Residência Calouste Gulbenkian, BragançaResidência para Estudantes do Liceu, Bragança
A história da Residência de Estudantes Calouste Gulbenkian, em Bragança, começa em janeiro de 1965, quando o Diretor-Geral do Ensino Liceal entregou à Fundação Calouste Gulbenkian uma exposição sobre as condições de instalação, alimentação e vestuário dos alunos que frequentavam o Liceu de Castelo Branco, solicitando o interesse da Fundação para este problema. Pouco tempo depois, o mesmo Diretor-Geral apresentou uma proposta para a construção de residências para estudantes dos liceus de Bragança, Guarda e Castelo Branco onde se definia que estas seriam destinadas “a estudantes de um sexo, de acordo com as necessidades da população escolar de cada localidade”, que os quartos deveriam albergar, no máximo, três estudantes e que as residências deveriam incluir um “oratório ou uma pequena capela, sala de jantar e bufete, sala de estar, pequena sala de jogos, pequeno posto de enfermagem, duas salas de estudo comuns, gabinete para o Director e a Secretária, e instalações para o pessoal menor, cozinha e lavandaria”.
Em junho do mesmo ano, a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu dedicar 9.000.000$00 para a construção destas três residências e, um ano após a primeira exposição, o decreto-lei n.º 46834, de 11 de janeiro de 1966, promulgou os requisitos a que deveriam obedecer os alojamentos destinados a estudantes. Em fevereiro de 1967, o decreto-lei 47554 definiria a forma legal da construção de residências destinadas a estudantes do ensino secundário, financiadas pela Fundação de Calouste Gulbenkian.
A Residência de Estudantes de Bragança foi a primeira a avançar. Em março de 1966, já tinha sido selecionado um terreno para a construção do edifício que, pertencendo à Câmara Municipal, seria doado a favor do Estado e, em finais de outubro do mesmo ano, a Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais solicitou à Fundação Calouste Gulbenkian a elaboração dos projetos de execução das três residências.
O projeto de arquitetura, datado de junho de 1967 e assinado pelos arquitetos da Fundação, Jorge Fernando Sotto-Mayor d’Almeida e Manuel Roquette de Mello Campello, recebeu uma apreciação francamente favorável da Comissão de Revisão da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, onde se lê:
“Este projecto, tal como um outro elaborado para Castelo Branco e com o mesmo fim, está desenvolvido de modo invulgar, que muito apraz registar. Embora a sua realização tenha sido levada a cabo por uma entidade possuidora de extraordinários meios de acção, a verdade manda pôr, também, em destaque a equipa de técnicos valiosos cujos méritos e conhecimentos permitiram a execução de um estudo tão completo como o trabalho em apreciação”.
Em 1968, por dificuldades na adjudicação das empreitadas de Bragança e Castelo Branco, a Fundação Calouste Gulbenkian reforçou a sua contribuição com a doação de mais 959.725$20.
Um ano e maio mais tarde, a 6 de novembro de 1969, a Residência para Estudantes do Liceu de Bragança foi inaugurada.
De acordo com a brochura produzida pelo Ministério das Obras Públicas sobre o edifício, em 1969, este teve o custo total de 12.462.832$10, com um subsídio total de 6.644.394$80 da Fundação Calouste Gulbenkian.
Notas
A Residência de Estudantes de Bragança foi implantada numa zona então ainda pouco urbanizada, para onde o recente Plano de Urbanização da cidade programava a construção de um conjunto de grandes equipamentos coletivos. Tal é refletido no parecer da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, emitido em 1967, sobre a escolha do terreno, onde se lê que se trata “de um local de nova urbanização, bastante próximo do Liceu e sensivelmente equidistante deste e da nova zona de desportos da cidade. A proximidade do Hospital aliada à presença dos edifícios mencionados emprestarão ao local um aspecto de progresso que francamente se começa a evidenciar naquela cidade”.
O programa da residência organiza-se em dois corpos principais de 3 e 4 pisos, perpendiculares, onde se situam os quartos e serviços gerais da residência. Num volume térreo, organizam-se a entrada e as salas de estar e de refeições.
Uma memória descritiva de 27 páginas, de 1967, explica as opções do projeto com foco nas relações sociais que este deveria proporcionar. Lê-se, na sua introdução:
“A valorização destes estudantes, como é óbvio, não pode ser somente com a garantia de alojamento em melhores condições higiénicas e morais; mas tem de considerar-se igualmente necessária a elevação do nível de vida social, através do convívio disciplinado e do estudo acompanhado pelos professores e colegas mais velhos.
O desenvolvimento intelectual dos estudantes, do mesmo modo, não pode conseguir-se somente com a frequência das aulas no liceu e o estudo orientado nas residências, tendo que existir um motivo de interesse - de caráter recreativo - que pode pressupor-se como clube desportivo, musical e literário, etc., onde os estudantes mais habilitados possam exercer uma actividade directiva, executiva, etc.
Assim, a orgânica das residências tem de desenvolver-se integralmente, isto é, têm de garantir-se as funções da vida social, complementares das de alojamento.”
De acordo com estas ideias, o projeto previa espaços multifuncionais, que fomentassem a vida social. Um dos exemplos elaborados na memória descritiva é o espaço do refeitório que, por se dividir em dois espaços distintos (um destinado aos estudantes e outro aos professores), se poderia transformar em sala de festas e espetáculos, com a zona dos professores a funcionar como palco.
A residência poderia alojar um total de 62 estudantes, 4 professores e um guarda permanente com a sua família. No desenho e organização dos quartos, revela-se uma hierarquia de posições, por exemplo, entre a maioria de estudantes e os “alunos chefes de grupo - alunos mais adiantados do liceu, que tem como missão elevar o nível social e disciplinar dos mais novos”.
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Ubicación
Estado y Utilización
Documentación
A informação constante desta página é fruto do trabalho de Catarina Ruivo e Ivonne Herrera, realizado ao longo de 2023, e foi reunida através de fontes documentais e bibliográficas. Conta ainda com o precioso contributo de participantes do encontro encontro realizado em Bragança em 14 de julho de 2023, em conjunto com o núcleo Ciência Viva da cidade, sobre “ A Cidadania Científica, os seus Edifícios Públicos e a sua História”.
Para citar este trabajo:
Arquitectura Aqui (2024) Residência Calouste Gulbenkian, Bragança. Accedido en 21/11/2024, en https://arquitecturaaqui.eu/es/edificios-y-conjuntos/1863/residencia-calouste-gulbenkian-braganca