O concelho da Murtosa é um concelho de baixa dimensão, situado no distrito de Aveiro, a litoral das principais estradas que atravessam o país de norte a sul e, por isso, de acesso dificultado relativamente aos outros concelhos do distrito.

O seu território compreende quatro freguesias: Monte, Bunheiro e Murtosa, para o interior da ria; Torreira, entre a ria e o oceano. O interior do concelho caracteriza-se por uma urbanização dispersa com um povoamento linear que se estende ao longo das vias de acesso e se vai tornando menos intenso com o aproximar da ria. Aí, a urbanização intensa é substituída por zonas agrícolas intensamente compartimentadas. As três freguesias do interior correspondem a três núcleos populacionais relativamente autónomos, em cada um dos quais se planeou, na década de 1960, a construção de “patronatos centralizadores de todas as actividades de carácter assistencial e social ligados à vida católica da vila” situados juntos das igrejas matrizes em Murtosa e Monte, e em terrenos doados pela paróquia em Pardelhas”. A freguesia da Murtosa aparece como o centro administrativo do concelho, tendo-se instalado nela um conjunto de equipamentos públicos, incluindo o antigo Hospital Sub-Regional, o Mercado Municipal e a agência da Caixa Geral de Depósitos.

No litoral do concelho, na freguesia da Torreira, estas articulam-se com pinhais que se estendem até às dunas. De acordo com um estudo realizado em 2004 na Universidade de Évora, persistiam, neste território, “exemplos notáveis de usos bem adaptados às condições naturais ou às que resultaram de alterações laborosa e equilibradamente desenvolvidas pelas comunidades humanas ao longo de centenas de anos”, nomeadamente, “os sistemas agrícolas desenvolvidos à beira de água (…), os pinhais fixando areias e protegendo as culturas agrícolas, a construção de salinas, as muito leves construções junto à praia para apoio à pesca”.

Historicamente, as principais atividades económicas da população do concelho foram a agricultura, a pesca, a apanha de moliço, o comércio e negócio do peixe, tendo ainda existindo uma importante indústria de conservas. Se, em 2021, o maior setor de atividade que mais empregava no concelho era o terciário, ainda parece existir uma parcela importante da população cuja economia familiar depende de atividades associadas à ria ou ao mar. Destas atividades são testemunhos vários dos conjuntos habitacionais do concelho, destacando-se, na Torreira, o Bairro de Casas para Pescadores e o Bairro Maria Augusta da Cruz Barbosa.

Entre 1950 e 1970, uma grande percentagem da população da Murtosa emigrou para os Estados Unidos, o Canadá e a Venezuela. Tal foi registado no anteplano de urbanização da vila, dos inícios da década de 1960, onde se indicava ser a emigração o fenómeno com maior peso na economia local. No mesmo documento, referia-se que a população feminina era predominante no concelho, por serem maioritariamente os homens que emigravam - algo também capturado no livro de Joaquim Lagoeiro, autor natural de Estarreja, Viúvas de Vivos:

"Flores ao soalheiro,

secas, sem dar fruto,

que até causa dor!

- Volta, jardineiro,

tira-nos o luto

da viuvez do amor.

Estiolam-se, inteiras,

vidas mal talhadas

por fados esquivos:

não somos solteiras,

nem somos casadas,

mas viúvas de vivos!" 

O ambiente construído da Murtosa é testemunho da forte emigração sentida no concelho. Para além das características casas de traços modernos e revestidas de azulejos de variados padrões, encontram-se também contributos dos emigrantes nas histórias de construção de equipamentos coletivos - nomeadamente no Quartel dos Bombeiros Voluntários da Murtosa - ou de habitação - tal como no Bairro de Casas do Património dos Pobres.