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Testemunhos no evento “Memórias da Casa do Povo de Pinhel”

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Testemunhos no evento “Memórias da Casa do Povo de Pinhel”
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Casa do Povo de Pinhel Edificio o Conjunto
Mercado Municipal, PinhelEdificio o Conjunto

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Registro de la Observación o Conversación

Atividade de conversa grupal intitulada “Memórias da Casa do Povo de Pinhel” realizada na Casa do Povo em outubro de 2023.

Conversa entre oito pessoas, todas elas conhecedoras de Pinhel e com interesses pessoais ou profissionais na cultura e no património histórico e arquitetónico de Pinhel. Estão presentes o Sr. Carlos Alberto Videira dos Santos, presidente da Casa do Povo; Fausto da Silva Varges, que trabalhou na casa do Povo, na Segurança Social; Maria Arlete Santos Milhano, participante e promotora do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Pinhel; Artur Augusto Pardalejo, engenheiro civil e natural de Pinhel; Laurindo Monteiro, arqueólogo e diretor do Museu de Pinhel; Armanda Vicente, trabalhadora no espaço Visit Pinhel; e duas trabalhadoras do Posto de Turismo, entre as quais Ana Pinto, que também é professora da Universidade Sénior.

Conversa mantida no salão da Casa do Povo, em outubro de 2023 com os investigadores Ivonne Herrera Pineda e Diego Inglez de Souza. Todas as pessoas deram contributos importantes, mas aqui ficam apenas alguns excertos.

Casa do povo

Fausto: Eu acho que a construção do arquiteto teve em vista três programas. A parte cultural, lá acima, a biblioteca e sala de estudo, jornais, a leitura de jornais. Aqui o salão, parte cultural e musical: bailes, televisão, fazíamos ali o presépio do Natal, muito visitado pelas pessoas depois que vinham de fora e tal. E depois a parte desportiva: os balneários, a pensar que podiam arranjar um grupo de rapazes para jogar a bola, para o ginásio, para o ping-pong. Tínhamos aqui também a mesma parte cultural e desportiva, não é? Portanto, os balneários já foram feitos com essa finalidade. O arquiteto já pensou nisso.

Fausto: A casa do povo funcionava lá em baixo [num outro edifício], onde agora é a barbearia por cima. Onde é a barbearia do António, por cima da funerária […] A direção de então teve logo a preocupação: “não, temos que arranjar uma sede, temos que arranjar uma sede”. E então a ideia continuou a avolumar-se a avolumar-se. E o presidente que lá estava, que era o senhor Manuel Seixas...E lá se fez o projeto.

Fez o arquiteto Madeira, um senhor que estava, que era presidente da Câmara também, depois. É que fez o projeto aqui deste edifício. Mas, claro, era preciso dinheiro, e a casa do povo não tinha fundos. Claro, havia o Fundo de Desemprego na altura, que subsidiava estas construções. E então, “vamos para a frente. O Fundo de Desemprego subsidia, pronto”. E começaram com as fundações. Lá, mas depois, paravam as fundações, e é preciso o dinheiro […] E foi andando, foi andando. E olha, e construiu-se este edifício. Este edifício grande, que em 1954 foi inaugurado. Inaugurado com pompa e circunstância.

Laurindo: a Casa do Povo como uma instituição formal, que tinha vários serviços, e os serviços funcionam em horários diferentes […] Portanto, são públicos diferentes, são períodos do dia diferentes, e, portanto, os protagonistas principais também são diferentes. É óbvio que temos de pensar também numa outra realidade, que é esta. Na década de 50, ainda hoje nós somos rurais, estamos no interior, o interior é aquele, mas na década de 50 era ruralidade pura.

- Fausto: A parte cultural depois veio ao de cima. E desportiva. Também organizámos um rancho folclórico, que aqui esta senhora [Arlete] muito contribuiu para ele. E muita gente. Eu ainda posso ver uma fotografia de um rancho. E é tanta gente em Pinhel para fazer um rancho.

- Arlete: 50 pais, 100 crianças.

