O edifício da Casa do Povo de Afife, que hoje funciona como Extensão de Saúde do Centro de Saúde de Viana do Castelo, foi inaugurado em maio de 1968. Não se encontrou documentação relativa ao processo da sua construção, mas entende-se que este terá sido célere, já que, apenas cinco anos antes, a Inspeção dos Organismos Corporativos considerava a suspensão de uma Casa do Povo com pouca atividade e sem sede própria.

A Casa do Povo de Afife foi constituída em 1939. Em 1945, foi alvo de um inquérito para averiguar relatos de irregularidades pela sua direção. Se estas foram desvalorizadas pelo subinspetor dos Organismos Corporativos que as investigou, foi logo nessa altura identificado um conjunto de problemas que interferiam com a atividade da Casa do Povo. Considerava-se que a divisão da propriedade agrícola em pequenas parcelas e a pouca extensão da área da freguesia tinham consequências graves na capacidade financeira da entidade e, portanto, na sua capacidade de atuar de forma consequente. Referia-se também a instalação da sede no edifício do Teatro Afifense que, embora oferecesse condições razoáveis, era propriedade de uma entidade sem existência legal e, de acordo com um testemunho local, inimiga do regime político do Estado Novo. Finalmente, chamava-se também a atenção para a existência de uma “coletividade impropriamente designada ‘Casino Afifense’, onde por vezes se organizam festas de carácter folclórico e donde parte uma certa má vontade contra a Casa do Povo, pelo receio que existe de que esta venha a provocar o seu encerramento”. Sugeria-se então a integração do Casino Afifense na Casa do povo, através da constituição de um Centro de Alegria no Trabalho.

Em 1953, aquando de outra inspeção à Casa do Povo, os problemas anteriormente identificados persistiam. O relatório revelava uma ação parca e uma sede inadequada. Sugeria-se a fusão do Casino Afifense com a Casa do Povo, para instalação da sua sede, “embora haja a vencer algumas resistências, pois se trata de uma sociedade recreativa antiga e de enraizadas tradições na terra”.

Uma década mais tarde, a Inspeção dos Organismos Corporativos considerava que a situação se tinha deteriorado. Um relatório de outubro de 1963 indicava que os corpos gerentes eleitos para o triénio de 1963-1965 não podiam ser sancionados, de acordo com o exposto num ofício confidencial, onde se referiria uma “falta de idoneidade política daqueles, resistência e passividade quanto à revisão do acordo de classificação dos sócios contribuintes e de fixação de quotas e recusa obstinada em dispensar o clínico que presta serviços ao organismo, a título provisório”. Indicava-se então a necessidade de ou nomear uma Comissão Administrativa ou suspender a atividade da Casa do Povo, sendo a última opção favorecida pelo subinspetor. Entre as razões apontadas para justificar a suspensão, este referia que uma nova Comissão teria de mudar de sede - ainda então instalada no Teatro Afifense - pois seria “natural que os antigos dirigentes, influentes na Junta de Freguesia, não consintam que a Casa do Povo continue a ocupar o edifício daquela Junta”. O relatório terminava com a indicação de que “o prestígio da organização corporativa está seriamente ameaçado com o que se passa na Casa do Povo de Afife”.

Em maio de 1968, a RTP emitiu uma gravação da inauguração oficial da sede da Casa do Povo de Afife, realizada no dia 18 do mesmo mês. Embora não se tenha encontrado documentação que o comprove, imagina-se que se tenha optado pela constituição de uma nova Comissão Administrativa com construção de um edifício de raiz.