Bairro da Misericórdia, Campo MaiorBairro de Casas para Classes Pobres, Campo Maior
O Bairro Económico de Campo Maior surge por iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Campo Maior, com o objetivo de conceder melhores condições de habitabilidade aos trabalhadores e respetivas famílias – indo ao encontro da sua missão enquanto instituição privada de solidariedade social.
Tanto quanto a documentação recolhida e analisada permite compreender, o processo de construção do bairro iniciou-se antes de 1957, com a construção de 12 moradias respeitantes a uma 1.ª fase – concluídas nesse ano.
Seria em 1964, que a Santa Casa da Misericórdia de Campo Maior informaria acerca da pretensão de levar a cabo a 2.ª fase da obra, com a construção das restantes 12 moradias inicialmente previstas, comparticipadas pelo Estado – sendo que 6 dessas moradias, destinadas a casais inválidos, estavam já a ser construídas com financiamento do Ministério da Saúde e Assistência e do Provedor da própria Santa Casa da Misericórdia, e as restantes 6 se destinariam a famílias de trabalhadores rurais pobres. Com projeto idêntico às anteriormente construídas, as novas moradias contariam igualmente com a comparticipação da Fundação Calouste Gulbenkian, à qual a Santa Casa da Misericórdia viria novamente a solicitar apoio.
Assim, em março de 1965 é apresentado um estudo de urbanização do bairro, por parte da Direção-Geral dos Serviços de Urbanização e, meses mais tarde, a Santa Casa da Misericórdia dá conta da natureza diversa dos apoios financeiros que dispõe para a realização da obra – Fundação Calouste Gulbenkian (100.000$00), Sorteio da Casa do Benfica (100.000$00), Esposa do Provedor (80.000$00), Cortejo das Oferendas das Festas do Povo (100.000$00) e Ministério das Obras Públicas (120.000$00 assegurados em partes iguais pelo Fundo do Estado e pelo Fundo do Desemprego).
Em fevereiro de 1966 inicia-se então a construção da segunda fase do bairro. No decorrer da empreitada, várias foram as dificuldades, como a falta de mão de obra – atribuída aos trabalhos de construção da Barragem do Caia e que levou a diversas prorrogações do prazo – e uma querela com o proprietário de um terreno vizinho que impediu a construção de uma das moradias. Atendendo a este impedimento, a Santa Casa da Misericórdia de Campo Maior viria a construir uma moradia ligeiramente diferente das restantes, em local diferente do inicialmente previsto. Com exceção desta, os trabalhos do bairro viriam a ser concluídos em abril de 1968 e, em maio de 1968 a Fundação Calouste Gulbenkian apoiaria os trabalhos de arranjos urbanísticos e de jardinagem do bairro. A 28 de julho de 1968 as moradias da 1.ª e 2.ª fase seriam inauguradas (com exceção da referida moradia), por ocasião da inauguração da Avenida com o nome de Calouste Gulbenkian – em reconhecimento da ação filantrópica da fundação.
Apesar da construção da moradia substituta só ter sido aprovada em 1970, pelo Fundo de Fomento da Habitação – após intervenção do Arq. Rui Borges –, em setembro a obra é dada por concluída e é entregue à Santa Casa da Misericórdia. A Santa Casa da Misericórdia de Campo Maior manifestou ainda, em 1970, a intenção de alargar o bairro numa 3.ª fase, que parece não ter ido avante - pese embora no processo de construção do Jardim de Infância da Santa Casa da Misericórdia se indique, em 1973, que a verba destinada à construção desse equipamento fora aplicada na construção do Bairro dos Pobres.
Mais tarde, em 1979, a Santa Casa da Misericórdia levaria a cabo obras de conservação na cobertura de duas moradias do bairro e solicitaria o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian para essa intervenção. Em novembro de 1981, esse apoio seria concedido, após assistência técnica do Serviço de Projetos e Obras da Fundação Calouste Gulbenkian.
Atualmente [2024], o Bairro da Misericórdia de Campo Maior parece manter as suas funções e principais características urbanísticas e arquitetónicas, não sendo claro se a administração do bairro se mantém sob alçada da Santa Casa da Misericórdia.
Notas
Localizado na zona central da vila de Campo Maior, junto à Avenida Calouste Gulbenkian, o Bairro da Misericórdia insere-se na malha urbana, situando-se nas imediações da Escola Secundária de Campo Maior e da Creche "Cantinho dos Sonhos" e Jardim de Infância "O Despertar" - estes últimos tutelados igualmente pela Santa Casa da Misericórdia de Campo Maior.
Apesar do conjunto habitacional resultar de várias fases de construção, as moradias seguem o mesmo projeto-tipo de moradias geminadas em banda, agrupadas em blocos de 2 habitações.
A informação disponível não nos permite compreender o esquema funcional das moradias, pese embora saibamos que estas eram constituídas inicialmente por 3 quartos, sala-comum, cozinha e casa de banho.
O tratamento do alçado principal destaca-se pela entrada principal feita através de um pequeno vestíbulo com vão em arco, composto por grelhagens de elementos cerâmicos, e pela presença de uma floreira comum a cada bloco de 2 moradias. Já o alçado posterior parece apresentar, de acordo com o projeto, igualmente um pequeno vestíbulo de acesso ao logradouro no tardoz, com um tanque para lavagem de roupas. Em cada um destes alçados, 2 janelas pontuam as fachadas e garantem a iluminação e ventilação naturais - assegurando igualmente a simetria do conjunto.
Do conjunto do bairro destacam-se, além das moradias, o tratamento das zonas verdes e a existência de zonas de descanso e de estar no espaço público - marcadas pelos arranjos exteriores que lhe conferem um caráter quase rural, no contexto urbano em que se inserem.
Atualmente [2024], as suas funções parecem manter-se, apesar de algumas alterações ao nível da arquitetura, especialmente no que aos logradouros diz respeito.
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Ubicación
Estado y Utilización
A informação constante desta página foi redigida por Tiago Candeias, em abril de 2024, com base em diferentes fontes documentais e bibliográficas.
Para citar este trabajo:
Arquitectura Aqui (2024) Bairro da Misericórdia, Campo Maior. Accedido en 09/11/2024, en https://arquitecturaaqui.eu/es/edificios-y-conjuntos/13863/bairro-da-misericordia-campo-maior