Testemunhos do Colóquio "Habitação, Assistência e Ensino Primário na Covilhã"
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Colóquio "Habitação, Assistência e Ensino Primário na Covilhã", realizado na Biblioteca Municipal de Covilhã em setembro de 2023. Este evento foi possível graças à colaboração entre a Biblioteca Municipal de Covilhã, o Arquivo Municipal de Covilhã, a Casa da Misericórdia de Covilhã e a iniciativa Arquitectura Aqui.
Agradecemos a colaboração de todos os palestrantes e moderadores: Victor Cavaleiro, Isabel Fael, Miguel Santiago, Francisco Geraldes, António Rodrigues Assunção, José Manuel Espírito Santo, António Neto Freire e Liliana Gouveia e Ana Luís Bogalheiro. Um agradecimento especial as pessoas que tornaram possível a sua realização: os profissionais da biblioteca, Cristina Caetano e Ruben Matos, e os profissionais do Arquivo Municipal de Covilhã, Manoel e Alexandra Santos.
Na entrada da biblioteca foram expostas fotografias antigas dos edifícios da Casa da Misericórdia, e parte do projeto de ampliação da Santa Casa da Misericórdia, e também da Cozinha Económica da Casa de São Vicente.
Habitação e assistência social
José Manuel Espírito Santo
O que é que é um bairro operário? O que é que são estas casas feitas para os trabalhadores? Exemplos em Covilhã são a Biquinha, os Penedos Altos, o bairro da Alegria.
Os trabalhadores ficavam nas zonas periurbanas, não tinham bairros em banda. O único bairro em banda parece ser o bairro da Alegria.
As pessoas arranjavam casas que não tinham grande qualidade [zona da rua de Santo António].
Nestas zonas periurbanas dava-se um intercâmbio de culturas devido aos movimentos migratórios à cidade, para as indústrias. Estas zonas residenciais se caracterizavam por manter alguma ligação rural dentro da cidade.
Tradicionalmente eram consideradas como zonas problemáticas: desvios comportamentais, especialmente certa criminalidade e delinquência. Mas é preciso conhecer as condições de habitação em que moravam estas pessoas para compreender como era a vida quotidiana. Numa noticia diziam que no bairro da Alegria as casas tinham 25 metros quadrados e numa casa que um individuo conhecia, vivia uma família com 11 filhos.
As pessoas resolviam os problemas de habitação que tinham (por exemplo, o conforto, higiene, entretenimento) a traves da sua participação em associações operárias, que vinham compensar as falhas que existiam nas habitações. É uma altura em que os operários estão à procura de melhores condições, não só na fábrica, mas também em todas as áreas da sua vida.
O grupo de educação e recreio Campos Melo foi criado em 1941. Esta coletividade foi muito importante. O grande período de criação de coletividades foi a década dos 50 e 60:
Leões da Floresta em 1954
Oriental de Sabadinho em 1954
Académico de Menezes Alto em 1954
Recreio Antigo Refúgio em 1961
Desportivo da Mata em 1962
Águias do Canhão em 1962
Vitória de Santo António em 1963
Estrela da Pousadinha em 1977
António Rodrigues de Assunção
Fala do movimento operário na Covilhã, das lutas operárias e também de uma história marcada por condições laborais extremamente difíceis.
Os operários trabalhavam longas horas em condições muito precárias.
Covilhã enfrentou um declínio industrial significativo a partir de 1970, levando ao abandono de muitas fábricas e à reconversão urbana.
Miguel Santiago
Salienta a dificuldade de encontrar datas exatas para o início e o fim da construção dos bairros operários, porque as investigações publicadas fornecem datas diferentes (quando o bairro é habitado, o final da obra, inauguração, etc.).
Como professor de desenho urbano, ele e os seus alunos olham com atenção a relação que há entre o interior e o exterior de todos os edifícios. A habitação precisa de outros equipamentos para além da casa, como zonas verdes.
Bairro da alegria
O início da obra é do ano 1938, e o final da obra é no ano 1948.
É o primeiro bairro da Covilhã. Tem 46 habitações e era um bairro de um piso. As plantas eram em banda. Tem algumas fotografias que mostram o ambiente construído com este género de pérgolas.
Bairro do Rodrigo
É do final dos anos 40. Tem uma igreja e uma escola.
Bairro dos Penedos Altos
Tem três datas porque são três fases de construção. Há habitações de um piso, há dois pisos, há três pisos. Acaba no final dos anos quarenta.
Bairro da Biquinha
Tem habitações de dois e três pisos. A construção começa nos anos 60 e acaba quase nos anos 70.
Bairro Primeiro de Maio
São apenas dez habitações, este é um, é muito semelhante ao bairro da Biquinha. São umas habitações mínimas, e a rua ao meio. Tipologia de estética muito básica: a porta e a janela.
Por último, apresenta alguns exemplos de bairros dos anos 2000, que são bairros em banda, mais altos e não têm o ar característico e pitoresco que os outros tinham.
Salienta que a habitação social tem um objetivo, e um princípio que é básico, que é da dignidade humana. Segundo a Constituição o direito à habitação significa que estas sejam acessíveis e dignas, especialmente para as classes mais baixas. Por tanto, ao pensar em habitação operária é importante também reparar na questão dos espaços públicos, do experienciar a vida do bairro, nos vínculos de vizinhança.
Francisco Geraldes
Bairro da Biquinha
O Francisco Geraldes diz que ele desenhou, e um outro arquiteto [não temos identificado] projetou o bairro da Biquinha.
Os projetos do bairro da Biquinha foram feitos em 1963.
Era um bairro de banda contínua.
Cada operário, cada pessoa, pagava uma determinada renda durante 25 anos.
Habitação operária e Ensino Primário
António Pinto Pires
Estudou na Escola Industrial e Comercial Campos Melo. Numa altura havia mais alunos no turno da noite que durante o dia, porque eles tinham de trabalhar.
Fala da Associação de Socorros Mútuos, a “mutualista covilhanense”. Surgiu com o propósito de apoiar os trabalhadores têxteis em condições precárias, oferecendo cuidados médicos e de enfermagem.
Originalmente denominada "Associação de Socorros Mútuos Operária Covilhanense", resultou da fusão de duas associações similares em 1930.
José Manuel Duarte
Fala da cultura operária dos anos 60 nos bairros operários, que se desenvolvia a traves de coletividades que promoviam a formação sindical, cultural, cívica e política dos trabalhadores.
Esta cultura operária nos anos 60 se desenvolve com muita ligação ao movimento de trabalhadores cristão. Depois em 1974 se transforma num movimento já autónomo dos grupos cristãos.
Fala da sua história de vida e da sua educação autodidata: "nas nossas casas não havia livros" mas ele dedicava-se à leitura enquanto cuidava das ovelhas.
No Centro de Cultura Operária se desenvolvia um trabalho de alfabetização dos trabalhadores nas periferias de cidades de Portugal. A traves de essas associações e coletividades os trabalhadores podiam estender a sua formação para além da quarta classe.
A recolha e incorporação destes testemunhos orais foram elaboradas por Ivonne Herrera Pineda, com base no colóquio sobre habitação operária, realizado como parte das Jornadas Europeias do Património da Covilhã, em setembro de 2023.
Para citar este trabalho:
Arquitectura Aqui (2024) Testemunhos do Colóquio "Habitação, Assistência e Ensino Primário na Covilhã". Acedido em 24/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/notas-de-observacao-ou-conversacao/35853/testemunhos-do-coloquio-habitacao-assistencia-e-ensino-primario-na-covilha