social: o doutor Teixeira, o Sr. Alberto Lourenço, o doutor Parente, a esposa do doutor Parente dos santos…

Um participante salienta uma particularidade nesta foto, que são as letras escritas no cimo da Câmara onde estava escrito “Arganil”. Antigamente todas as câmaras tinham o nome escrito nos telhados.

O público tenta identificar a data da remodelação do edifício. Um participante diz que a primeira remodelação da casa foi mais ou menos nos anos 68-69. Um outro participante aporta dados da sua experiência profissional: ele entrou trabalhar na Câmara em junho de 70. Antes a Câmara estava em obras, sendo feitas alterações. Serviços como a Secção das Águas estavam a fazer serviço no rés-do-chão do Ramiro Jorge. Posteriormente, mudaram-se para as novas instalações com uma regulação geral da Câmara, incluindo a construção do avançado. Salienta que “já foi nessa altura que foi feito o avançado”. Ao retornar do rés-do-chão do Ramiro Jorge para as novas instalações da Câmara pareceram-lhe “uma coisa impressionante”. “Nos regressamos do rés-do-chão do Ramiro Jorge por volta do de início de 1971 e até 95% já estava”.

Realizavam-se bailes na Câmara Municipal, em cima, no salão da frente. Aqui havia discriminação porque para ter acesso a estes bailes, era necessário receber um convite e nem todas as pessoas eram convidadas. A professora Nogueira lembra-se de raparigas jovens a chorar porque queriam ir ao baile e não tinham sido convidadas.

Em cima do Paço também houve uma sala de cinema onde foram projetados filmes.

No interior do edifício da Câmara Municipal havia diversos serviços:

(Edifício da Câmara - Caixa Geral de Depósitos)

No piso do rés-do-chão, era a Caixa Geral de Depósitos, o aferidor (a aferidora era uma entidade que calibrava as medidas e os pesos) os sanitários públicos para homens e para mulheres. A seguir era a repartição de finanças, a tesouraria pública e o café.

Depois estava a entrada do que hoje chama-se a Segurança Social, que era na altura o desemprego. A seguir estava o registo civil e registo predial.

(Edifício da Câmara - Tribunal)

Voltava-se por outra porta, entrava-se no Tribunal que tinha a sala de audiências do outro lado.

No primeiro andar, à esquerda, estava o gabinete do Sr. Frederico, que era o juiz dos pequenos delitos (que eram os delitos que não iam ao Tribunal, mas à mão do Sr. Frederico, que era o administrador do Concelho) e ele tinha um ajudante também, que aplicava os castigos de multas pequenas.

(Edifício da Câmara - Serviços da Câmara Municipal)

Depois, em seguida, havia o gabinete do Sr. Presidente da Câmara Municipal, depois a Secretária-geral, onde estavam todos os funcionários da Secretaria. No outro corredor, havia o gabinete dos Serviços Técnicos da Câmara.

Teatro Alves Coelho

- Abel: “Vocês estão a dizer que o teatro foi um local de diversão, mas não foi, assim para toda a gente. Foi só para alguns, não se esqueçam. Por exemplo, mesmo o cinema, estava limitado pelo seu preço. E havia lugares para uns e para outros. Não era um apartheid [?], mas era assim, uma coisa...

- Mulher participante: Ricos e pobres.

- Abel: Havia uma discriminação.

- Olívia Nogueira: E em relação àquilo que disse o Abel, sobre a discriminação, essa discriminação fazia-se mais nos bailes da Feira [que eram feitos na Câmara municipal].

Um participante diz: “Eu já com 10 anitos... Eu saí da escola com 12. Mas eu com 10 anos lembro-me perfeitamente e ajudei também o artista, o escultor, que esteve a fazer estes bonecos, estes desenhos, fez isto em barro cinzento. E então, para mim era um consolo ir lá e ele dizia-me: "Olha, amassa ali o barro que é para eu fazer aqui." E então eu ficava todo contente de estar a amassar o barro para ele fazer este desenho. Era um boneco de quatro partes. Era um boneco que foi feito em quatro partes [...] E eu dizia assim: "Como é que este gajo vai fazer estes bonecos?" Porque eu não entendia aquilo! Mas depois quando vi isto lá no sítio foi um trabalho perfeito”.

O teatro, naquele tempo, transmitia duas vezes e até três vezes por semana um sítio de filmes. Fazia revistas, bairros.

