Testemunhos no Evento “Histórias dos Edifícios Públicos de Figueiró dos Vinhos (1939-1985)”
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Atividade de conversa grupal intitulada “Histórias dos edifícios públicos de Figueiró dos Vinhos (1939-1985)”. Conversa com os alunos da Universidade Sénior de Figueiró dos Vinhos, em outubro de 2023. Estão presentes os investigadores Ivonne Herrera Pineda e Diego Inglez de Souza.
Este evento foi possível graças à colaboração da Universidade Sénior de Figueiró dos Vinhos. Agradecemos especialmente a colaboração da Guida Trancoso, da Célia Lopes e da Sílvia e Sónia, da Biblioteca Municipal de Figueiró dos Vinhos pelo seu apoio para realizar esta atividade.
Filarmónica
Mostramos uma fotografia. Na fotografia de 1 de maio de 1974, em frente à filarmónica. Uma mulher diz que sempre houve bastante participação na filarmónica, iam muitas pessoas…
- Investigadora: Quando começou a ter mais sucesso? Em que altura? Sempre foi assim?
- Aluna Sénior: No início era, mas depois a coisa diminuiu, diminuiu.
Aluna Sénior: Portanto, estávamos a dizer que a atual filarmónica foi inaugurada ou no ano de 81 ou 82. Portanto, no fim daqueles festejos -devia ir aquela gente ligada ao Estado- houve o tradicional baile.
Tribunal
- Aluna Sénior: Onde está hoje o atual tribunal, funcionou lá os bombeiros, funcionaram lá. Funcionaram lá a filarmónica, as águas da Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos. Ou seja, tudo estava perto.
- Investigadora: E em que altura foram demolidos esses antigos edifícios para fazer o tribunal? Lembra mais ou menos? Anos 50?
- Aluna Sénior 1: Mais tarde. Antes do 25 de abril.
- Aluna Sénior 2: O tribunal estava cá. Eu vim para Portugal em 74. E lembro-me da inauguração do tribunal.
Bombeiros
- Investigadora: E estes edifícios que foram demolidos [para fazer o tribunal: os bombeiros, a filarmónica e as águas da Câmara], eram edifícios públicos todos?
- Aluna Sénior 1: Eu penso que era público.
- Aluna Sénior 2: Os bombeiros tinham sido feitos em parte com dinheiro da população. Porque a população é que tinha a sua escrita para fazerem o edifício dos bombeiros. O outro que foi demolido já era um edifício moderno em relação aos outros!
- Aluna Sénior 3: Mas era pequeno. O atual é muito maior.
- Investigadora: Ou seja, foi demolido por ser pequeno?
- Aluna Sénior 2: Sobretudo porque o projeto da casa do tribunal era para ser implantado ali. Pronto, era o sítio. Não foi pelo tamanho. E, entretanto, construíram o maior. [O quartel anterior] realmente era pequeno.
- Aluna Sénior: Eu participei no cortejo de oferendas para os bombeiros. Eu sei que era pequena e levavam qualquer coisa, as pessoas do campo davam o que tinham ou trigo, ou milho ou fruta ou batata.
- Investigadora: E em que altura era esse cortejo que estão a lembrar?
- Aluna Sénior: Antes de 54
Bombeiros e escola primária
- Aluna Sénior [Lourdes, professora da escola]: Porque foi um momento muito emocionante, não só para as crianças, como para os adultos. Porque o pai Natal apareceu, estava escondido numa árvore, e com um saco. Foi um momento único. Ninguém estava à espera. O pai Natal gordo, bem vestido. Foi um momento muito bonito, muito aliciante […] Sei que realmente eu fiquei assim, sem palavras […] Foi um momento grande, saímos todos para vir buscar.
- Aluna Sénior: Os bombeiros vieram com uma grua pôr uma mocinha, uma miúda [sobrinha de uma professora] vestida de pai Natal em cima da sobreira […] acho que foi o Natal 94 ou Natal 95. Porque depois os bombeiros foram embora. E entretanto vêm de lá de em cima da avenida, com o “Ti-nó-ni Ti-nó-ni” a fazer uma barulheira, uma coisa impressionante e nós saímos todos. Porque se calhar havia um fogo: os miúdos e os professores desta escola. E dali de cima, quando chegámos estava o pai Natal em cima da sobreira. Bem, foi o delírio. O que estava a contar. Foi o delírio para os miúdos. E até para mim. Então ele tinha os sacos com os presentes que distribuiu para os…
- Investigadora: E nunca antes se fez uma coisa assim em Natal? Era a primeira vez?
- Aluna Sénior: Foi a primeira vez
Câmara Municipal
Mostramos uma fotografia. Na fotografia de 1 de maio de 1974, em frente à Câmara Municipal.
- Aluna Sénior 1: Era pouca gente. Se nós compararmos, por exemplo, uma procissão, pois, em uma procissão haveria mais gente.
