Paços do Concelho de Arganil
Em 1932, começaram as tratativas no sentido de construir um novo edifício para abrigar os serviços da Câmara Municipal, quando foram elaborados os "Elementos para a elaboração do projeto dos Paços do Concelho de Arganil", que integrava também o Tribunal da comarca, a Conservatória e a Repartição de Finanças locais.
Depois de uma primeira versão do projeto elaborado pelo arquiteto Artur de Almeida Junior ter sido recusada pelos técnicos a serviço da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, o projeto dos Paços do Concelho de Arganil ficou a cargo do arquiteto Alfredo Duarte Leal Machado, da Seção dos Edifícios e Monumentos do Coimbra da Direção de Edifícios Nacionais do Norte (DENN). Se a organização da planta é similar ao projeto inicial, a expressão da fachada principal do edifício é bastante diversa. O projeto de Leal Machado integra duas soluções diferentes para a fachada principal, uma que prevê um frontão de feição neoclássica sobre o eixo principal da composição e outra, na qual a entrada principal é marcada por quatro elementos verticais em betão armado, de expressão mais próxima do art deco.
A obra foi adjudicada à Câmara Municipal de Arganil, que terá iniciado os trabalhos em 1935, após a demolição dos edifícios existentes na área a implantar o edifício, a praça a ele associada e ruas adjacentes.
Vários testemunhos orais referiram, em 2023, as transformações
significativas que teve este edifício e esta zona da sede do concelho ao longo
do tempo. A professora Olívia Nogueira, natural de Arganil, aponta que “toda esta zona, a partir de aqui, era uma zona de casas rústicas, de aspecto pobre e escuro. Eram casas muito muito antigas que davam para os terrenos que iam até ao ribeiro de Amandos -mais tarde coberto, dando origem à Avenida. Foram demolidas para se construir… em 1940 foi inaugurado [edifício dos] Paços do Concelho, a Câmara Municipal". "Para isto ser construído, todas as outras casas foram deitadas abaixo". Desta forma, foi construído o que mais tarde viria a ser “a zona mais central de Arganil”.
Na Memória descritiva e justificativa do projeto de Urbanização junto aos Paços do Concelho de Arganil, elaborada por Leal Machado, funcionário da DENN, lemos que "O amontoado de casas que circundam o edifício dos novos Paços do Concelho de Arganil, não tem qualquer interesse arquitetónico ou pitoresco que justifique a sua conservação, assim como os becos não oferecem pontos estéticos ou simplesmente curiosos, que possam justificar a sua conservação." O arquiteto indica como condicionantes do projeto, além do edifício dos Paços do Concelho, "que obriga a construção de ruas laterais e da posterior", a Estrada Nacional nº 52, o Hospital, a Igreja e o Asilo da Santa Casa da Misericórdia de Arganil. O custo previsto, incluindo as expropriações de casas e terrenos a demolir, além das obras de urbanização como aterros, guias, passeios, mosaicos de calçada portuguesa, faixas de rolagem e ajardinadas, era de 152.210$00.
Em 1939.10.11, lavrou-se o auto de entrega definitivo ao município da obra pela Direção Regional dos Monumentos e Edifícios Nacionais do Centro, representada pelo Engenheiro chefe Álvaro Teixeira Moraes Pinto de Almeida como Delegado do Senhor Diretor e António Pedro Fernandes, Presidente da Câmara Municipal de Arganil (Auto de entrega, AHCMA).
A fachada principal do edifício inicial já não corresponde à atual, alterada nos anos 1960, durante uma remodelação no edifício motivada pela urbanização da vila e pelas obras viárias do entorno que procuraram estabelecer uma nova centralidade para Arganil. As quatro colunas que sustentam a varanda do salão nobre, que cobre a entrada principal do edifício foram encimadas por um frontão, modificando-lhe as feições art déco.