Casa da Criança

Um participante lembra de ter tido 5 anos de idade e estar na inauguração da Casa da Crianca. Confirma a presença de Bissaya Barreto na inauguração da Casa da Criança de Arganil.

Um participante lembra-se que, quando deixou a Casa da Criança para ir para a escola, depois das aulas na escola, ia para a Casa da Criança para ler porque tinha muitas saudades.

Esta casa da criança foi a primeira que mandou construir o doutor Bissaya Barreto.

A professora Nogueira conta que Fernando Valle e Bissaya Barreto eram amigos desde a juventude, nos tempos quando Fernando Valle era estudante. No momento da inauguração da Casa da Criança Bissaya Barreto e Fernando Valle abraçaram-se, ultrapassando a situação política da altura, que impedia ao doutor Valle fazer discursos ou participar em eventos públicos por ter sido detido anteriormente.

Hospital

Olívia Nogueira: “Nesta fotografia vê-se o pavilhão do hospital. Aquele pavilhão foi construído talvez nos anos 50. Ele teve o nome de Dona Maria Augusta, porque era casada com o senhor Eduardo Martins, e foram eles que fizeram o maior donativo para a construção do pavilhão. Neste pavilhão havia o consultório do Dr. Fernando Valle, havia a sala de curativos, e havia os quartos particulares, e o bloco operatório. E estas janelas que se vêem aqui eram varandas, onde os doentes que tinham chagas curavam as feridas ao sol”.

Olívia Nogueira: A parte da esquerda pertencia ao hospital e a outra parte à quinta do doutor Simões. Também foram construídas casas talvez numa pequena faixa. Havia uma capela, que era a capela da Senhora da Esperança na parte da esquerda, é mais ou menos onde é hoje o Lar da terceira idade.

Olívia Nogueira: Na altura do ano 1953 o Dr. Fernando Valle dava consultas da parte da manhã e o Dr. Parente dos Santos da parte da tarde. Nessa altura, o hospital teve a maior atividade de todos os tempos. Faziam-se operações, “fazia tudo”.

Foram também projetados filmes no jardim do hospital.

Um participante recorda o seguinte da capela que existia na zona hospitalar: “Naquela capela que se me ensinou há bocado, eu passei lá um dos momentos mais felizes da minha infância. E porquê? Eu morava ali. E ali, aquela capela, no outro tempo, era onde se fazia as escolhadas […] e depois assistíamos ao começo de muitos namoros, alguns casamentos fizeram-se a partir das escolhadas”.

Quartel dos bombeiros

Um participante diz o seguinte: “A corporação dos bombeiros de Arganil não foi só a corporação de bombeiros. Ali nasceu o futebol, nós tivemos futebol […] Ali havia um sítio onde as pessoas conviviam, que era no primeiro andar, tinham uma televisão, um… Os bombeiros organizavam, desde sempre, pelo menos três gincanas em Arganil, naquela avenida faziam uma gincana de automóveis, uma gincana de motos, uma gincana de bicicletas. Portanto, os bombeiros de Arganil, não eram para nós, arganilenses, só bombeiros […] No resto do ano, organizavam muitas coisas e estavam metidos em quase tudo”.

Um participante lembra de ter ido à escola secundária no ano 1973. Esta escola funcionou vários anos e estava na parte de trás dos anexos de bombeiros.

Junta de freguesia de São Martinho

Funcionaram ali os CTT e depois o posto médico.

Escola de Sarnadela

Algumas pessoas participantes no evento lembram-se de que antes deste edifício ser construído, existia ali uma capela que foi demolida. Um participante salienta que estava previsto aproveitar todas as pedras para ser reconstruída a capela em outro local. Outros participantes afirmam que a capela existia ainda no ano 1973. E uma outra participante menciona que era uma escola ampla sem paredes e “a gente fazia paredes de uma sala para a outra”. Segundo esta participante, o modelo da escola “foi copiado, ou foi dos países do Norte, ou da Inglaterra”.

A recolha e incorporação dos testemunhos orais foi elaborada por Ivonne Herrera Pineda, com base num encontro público e coletivo (2023).

Para citar este trabajo:

Arquitectura Aqui (2024) Testemunhos no evento “Memórias Fotográficas de Arganil”. Accedido en 31/10/2024, en https://arquitecturaaqui.eu/es/documentacion/notas-de-observacion-o-conversacion/35828/testemunhos-no-evento-memorias-fotograficas-de-arganil

Este trabajo ha sido financiado por European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) y por fondos nacionales portugueses por intermedio de FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., en el contexto del proyecto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).