- Investigadora: Por aqui estão a dizer que em uma procissão haveria mais gente, que para a altura que era, havia pouca gente…
- Aluna Sénior 2: Quem está nesta manifestação são aquelas pessoas que podiam expor mais, e que politicamente já tinham dentro de si uma ideia de esquerda, pronto, vá. E que, portanto, foi as pessoas que iam lá mais.
- Aluna Sénior 3: As pessoas estavam reprimidas, eu acho que é isso.
- Aluna Sénior 4: Pois. As
pessoas aqui ainda estavam reprimidas.
Casa do Povo
Tinha várias funções: cultural e festiva, desportiva, atenção medica, segurança social.
Aluna Sénior: [Nos inícios dos anos 80] ao nível do resto do chão, tinha um grande salão. Tinha depois uma porta que tinha os serviços da segurança social. Depois, por baixo, já abaixo da terra, portanto no subterrâneo, tinha também mais gabinetes, tinha o gabinete do médico.
Uma participante lembra-se de ter tido ginástica na Casa do Povo, numa sala ampla, em torno dos anos 1982-1984.
Aluna Sénior [Teresa]: “Eu só vim para este edifício [edifício da Segurança Social] depois de 74 […] Eu estava num serviço que era o Serviço Social Corporativo e do Trabalho, que foi extinto com o 25 de Abril. E nessa altura todas as Centros Sociais que pertenciam a esse serviço passaram para os Centros Regionais de Segurança Social, distritais. Pronto. E depois é que me colocaram aqui... Antes de 74 eu não sei... Quero dizer, tenho uma ideia, porque era habitante cá desde 69. Mas como não frequentava [a Casa do Povo], não sei bem como é. Mas tinha essa ideia de que havia um médico. Mas depois disso, essa parte acabou. Portanto, ficou só o Serviço Administrativo. Os funcionários que antes, antigamente eram da Casa do Povo, passaram a ser funcionários também, como eu, mas de outros serviços, da Segurança Social, do Centro Regional de Segurança Social de Leiria”.
Aluna Sénior: “Antes da criação do Serviço Nacional de Saúde, a Casa do Povo, por exemplo, a nível da história que eu conheço da minha família, por exemplo, o pai da minha mãe não tinha direito a vir ali ao médico. Porque, entre aspas, era rico e podia pagar o médico privado. E desde que ali, na Casa do Povo, era para as famílias que tinham menos… posses.
Aluna Sénior: Em 61, ali na Casa do Povo, íamos lá ao doutor, ao médico. Ele ia dar consultas.
Aluno Sénior: A Casa do Povo é uma coisa que foi fundada por causa da agricultura. A caixa, agora é a Segurança Social. Na altura a gente associava-se à Casa do Povo. Tinha direito a médico. Tinha um cartãozinho da Casa do Povo. O que é agora a Segurança Social, para os agricultores era a Casa do Povo. Éramos associados à Casa do Povo.
Aluna Sénior: E ia-se lá ao doutor. E em 61.
Aluna Sénior: A Casa do Povo era também para os trabalhadores rurais.
- Aluna Sénior: O meu marido, portanto, quando era miúdo, ia com a mãe à Casa do Povo buscar leite. Leite para ele, porque era um bebezinho.
- Investigadora: E se dava leite a todas as crianças?
- Aluna Sénior: Realmente. Pronto, isso são coisas que o meu marido conta […] Ele é que se lembra. Leite para ele e com certeza para a irmã. Também têm pouca diferença de idade.
Aluna Sénior: E a minha mãe conta muitos, muitos bailes, quando eles eram novos. Portanto, a minha mãe tem 80 anos. A criação da Casa do Povo, eles contam muitos bailes, porque na altura não havia as distrações. E ali era um grande centro de lazer, vamos dizer.
Edifício da Segurança Social - sede da Universidade Sénior
A pré (pré-primária e até aos 3 anos) funcionou no rés-do-chão. E também a cantina. Vemos uma fotografia da cantina cedida pela biblioteca e analisam a imagem para concluir que deve ser de antes dos anos 80.
- Aluna Sénior: Portanto, eu estou aqui a partir de 1981. Eu comecei aqui e dei aqui aulas. Dei aulas neste espaço. E no espaço onde funciona neste momento a Segurança Social. E o meu filho também teve aqui aulas com a professora, a professora Laurinda. E era aqui que nós tínhamos também as reuniões, não é?
- Investigadora: E como era esta sala?
- Aluna Sénior: Então, era assim. Era uma sala que tinha um quadro feito de xisto. As carteiras eram feitas de xisto […] Daquelas inclinadas, de madeira, inclinadas. E eles tinham fogão. Tinha uma sala, um fogão. Lá está o fogão.
Os filhos brincavam lá fora. O recreio para as crianças brincarem era no exterior. Há muitos anos, portanto. Há 15 anos atrás, dei aulas, portanto, na atual sala, onde funciona a Segurança Social. E os miúdos, portanto, tinham o recreio, portanto, no exterior, lá fora.