O volume que procura apresentar as realizações do período em que o Coronel Álvaro Duarte da Silva Sanches esteve à frente da CMA, entre 1956 e 1966, culmina com a apresentação do projeto de reforma dos Paços do Concelho de Arganil. O ex-presidente da CMA dedica um capítulo do livro ao Plano Comemorativo de 1966, no qual se incluem as obras no concelho que aparecem relacionadas, no qual se inclui uma explicação das razões que motivaram a transformação da fachada posterior do edifício dos Paços do Concelho :
"Quando o edifício dos Paços do Concelho foi construído, não tinha sido ainda aberta a Avenida José Augusto de Carvalho (Avenida dos Amandos) e , por isso, a sua fachada posterior ficou com a traça vulgaríssima, isto é, o aspecto de caixote, onde se tivessem aberto uns buracos, que seriam as janelas.
Com a abertura da Avenida, que é hoje a artéria mais importante de Arganil, devido à sua localização e à sua pavimentação, a fachada posterior do edifício dos Paços do Concelho não estava de harmonia, não só com o edifício, que passaria a ser mais observado por esse lado, mas também com o aspecto da Avenida.
Era necessário, portanto, dar àquela fachada um aspecto que destacasse o bom edifício por aquele lado e que não originasse comentários desfavoráveis à vila e às pessoas que, em boa hora, e com o dispêndio de muitas preocupações e energias, levaram a efeito a sua construção.
Esta nossa opinião foi coincidente com a das Instâncias Superiores e, aproveitando essa circunstância, solicitou-se à Direção de Urbanização a assistência técnica, que foi concedida, para a elaboração do projeto de remodelação do edifício, não só da sua fachada posterior, mas também do seu interior e demais reparações que fossem precisas." (Silva Sanches, 1966, p.97) Estas obras foram comparticipadas com 200 contos pelo Estado através do Fundo do Desemprego, equivalente a 40% do custo da obra, que foi posta a concurso em 1967.
Vários testemunhos orais também referiram, em 2023, os diversos usos e remodelações que experimentou este edifício ao longo dos anos. O edifício da Câmara Municipal de Arganil interiormente abrigava diversos serviços públicos, como a Caixa Geral de Depósitos, a repartição de finanças, o registo civil e até o tribunal. No evento “Memórias fotográficas de Arganil”, várias pessoas salientaram que além de sede administrativa, a Câmara também foi palco de eventos sociais, como bailes, que, no entanto, eram acessíveis apenas por convite. A área também abrigava uma sala de cinema, indicando a sua importância como espaço multifuncional na vida da comunidade local.
Notas
No evento “Memórias fotográficas de Arganil” (2023) foi sublinhada a forte presença deste edifício, localizado num ponto central da vila, e diversos elementos arquitetónicos como a sua fachada, que reflete a arquitetura do Estado Novo. Um outro testemunho, desta vez de Lino Borges Gonçalves, durante um passeio por esta zona em 2023, apontou também a importância deste edifício no ambiente construído: “Estamos a chegar ao coração do Arganil, não é? O que também prova a proximidade das pessoas com mais poder económico estar mais… junto ao centro político”.
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Ubicación
Estado y Utilización
Documentación
A informação constante desta página é fruto do trabalho de Diego Inglez de Souza em janeiro de 2024 e de Ivonne Herrera Pineda em abril e julho de 2024, e foi reunida através de fontes documentais e bibliográficas e dos diversos contributos e testemunhos que pudemos recolher em Arganil. Conta com a preciosa informação partilhada por Olívia Nogueria, Lino Borges Gonçalves, algumas pessoas que permanecem anónimas e pelos vários participantes do evento “Memórias Fotográficas de Arganil” realizado em setembro de 2023 na Biblioteca Municipal de Arganil, com a colaboração do Arquivo Municipal de Arganil e a Biblioteca Municipal de Arganil, sobre o tema dos edifícios públicos do século XX de Arganil.
Para citar este trabajo:
Arquitectura Aqui (2024) Paços do Concelho de Arganil. Accedido en 23/11/2024, en https://arquitecturaaqui.eu/es/edificios-y-conjuntos/1159/pacos-do-concelho-de-arganil