- Fausto: Exato, exato. 100 pessoas. De forma que só com o subsídio do Estado, através do Fundo de Desemprego, foi possível concluir.

Laurindo: Até há bem pouco tempo, a cotização mensal que é devida à segurança social para promover a reforma, diziam que iam pagar a casa do povo. São coisas diferentes. É um contributo para a segurança social, mensal, e depois dizem: "Vou pagar a casa do povo".

Laurindo: Eu lembro-me perfeitamente disso, que aqui era um salão de baile, mais tarde estavam aqui duas ou três mesas de ping pong.

E via este espaço como algo diferente, até porque aqui à volta também não havia as construções, que há agora. Ela tinha um destaque urbano muito significativo, não só pela beleza arquitetónica que tem, pela monumentalidade que tem, mas aqui era um campo de futebol, e portanto, mesmo com a cerca do futebol, estava completamente evidenciado. E depois tudo isto era paisagem, tudo para ali era paisagem, eram vinhas e ela destacava-se aqui.

E depois disso, e aí numa vertente muito mais social, que era a casa do povo: a segurança social. Funcionava ali o gabinete do trabalho do senhor Fausto e, portanto, havia aqui uma associação entre casas do povo, evidentemente que estão associadas também a isso: à vertente assistencialista daquilo que é hoje a segurança social.

- Laurindo: [No início da expansão da televisão em Portugal], as pessoas, as famílias, juntávamos em casa umas das outras. E sobretudo os miúdos. E nomeadamente, já há muito tempo, quando chega a Portugal, as famosas telenovelas brasileiras. Então, aí é que era a concentração. Mas antes disso, as televisões e a Casa do Povo funcionavam quase como um cinema.

- Artur: Sim, estava a contar. Era precisamente essa que tenho, nos anos 60. Havia a televisão, principalmente nos domingos à tarde. Aqui, como dizia o Sr. Carlos, que eram as cadeirinhas aqui todas, havia o tal “contínuo”, como chamámos o “contínuo”, que era o Sr. Pires, que ralhava connosco, se não nos portássemos bem, e deixava-se dormir [risos]… E então dizia: "Opa!" O telejornal começava com, nos últimos 10 segundos, era um cronometro no relógio, que era "pi, pi, pi". Mas naquele dia dizia: "Quando era o pi, pi, pi, acordar-me para eu acertar o relógio" [risos].

- Fausto: Quer dizer, um ponto de referência das casas do povo era a assistência médica e os medicamentos, principalmente. O médico era o Dr. Seixas, já antes da casa do povo, prestava assistência aos menos endinheirados.

[…] Os trabalhadores pagavam uma cota mínima [Investigadora: obrigatória? – Obrigatória, sim]. Que eram os chamados sócios efetivos, que tinham os benefícios da assistência médica e medicamentos.

Os outros contribuintes eram os proprietários rurais, com o rendimento coletável nas finanças superiores a X, que, obrigatoriamente, contribuíam para a casa do povo. Claro, a casa do povo tinha de arranjar um cobrador, emitir cotização, depois o cobrador ia para a casa das pessoas.

Claro, isso moveu muita gente contrariada ou pagada para a casa do povo. Muita gente contrariada. "Ah, mas para que é que eu pago para os outros?" e tal, e tal. – “Isso está na lei. Está na lei. Tem de ter para rendimento. Você também tem os prédios e não sei o quê”.

- Investigadora: E era muito esforço para as pessoas pagarem?

- Fausto: Na altura, qualquer coisinha pequena era um esforço. Vivia-se uma vida mais presa, não é?

- Fausto: No rés-do-chão, por a cave já, tem lá uns balneários. Os tais balneários. Um balneário, um chuveiro, e seis compartimentos para banho.

- Investigadora: E isso foi construído com a casa do povo, de raiz?

- Fausto: Sim, sim, na sala. Fazia parte do edifício. Fazia parte do edifício […] Esses balneários eram usados principalmente pelos esportistas. Porque havia aqui um campo de futebol ao lado. E os esportistas equipavam ali. E depois vinham da bola tomar um banho […]

Laurindo: Os balneários funcionavam como um espaço de abertura pública para as pessoas.