- Guida: E aqui em baixo, era o quê? Era o refeitório? Como é que era?
- Aluna Sénior: funcionou a cantina. Funcionou a cantina. Funcionou o escritório. Funcionou os tempos livres, aquelas crianças que não tinham logo o transporte, lá ficavam, lá em baixo, portanto, orientadas por uma funcionária.
- Investigadora: Crianças de outras aldeias?
- Aluna Sénior: Sim, sim. Crianças de outras aldeias […] Tinham o transporte à espera, portanto, e quando chegasse aquela hora, as crianças -portanto, tinham o autocarro- e levava-os, portanto, ao salão.
Hospital
Aluna Sénior: Havia só o médico dentista. E era o SLAT, Serviço de Luta Antituberculosa, e os médicos de família.
Aluna Sénior: Quando o senhor entrava à porta, a Caixa de Previdência era logo à direita. E depois havia um corredor. Era, de um lado, a Secretaria do Hospital do Concelho, depois era o gabinete dos médicos, o fundo era do dentista, e para aí, na parte de cima havia os internamentos.
- Aluna Sénior 1: Como aquilo [o antigo hospital, gerido por ordenes religiosas] não tinha condições já nenhumas, então fizeram aquele ali, o hospital da Misericórdia, e a unidade de continuados. Um dos dois funciona a unidade de cuidados continuados. O meu marido foi operado nesse hospital, que um dos dois funciona a unidade de cuidados continuados, foi operado de amigdalites, ele tinha ele uns 7 ou 8 anos. Tinha muita cirurgia, tinham parteiras.
- Aluna Sénior 2: Também tinha dentista.
- Aluna Sénior 1: Figueiró foi uma grande terra. Foi uma grande terra. E ainda temos de dizer que ainda é, não é?
Aluna Sénior: Houve um cortejo de oferendas para angariar dinheiro para o hospital da Misericórdia. […] Sim, toda a gente oferecia qualquer coisa [milho, por exemplo].
Bairro e escola de Bouçã
Aluna Sénior [Lourdes]: “Eu vim para a escola de Bouçã, para lecionar nos anos 80. Pronto, e então, na altura, como sempre, o bairro de Bouçã era um bairro só para os trabalhadores. Para os trabalhadores, portanto, é assim. Geralmente os homens é que trabalhavam, as mulheres e os filhos, os filhos iam estudar e as senhoras ficavam, portanto, por ali assim, durante o dia.
Portanto, era gente muito privilegiada, porque eles tinham, portanto, carrinhas, por exemplo, para trazer os filhos. Já tinham feito a quarta classe, para virem aqui para o colégio. Tinham também carrinhas que permitiam às senhoras irem fazer compras, tinham já... piscina, o bairro tinha piscina, tinha campo de futebol, tinha tênis, portanto, ia lá, portanto, também tinha um médico.
Havia lá um consultório que ia ao doutor Frias, tinha também um enfermeiro, e lá na cima, na cima, lá estava a escola. A escola era muito acolhedora, pequenina, tinha pouca, portanto, não tinha muitos alunos. Mas é engraçado que a escola... A escola funcionava aos cinco dias. Quando era o sétimo dia, virava a igreja. O mesmo espaço é que virava a igreja […] lá punham aquelas cortinas, portanto, também cadeiras… e faziam-se ali, portanto, celebrava-se ali a missa. Cinco dias era a escola. Ao sétimo dia, é que virava a igreja”.
Escolas primárias do Plano dos Centenários
Aluna Sénior [antiga professora]: Eram todas no rés-de-chão. Tinham aquela porta de entrada com um alvo muito grande. Por trás, as casas de banho e as salas eram deste tamanho. Tinham a tal lareira, aqui era um fogão de salamandra de ferro. Mas as outras tinham uma lareira e nós, eu e os meus alunos íamos no verão ao pinhal a recolher lenha que queimávamos no inverno. Eram muito acolhedoras [o conforto térmico] dentro era bom.
Escola primária de Vale do Rio
Aluna Sénior: “Depois de ser inaugurada, houve um incêndio muito grande e queimou tudo. Esse incêndio é incrível, foi em 61, e em 64 foi inaugurada a nova aldeia, foi feita de novo. Só não ardeu a escola, e também não ardeu a capela”.
A recolha e incorporação dos testemunhos orais foi elaborada por Ivonne Herrera Pineda, com base num encontro público e coletivo (2023).
Para citar este trabajo:
Arquitectura Aqui (2024) Testemunhos no Evento “Histórias dos Edifícios Públicos de Figueiró dos Vinhos (1939-1985)”. Accedido en 21/11/2024, en https://arquitecturaaqui.eu/es/documentacion/notas-de-observacion-o-conversacion/35842/testemunhos-no-evento-historias-dos-edificios-publicos-de-figueiro-dos-vinhos-1939-1985