Testemunhos no encontro “Edifícios Públicos e Comunidade”, Alijó
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Atividade pública intitulada “Arquitectura Aqui Edifícios Públicos e Comunidade”, desenvolvida no Mercado Municipal de Alijó em agosto de 2023. Atividade facilitada pelas investigadoras Ivonne Herrera Pineda e Catarina Ruivo.
Foram discutidos vários edifícios através de um mapa de Alijó. As seguintes pessoas estiveram presentes na atividade, na qualidade de participantes: Natalina Alves, Mafalda Mendes, Rosário Castro, Elsa Alves, Rui Freitas, Laura Monteiro. Agradecemos a colaboração da Câmara Municipal de Alijó, nomeadamente da vereadora Mafalda Mendes, e o apoio de todos os participantes, especialmente da Rosário Castro e da Elsa Alves. Seguem-se algumas das informações partilhadas durante este encontro.
Mercado
O mercado antes era um campo de futebol.
[Zona envolvente do edifício] Antes havia um jardim mais abaixo ao lado da igreja, que era muito diferente ao atual. O jardim era profundo e de terra batida, e tinha uma entrada em pedra. Era um lugar agradável. A capela exigia subir escadas para chegar até ela.
Antigamente, os comerciantes partilhavam momentos de lazer, partilhando comida ou passando tempo juntos nos bancos do mercado. Isso foi sobretudo há cerca de 20-30 anos atrás. A Rosário resume isso ao dizer “Eram mais unidos”.
Recordam como os negócios foram mudando ao longo do tempo e dos diferentes proprietários.
Há cerca de 8 anos, ainda se faz uma sardinhada. As relações atualmente são mais impessoais e esses encontros já não acontecem. A Elsa diz [aquelas relações]: “não tem nada a ver com o mercado, com o mercado agora”. No entanto, a amizade entre algumas pessoas permanece.
Natalina: Os meninos da escola em frente ao mercado saíam no recreio e iam ao mercado comprar doces. “Na altura ainda nos deixavam sair da escola para ir comprar gomas”.
A área da fonte parece bonita para eles, mas nunca foi usada; não há atividade naquela área.
As vezes (Natal, nas feiras) as crianças que eram filhos dos comerciantes também ajudavam na venda. É o caso das filhas da Elsa e os filhos da Rosário. Passavam algum tempo por lá de vez em quando, mas a Natalina não se lembra de brincar ali porque os chefes não gostavam de ver crianças nos estabelecimentos.
Rosário: Os clientes mais assíduos são aqueles que hoje já são idosos e estão falecendo.
Rosário e Elsa: Acham bem a heterogeneidade do mercado, com lojas diferentes, pois traz movimento ao mercado.
Quartel dos Bombeiros
A zona da avenida eram cultivos de vinhas. Quando foi construído o quartel dos bombeiros já existia esta avenida.
Várias pessoas lembram-se de ter visto o filme Titanic no cinema dos bombeiros.
Mafalda: Também se realizaram desfiles de moda.
Natalina: Havia ensaios de fanfarra, mas era concentração da fanfarra.
Laura: No antigo quartel dos bombeiros também havia cinema e bailes aos domingos.
Natalina: os bombeiros fazem a deslocação das urgências. No dia a dia as pessoas têm consultas, mas aquelas que não têm disponibilidade econômica, não têm transporte ou tem mobilidade reduzida, fazem a deslocação através dos bombeiros.
Agrupamento de Escolas D. Sancho II
- Mafalda: Lembro-me de ser separadas as escolas.
- Rosário: Sim, femininos e masculinos.
- Laura: No liceu eram [separados] para rapazes e raparigas.
- Mafalda: eu falo de uma divisão mais à frente. Só que agora está tudo aberto, ou seja, o agrupamento vai desde lá em cima até cá, sem barreiras. No primeiro havia uma divisão…
- Natalina: No primeiro edifício, no piso de cima, era o liceu. Depois no meio havia um gradeamento que separava o quinto e nono ano, que andavam ali. E o décimo e décimo segundo andavam na escola de baixo.
Adega Cooperativa
Rui: lembra de jovens ir ao pavilhão a fumar, tal vez porque estavam mais escondidos lá.
Hospital da Maternidade
Natalina: “eu nasci aí!”. O hospital deixou de ser maternidade em torno de 1976. Depois continuou a funcionar como hospital até 2007 aproximadamente, que fechou.
Os filhos da Laura e da Rosário nasceram lá.