Artur interroga-se se a FNAT [Federação Nacional da Alegria no Trabalho] está relacionada com a parte desportiva da Casa do Povo outro. Fausto responde que não. Laurindo diz “as casas de povo surgem numa vertente mais assistencialista”.

- Investigadora: Por que é tão grande esta casa do povo?

- Artur: Há aqui uma construção a posteriori. Pois, se fez um acrescento, ultimamente, onde era a Segurança Social mais tarde. Nota-se bem o acrescento.

- Fausto: o arquiteto Madeira veio reivindicar que não podíamos mexer naquilo sem autorização dele, que ele é que era o autor.

- Investigadora: Mas a questão era a ampliação ou a entrada?

- Fausto: Ele ficou ofendido por termos feito aquilo [o acrescento].

- Fausto: Acho que a Casa do Povo foi um polo de modernização da vida desta cidade. Tudo o que vinha de novo, moderno, era a Casa do Povo que pertencia.

- Fausto: Concordo que as duas cidades do distrito da Guarda teriam de ter cada uma a sua grandeza.

- Laurindo: Exatamente

- Fausto: O arquiteto Madeira... ele disse: "fazer a casa do povo". O que é que ele disse? "Fazer um palácio". Foi, fez aqui o palácio.

- Laurindo: E o conservadorismo está...

- Fausto: O arquiteto... A construção exterior é apalaçada, esta entrada...

- Investigador: vocês estão a falar do conservadorismo e da modernidade. Parece haver uma contradição nisso…

- Laurindo: se nós olharmos do ponto de vista filosófico, o conservadorismo... Vamos olhar e falar do Estado Novo. O conservadorismo também se reflete na megalomania das obras. Quer dizer, a alta de Coimbra.... Olhamos para aqui, na altura que foi construída... aquilo era uma coisa faraónica […] Não há aqui uma contradição.

Laurindo salienta que antes de existir a Casa do Povo funcionavam os clubes. O clube [Pinhelense] funcionava como um ponto de encontro de uma elite económica, como espaço de apresentação à sociedade na elite económica, que vem naquela tradição do século XVIII e XIX:

“O clube é de 1882. Portanto, estamos a falar de uma situação em que já era uma cidade. E havia a necessidade de fazer essa afirmação […] as famílias começaram a mostrar pela construção, pela monumentalidade, a importância”.

Mercado Municipal

- Artur: O mercado, que agora querem deitar abaixo, também é uma coisa megalómana. Para a cidade, não é? O projeto também é dele […] Ele tem… pensava em grande! [o mesmo arquiteto da Casa do Povo].

- Laurindo: Ele [ao falar do arquiteto] tem... tem um traço... É inovador para a altura.

- Artur: Sim, para a altura era.

- Laurindo: Para a altura era inovador. Mas, como dizia o Sr. Artur, era algo... esta casa [casa do povo], para a década de 50... Isto era um palácio! Total.

Bairro da Casa do Povo

A partir desta conversa, sabemos que o bairro se refere a 6 casas construídas perto do parque atual. Mas, por outro lado, as casas perto do edifício da Casa do Povo também são conhecidas como o bairro da Casa do Povo.

A recolha e incorporação dos testemunhos orais foi elaborada por Ivonne Herrera Pineda, com base num encontro público e coletivo (2023).

Para citar este trabajo:

Arquitectura Aqui (2024) Testemunhos no evento “Memórias da Casa do Povo de Pinhel” . Accedido en 21/11/2024, en https://arquitecturaaqui.eu/es/documentacion/notas-de-observacion-o-conversacion/35847/testemunhos-no-evento-memorias-da-casa-do-povo-de-pinhel

Este trabajo ha sido financiado por European Research Council (ERC) – European Union’s Horizon 2020 Research and Innovation Programme (Grant Agreement 949686 – ReARQ.IB) y por fondos nacionales portugueses por intermedio de FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., en el contexto del proyecto ArchNeed – The Architecture of Need: Community Facilities in Portugal 1945-1985 (PTDC/ART-DAQ/6510/2020).