Laura: Antes de existir este hospital da Maternidade, havia uma parteira que ia assistir aos partos que já era conhecida e era chamada para ir a casa. Primeiro o hospital era de freiras. As freiras ensinavam-nos a bordar
Ela recorda que as freiras ensinavam as mulheres a bordar. Ela e outras jovens costumavam bordar lençóis para as famílias pobres, especialmente para os bebés recém-nascidos.
Lamentam que, atualmente, tenham de percorrer quilómetros para obter cuidados de urgência:
- Laura: Faziam lá operações, operações lá!
- Rui: “Tinha mais serviços que tem agora o centro de saúde”.
- Laura: Agora não temos nada! Eu fui ali [centro saúde?] e nem médico tínhamos! tive que ir de urgência para o hospital! Não havia medico que me atendesse! Senti uma grande diferença quando fechou o hospital em termos de cuidados de saúde, temos que andar 50 km, que não temos aí um médico, não há médico.
Escola primária de Granja – Associação Cultural O Plátano de Alijó
Elsa: “A escola primária da Granja neste momento está lá a Associação do Rancho Folclórico” - há 10 anos.
“Se nós não estivéssemos lá já tinha caído […] Há muitas escolas que estão abandonadas e está tudo a cair. E ali não.” - quem faz a manutenção é a associação.
Mafalda: Estudou também nesta escola na 1ª classe. O seu primeiro ano foi dividido com outra classe (acha que com o terceiro ano) porque só havia duas salas. A professora dava aulas a duas turmas diferentes ao mesmo tempo. Brincavam no pátio durante os intervalos. No 2º ano foi para a escola de Alijó.
Agora é Associação Cultural O Plátano de Alijó. O rancho está aí.
A Associação Plátano não sofreu grandes transformações quando passou de escola para associação. Elsa: “Nós só pintamos, mudamos cores, tem uns quadros nas paredes, tem aquele estradozinho para os meninos chegarem ao quadro, tem lá os fogões que ainda tinha no tempo deles, o soalho”.
Escola pré-primária de Granja
Elsa e Mafalda: A comissão de festas é na pré-primária.
Mafalda: “Eu andei nessa pré, nessa pré-escola […] eu tinha 4 ou 5 anos” [com esse dado, a escola terá fechado há 30 anos mais ou menos].
Mafalda: “E depois houve uma altura, isto foi, eu até gostaria de dizer que isto foi a perder a inocência, que a escola era todo pequenino. E nós tínhamos aquelas casas de banho em que eram tudo miniaturas mesmo, dimensionadas para pequeninos, laboratórios pequeninos. E eu lembro-me que houve uma altura que vandalizaram essa escola. E eu ainda andava lá. Eu lembro-me do meu tio chegar a casa e contar à minha mãe que estava tudo partido. Que me contaram lá coisas, pronto. E eu com aquela idade de 5 anos só pensava - eu lembro-me disto - como é que é possível alguém querer destruir aquelas coisinhas tão pequeninas onde eu estava, o espaço, como é que era possível? E isso marcou-me muito”.
Rui estava a tirar a carta com o pai e apanhava a Mafalda para levar à escola
Mafalda conta que uma vez a tentaram pôr na creche de Alijó, mas que chorou dia e noite para o pai a ir buscar. “Porque era muito diferente, tinha muitas crianças. Foi um choque muito grande. Porque ali, na Granja, eu fazia - os meus avós iam-me levar à escola, éramos pouquinhos, podia falar com a professora, e não sei quê”.
Bairro de Casas Pré-fabricadas
Natalina e Rosário: As casas pertenciam à barragem.
Mafalda: Estas casas eram de propriedade da Câmara.
Bairro do Hospital
Mafalda: pertenciam à Santa Casa da Misericórdia.
Laura: era uma coisa mais moderna.
Caixa Geral de Depósitos
Laura: Uma antiga escola foi demolida para fazer a Caixa Geral de Depósitos. Era um edifício muito bonito.
A recolha e a sistematização deste testemunho oral foram elaboradas por Ivonne Herrera Pineda e Catarina Ruivo, com base num encontro coletivo realizado em agosto de 2023.
Para citar este trabalho:
Arquitectura Aqui (2024) Testemunhos no encontro “Edifícios Públicos e Comunidade”, Alijó. Acedido em 21/11/2024, em https://arquitecturaaqui.eu/documentacao/notas-de-observacao-ou-conversacao/35892/testemunhos-no-encontro-edificios-publicos-e-comunidade-alijo